A equipe

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  — Não trago boas notícias.

Um grande e desconfortável silêncio pesa no ambiente e suspiros profundos o quebram em sequência. Zabdiel limpa a garganta e dá alguns passos a frente para se aproximar da cama. Maya transparece sua inquietação e agarra o lençol da cama com uma mão e, com a outra, aperta a de Richard, que a acompanha no olhar ansioso sobre o cirurgião do trauma.

— Quer que eu mesma leia? Me dá aqui. — Suas duas mãos se soltam e se estendem em direção ao médico, pedindo pela pasta que ele segura. Zabdiel não hesita e lhe entrega, jogando a cabeça para trás, mas a reerguendo de ímpeto e interrompendo a jovem antes que termine de falar. — Eu sou quase médica, não sou qualquer pacien—-

— Maya, você tem um tumor no cérebro. Eu sinto muito. - Soa imediato e inesperado, acompanhando um forte expiro, o qual faz seu corpo se encolher.

(S/N) sente uma pontada no peito e seus olhos arregalados buscam por Maya no mesmo instante. Os dela se enchem de água e seus braços trêmulos deixam os laudos caírem sobre suas coxas. Suas mãos vão direto para sua boca e abafam os soluços de seu choro, enquanto Richard, com os olhos brilhantes pelas lágrimas, se curva para apertá-la em um abraço.

Um abraço tem um poder surreal. Existe um aparelho feito de madeira, pelo qual passa o gado que vai para o abate, que simula a sensação de um abraço. Os batimentos cardíacos dos animais se tranquilizam ao passar por ali. Até mesmo os bovinos, seres que nós, humanos, cremos serem irracionais, percebem a situação de perigo à qual são expostos. O baque de caminhar para sua morte os aflige tanto quanto a qualquer outro ser vivo.
Além disso, há casos específicos de diferentes graus de autismo em que o indivíduo, exposto a uma situação estressante, se tranquiliza ao ser envolto num forte abraço. O sistema nervoso libera neurotransmissores e sinaliza o envio de hormônios tranquilizantes ao corpo. Assim, dentro de um dos incidentes desconfortáveis que marcam a sua vida, a pessoa encontra conforto e calma no meio do caos.

O caos. A vida. A vida em si já não é um caos? Sim, ela é. Porém, todos merecemos um abraço apertado para trazer a tranquilidade e acabar com nosso tormento interior. Não importa no que ou em quem seja, cada um sabe onde encontrar o seu ponto de paz e não só pode, como deve correr até ele quando se sentir perdido. Ninguém está totalmente sozinho aqui, porque ninguém sobrevive assim. Afinal, todos estamos igualmente caminhando assustados para o abatedouro. Sim, é neste caos que vivemos.

Finalmente uma ação: Dani, sentindo seu estômago embrulhar, sai correndo do quarto com uma mão na barriga e outra na boca. Todos os olhares a acompanham e logo escutam o som da mulher vomitando no corredor. Eloá lança um olhar aos demais antes de se retirar para ajudar a outra e a atenção retorna à Maya.

— Vamos conversar sobre os diferentes tratamentos que estão disponíveis e descobrir qual o melhor pra você. — Zabdiel inicia com um tom sério. — Sei que é uma péssima notícia, que ninguém esperava; nem mesmo eu... mas precisamos de força. Não quero acelerar o seu tempo nem te pressionar pra escolher logo, mas quero que saiba que quanto antes começarmos, melhor. - Suas mãos estão para trás de seu corpo, o qual se mantém ereto frente ao casal que ainda se abraça. Infeliz na obtenção de uma resposta ou somente uma frase que não fosse sua, o médico retoma: — Vou deixá-los a sós e, enquanto isso, vou pedir os documentos pra poder explicar cada método da melhor forma possível. Com licença. - E, com um aceno da cabeça, o doutor se retirou a passos lentos e com uma áurea pesada do quarto.

Ao passar da batente, ele se inclina para a esquerda, porém, ao se lembrar do ocorrido há poucos minutos, inverte sua rota e se desloca até o banheiro feminino, no final do corredor. No caminho, o medico pede a um funcionário da limpeza para remover o rastro deixado pela interna, da maneira mais educada e sutil que se possa imaginar. Chegando ao seu destino, Zabdiel pergunta de está tudo bem lá dentro, colocando apenas o rosto na porta e ouvindo sua voz ecoar no grande ambiente branco.

Mi Medicina •EB•Onde histórias criam vida. Descubra agora