CAPÍTULO XI

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CAPÍTULO XI

Anastasia e Megan estavam sentadas diante de uma peque­na mesa Queen Anne, numa saleta forrada de tapeçaria onde tomavam seu chá. Aos olhos de um observador comum, pas­sariam por duas jovens damas inglesas, em visita aos donos da casa.

Anastasia usava um vestido de voai rosa, que espelhava o bom gosto de madame Gautier. A cintura alta estava encerra­da numa faixa de cetim rosa, e as saias, entremeadas de ren­das, caíam graciosamente sobre sapatinhos rasos, da mesma cor.

O traje de Megan era mais simples. Suzanne compreendera a necessidade de evitar laços e fitas numa mulher com suas formas esculturais e fizera-lhe um vestido cinzento, de seda frouxa, que lhe concedia uma elegância discreta.

Estavam ambas imersas em pensamentos. Anastasia olhava para as figuras das tapeçarias, vagas como sombras, e via flu­tuar diante de si as imagens de sua nova existência. Essa visão deliciou-a. Esqueceu-se dos cuidados da véspera e fechou um instante os olhos, como para retê-lâ. Depois, subitamente, es­tremeceu.

— Faz quase meia hora que estamos aqui, Megan! Por que ele está demorando tanto?

— Não sei, mas imagino. Havia uma velha senhora espiando nossa chegada de uma das janelas do andar superior.

— Uma senhora de rosto severo e cabelos presos num coque?

— Essa mesma! Não é a tia-avó do duque?

— Sim, é lady Margaret Grey. Via-a de relance na pri­meira vez em que... Megan! Para onde vai?

A ruiva irlandesa havia colocado sua xícara na mesinha de chá e agora caminhava silenciosamente para a porta. Entreabriu-a e depois fez um sinal a Anastasia para que se apro­ximasse. Havia duas pessoas discutindo na sala em frente, e suas vozes alteradas filtravam-se pela porta e ecoavam pelo corredor atapetado.

— Acha que é direito? — perguntou Anastasia, porém não sem disfarçar seu interesse.

— Psiu! — Megan levou o dedo aos lábios, pedindo silên­cio. — Vamos ouvir o que dizem.

À voz de Christian chegou até elas, alta e clara:

— A senhora acha que eu devia continuar com essa farsa porque era desejo de meu avô que me casasse?

— Ele deixou isso bem claro na última entrevista! — foi a confiante resposta que recebeu de uma voz feminina. — De­pois que você saiu da biblioteca, ele me autorizou a continuar
os entendimentos com...

— Com os Hastings! Quem mais? — explodiu Christian. — Não entendo esse excesso de atenção de sua parte, essa dedicação exgerada para com aquela família. Há qualquer coisa nisso
que eu ignoro, mas um dia qualquer ainda hei de descobrir!

— Que... que está querendo dizer?

— Não se faça de inocente, querida tia! Estou falando de sua obsessão pelos Hastings! Acha que ignoro suas idas fre­quentes a Cloverhill Manor e sua quase adoração por lady Eli-
zabeth, aquela criatura insuportável?

— Você se esquece de que sou madrinha dela, como o fui de Caroline! Não tive filhos, e é natural que me dedique a ela.

— Fico pensando se...

Christian fez uma pausa demorada.

— Afinal, por que não? Tenho de me casar um dia, e tan­to faz que seja com Elizabeth quanto com outra mulher de sua espécie!

— Christian!

— Pelo amor de Deus, lady Margaret! Todos nós sabemos que um homem de nossa classe toma esposa apenas para ga­rantir a continuação de sua linhagem. Não sou cego e perce­
bo as cuidadosas maquinações dos pais por trás dos bastidores, quando querem arranjar um bom partido para suas filhas.

Equívoco de Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora