CAPITULO V
Anastasia correu os olhos pelo grande e imponente aposento que lhe haviam destinado. A ampla cama de casal, as ricas cortinas de veludo, os altos espelhos, nos quais, pela primeira vez, podia-se ver da cabeça aos pés, tudo a impressionou, parecendo-lhe excessivo, e fez renascer seus receios.
Mas logo os afastou, pensando que não poderia haver qualquer inquietude quanto ao pequeno que seria confiado a seus cuidados. Mais tranquila, tirou os sapatos e mergulhou os pés na sedosa suavidade do tapete Aubusson, de ricos desenhos em forma de flores. Havia um tapete semelhante a esse em Sinclair House, no quarto que, agora lembrava-se, pertencia a Patrick,..
Suspirando, caminhou até a janela e descerrou as pesadas cortinas. Ao contemplar os verdes relvados banhados pela luz fria do luar, foi colhida pela mesma sensação de familiaridade que experimentara durante a viagem, enquanto o cupê rodava pela estrada real e via os campos revestidos de verde tenro e as fileiras de olmos à beira dos rios.
Aspirou a aragem pura que chegava dos bosques, e até esse ar pareceu-lhe docemente familiar. Tinha certeza. Sentia-o. Fora ali, naquela região, que passara sua primeira infância. Embora tivesse apenas sete anos quando deixara Kent, certos fatos haviam ficado gravados para sempre em sua memória.
Olhou para o sul e julgou vislumbrar as margens gentis do Medway River, que, Adams confirmara, haviam transposto ao tomar o caminho para as chapadas gredosas do sul da Inglaterra. Não muito longe dali, encontrava-se a pequena cidade de Tunbridge Wells, que visitara em companhia de Patrick e de seu pai. Em seus arredores, encontrava-se Knole, a casa de campo de amigos de sua família, ao passo que Penshurst Place, outra vasta propriedade de pessoas amigas, ficava em díreçào oposta.
"Que estranho voltar para cá depois de tantos anos!", refletiu. "É como se a vida fosse um círculo e eu estivesse voltando ao ponto de partida." Que outras surpresas esse novo giro lhe reservaria?
Afastou-se da janela e parou um instante diante do espelho, pensativa. Ficou imóvel, contemplando primeiro as imagens do quarto e depois o próprio reflexo.
Uma batida na porta tirou-a de sua contemplação. Enfiou rapidamente os sapatos e respondeu em francês, como lhe haviam ensinado em Hampton House:
— Entrez-
A porta abriu-se de par em par e no limiar apareceu o homem mais belo que encontrara em sua vida. Ele era alto e tinha os cabelos castanhos cortados a Titus, o estilo em voga naquela temporada. Seu traje consistia numa calça justa de montaria e um impecável casaco verde, que usava com graça natural, nada retirando ou acrescentando a sua discreta elegância.
Mas foi o rosto que mais atraiu sua atenção; a testa ampla franjada pelos anéis dos cabelos, o nariz clássico, a curva nitidamente esculpida do lábio superior e, sobretudo, a luminosidade dos olhos azul-turquesa, profundamente encravados sob sobrancelhas de linhas ousadas. Olhos que davam àquele rosto um caráter de nobreza e de beleza completa.
Ia analisá-lo, quando ele falou, e sua voz rica e profunda encheu o quarto:
- Mas é a própria Afrodite, a deusa da graça e do amor!
Ele fechou a porta enquanto falava, e essas duas açoes combinadas assustaram Anastasia. Afrodite? E a porta não deveria ficar aberta durante a entrevista? Umedecendo os lábios subitamente secos, ela balbuciou:- Sou... sou Anastasia Sinclair. Tenho muito prazer em conhecer Sua Graça.
Ele riu, divertido.
- O ducado ainda não me pertence, minha bela. Meu avô ainda vive.
— Seu... seu avô? Mas o senhor não é... quero dizer...
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Equívoco de Christian Grey
FanfictionRESUMO Um terrível equívoco rouba a inocência de uma jovem e compromete o coração de um famoso conquistador Amedrontada, Anastasia correu os olhos pelo imponente aposento que lhe haviam destinado. A ampla cama de casal, as ricas cortinas de veludo...