Pós-operatório

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(S/N)

- Água, por favor. - Erick repete o que disse e eu coloco minha cabeça para dentro do quarto novamente, sem saber como reagir. Ele pede pela terceira vez e eu sacudo a cabeça, tentando acordar e dar-lhe a água.

Busco um copo com o líquido numa jarra que estava no criado mudo e aproximo-me dele, sem nem sequer tentar esconder meu sorriso. Meu coração bate forte e minha respiração está descontrolada, mas ao mesmo tempo estou aliviada. Ouço os passos apressados de Zabdiel, Daysi e Yanelis. Ambas as mulheres estão assustadas desde a ressuscitação de Erick há alguns minutos atrás e, por isso, os rostos ainda estão inchados e os olhos vermelhos de tanto chorar.

Enquanto eles entram animados, ansiosos e também aliviados no quarto, eu estou sentada na beira da cama, cujo encosto agora já está mais erguido para que Erick possa saciar a sede. Com cuidado, levo o copo até sua boca, que ainda está ressecada mas nem por isso deixa de ser tão atraente para mim. Com uma mão seguro o copo e levo a outra até seu queixo, evitando que derrame ou algo do tipo. Apesar de não ser o momento mais propício para tal sentimento, eu e Erick estamos conectados de uma maneira tão intensa, que sua família e amigo nos olham em silêncio, talvez até sentindo a atmosfera que nos ronda. É a famosa frase "parece que o mundo parou de girar".

Ergo, por um instante, o meu olhar que estava em sua boca para seus olhos verdes. Depois de passado tanto tempo somente os recordando, agora eu finalmente posso encarar o brilho das esmeraldas mais valiosas e belas que eu já vi. Erick sussurra com dificuldade um "obrigado" assim que afasto o copo de seus lábios e eu retribuo com um sorriso.

Levanto-me e me dou conta do que havia acabado de fazer: flertei com um paciente na frente do meu chefe e da família. Ótimo, (S/N), perfeito, agora suma daí!

- Desculpem. - Mordo minha língua e afasto-me da cama, sendo seguida pelo olhar de Brian que só terminava por me constranger ainda mais.

- Não, sem desculpas, o paciente lhe pediu algo e você o deu e fez um ótimo trabalho se dispondo a isso. - Dr. Zabdiel sorri para mim e ergue as sobrancelhas. - Agora explique para ele as dores, a sede, os medicamentos...

Ao dizer isso, Daysi e Yanelis correram até Erick para finalmente abraçá-lo. O tanto que elas sofreram não pode esperar mais nenhum pouco para ser recompensado com muito abraços e beijos. Thiago havia ficado com Chris desde o último ocorrido com o tio do garotinho.

- Certo, claro. - Limpo a garganta e ajeito a postura, ainda sendo acompanhada pelo par de olhos verdes. - Seu peito pode ficar dolorido, porque tivemos de fazer uma ressuscitação após uma parada cardíaca. Usamos o desfibrilador depois da massagem cardíaca e carregamos bastante, por isso o local do choque pode doer. A sede é comum no seu pós-operatório e não é recomendável que use o canudinho, então eu ou alguma outra pessoa pode te ajudar. - Ele assente enquanto procuro mais alguma informação. - Também vamos te dar anti-inflamatórios, analgésicos e vitaminas. Vamos fazer alguns exames regulares para acompanhar sua evolução. Aliás, são os remédios que vão te dar tanta sede, porque tem um que vai te fazer reter líquidos. - Entrelaço as mãos atrás do corpo e ele concorda com a cabeça.

  - Vamos deixá-los a sós para matar a saudade. - Zabdiel põe uma mão nas minhas costas e eu ponho os braços ao lado do corpo. Com um sorriso compreensivo em ambos os nossos rostos, ele me leva até a porta e então nós vamos assinar o prontuário.

  - Quer que eu evolua mais alguém? - Apoio um dos braços no balcão, observando sua rubrica surgir na folha branca cheia de letrinhas.

  - Não é necessário. - Sua expressão agora está séria, o que faz com que a minha também fique, porém de preocupação.

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