CAPÍTULO XVII

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CAPÍTULO XVII

- Estou bem, Nicolas — disse Anastasia, mas ainda ha­via lágrimas em seus olhos. — Não é a primeira vez que tenho de suportar o comportamento arbitrário de certas pessoas e...

— Arbitrário? — interrompeu o conde. — Positivamente rude e grosseiro! Todos os que estavam no jardim testemu­nharam isso!

Ela suspirou.

— Não estou em posição de fazer nada a esse respeito, Nicolas. Agradeço sua solicitude, mas preciso retornar ao trabalho.

Estavam numa pequena passagem, entre a cozinha e o cor­redor, e ela esperava, pacientemente, que o conde fosse se reunir aos outros convidados.

- Muito bem, princesa. Vou deixá-la em paz.

- Espero que me compreenda: tenho de cuidar dos prepa­rativos para o jantar. Faz parte de minhas obrigações, como o senhor sabe.

Nicolas sorriu, mais encantado do que nunca com a sin­ceridade de Anastasia, e aceitou suas palavras.

— Até mais tarde, minha querida — murmurou, beijando-lhe a mão.

Quando ele se afastou, Anastasia foi direto para o cómodo reservado ao mordomo, onde sabia que não encontraria nin­guém àquela hora. Precisava acalmar-se. Caso contrário, se­ria impossível agir com um mínimo de naturalidade diante dos criados.

Mas, ao abrir a porta, percebeu um movimento furtivo en­tre as sombras. Parada no limiar, perguntou:

— Quem está aí?

Houve um rumor de sedas e depois uma voz doce e trémula murmurou:

— Oh... parece que desta vez fui apanhada em flagrante.
Anastasia avançou e viu uma mulher pequena e de formas redondas, com um traje cinzento de outra época, sentada com melancólica placidez diante da lareira apagada.

— Desculpe se a assustei. Não era essa minha intenção.
A desconhecida mostrou um pratinho cheio de creme.

— Adoro isto. Mas eles não me deixam comê-lo em paz.
Ela olhou furtivamente para a porta e depois voltou-se pa­ra Anastasia.

— Você não dirá nada a ninguém, não é, querida?
AshSeigh quase sorriu.

— Naturalmente que não — disse, estendendo-lhe a mão, como para selar um pacto. — Sou Anastasia Sinclair, a pupila de Sua Graça.

— Sinclair... Ah, sim, David falou-me a seu respeito! — Súbito, os olhos redondos que a fitavam com serenidade co­meçaram a piscar nervosamente. — Oh, minha querida! Você deve afastar-se desta casa... imediatamente!

A velha senhora voltou a lançar um olhar assustado em torno de si e acrescentou:

— Vou dizer-lhe uma coisa... Só eu sei do que "ela" é ca­paz de fazer!

- Queira desculpar, não compreendi. Ela... quem?

— Elizabeth não gosta de você. Mas é "ela" que...

- Elizabeth? Agora compreendo. — Anastasia sorriu.— Ainda não sei quem é a senhora.

- Meu nome... Oh, sim! Sou lady Hastings. Mas pode me chamar de Jane. Como todo mundo.

— Lady Hastings? Então a senhora deve ser a avó de lady Elizabeth!

A sombra de um sorriso perpassou pelos lábios descorados da velha dama.

Equívoco de Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora