CAPÍTULO XXVI
Christian saiu de seu quarto levando um castiçal, atravessou o corredor e deteve-se junto à porta de Anastasia. Os últimos três dias haviam sido um inferno, e essa noite não prometia ser melhor.
Quando, levado pelo despeito, resolvera trazê-la de volta à sua casa, não tinha outra coisa em mente senão punir essa mulher, que ousara acreditar que podia escapar-lhe. Fora um ato de vingança, mas, agora que a mantinha em suas mãos, inteiramente a sua mercê, percebia que a vingança era uma faca de dois gumes, capaz de ferir também quem a empunhava. A princípio, pensara apenas em fazê-la sofrer durante algum tempo e então deixá-la ir, como ela queria, apagando-a para sempre de sua memória e de sua vida! Mas sua mente não lhe permitia fazer isso, nem seu corpo ansioso.
No entanto, ali estava lady Margaret, acenando com consequências escandalosas e instigando-o a pedir o divórcio. Porém romper os laços que eventualmente o ligassem a uma mulher que já não o interessava seria fácil. Quase impossível era separar-se de outra que havia despertado em seu coração uma impressão tão profunda!
Essa noite, desistira das rondas noturnas aos clubes e às mesas de jogo, distrações a que se entregava, invariavelmente, após a última sessão em Carlton House. Preferira um jantar leve, que consumira sozinho em seu quarto. A seguir, banhara-se e mudara de roupa. Depois, esperara que Híggins terminasse de preparar o banho de Anastasia, antes de vir até sua porta e ficar ali, esperando o momento de descerrar, num arranco, a última dobra da cortina!
Anastasia estava sentada diante da janela aberta de seu quarto, sentindo a doce carícia da brisa do anoitecer. Fora, o céu apresentava as primeiras estrelas, e a lua, meio velada pelos ramos das mimosas, lançava brilhos de prata sobre o jardim adormecido. Era a promessa de uma noite adorável!
O ruído da porta que se abria arrancou-a de seus devaneios e a fez voltar-se bruscamente. Era Christian. Informalmente vestido, com calça cinzenta e camisa branca aberta no peito, ele estava tão atraente que mal disfarçou sua admiração.
Ciente de que ela o examinava, Christian ficou um instante a contemplá-la. Sua juventude, sua beleza, seus olhos azuis de profundezas insondáveis, sua fraqueza impotente tocaram-lhe o coração.
Tentado pelo repentino desejo de toma-la nos braços, deu dois passos para a frente. Imediatamente, porém, percebeu que seria ir longe demais. Antes, precisavam conversar. Caso contrário, nunca chegariam a se entender...
— Parece que você se ajustou muito bem às novas circunstâncias — disse-lhe, com leve ironia.
—A minha prisão, é isso o que quer dizer?
Christian deu de ombros.
— Pois seja: a sua prisão!
— Mas você sabe que estou aqui contra minha vontade! Porque não me deixa ir embora?
Ele olhou-a fixamente, debatendo-se num conflito interior. Não poderia dar-se ao luxo de conceder uma única vantagem a essa mulher volúvel.
— Não vou permitir que saia daqui enquanto não me disser por que me abandonou! — disse com raiva, mesmo sabendo que esse era um objetivo demasiado limitado para justificar sua ansiedade.
Anastasia sentiu suas esperanças renascerem. Pela primeira vez ele se mostrava disposto a discutir o assunto com ela. Sabia que a amargura ainda estava ali, alimentando o ódio, mas não perdeu a coragem. Diria tudo, explicaria tudo.
Levantou-se e enfrentou-o.
— Concordo, Christian. Ambos temos direito a uma explicação.
— Muito bem. Vou começar perguntando a única coisa que realmente me importa saber. — Os olhos dele cintilaram, traduzindo ódio e sofrimento.— Por que fugiu de mim, Anastasia? O casamento a decepcionou a tal ponto que preferiu cortar bruscamente seus laços?
![](https://img.wattpad.com/cover/145289231-288-k787033.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Equívoco de Christian Grey
FanficRESUMO Um terrível equívoco rouba a inocência de uma jovem e compromete o coração de um famoso conquistador Amedrontada, Anastasia correu os olhos pelo imponente aposento que lhe haviam destinado. A ampla cama de casal, as ricas cortinas de veludo...