CAPÍTULO XXXVII

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CAPÍTULO XXXVII

No vestiário, o lacaio devolveu-lhe a capa, que ela jogou sobre os ombros com mãos trémulas. Quando já se dispunha a pedir a carruagem, parou de súbito.

"Por que estou sendo tão precipitada?", cen&tuuu-se. Não era assim que devia proceder uma mulher apaixonada diante de acusações à pessoa a quem amava.

Reviu o olhar de Elizabeth, aquele olhar cruel e triunfante, e convenceu-se de que a outra queria perturbar sua felicidade. Já não agira assim antes, atribuindo a Christian faltas graves, injuriosas?

A jovem ingénua que fora outrora talvez não pudesse su­portar palavras tão cruéis como as que acabara de ouvir, mas não ela. Era agora uma mulher adulta, segura de si, de seu amor, de seu homem. E não era possível que não representas­se mais nada para ele.

— Ah, minha querida! — Christian chegou nesse instante e,
abraçando-a por trás, beijou-lhe o pescoço. — Desculpe-me se a fiz esperar. Encontrei-me com Pamela Marlowe. Ela es­tava radiante, e você nem imagina por quê!

Anastasia virou-se e olhou-o, retendo a respiração.

— Por quê?

— Está noiva de Ranleagh! Vão se casar em breve...
Ele interrompeu-se, preocupado.

— Anastasia... você está chorando! Aconteceu alguma coisa?

— Não, querido. Choro de felicidade.

Na carruagem que o marido conduzia, Anastasia manteve-se em silêncio. Ele parecia estranhamente apressado. Atraves­sou depressa a cidade e, ao chegarem, atirou com impaciên­cia as rédeas ao rapaz da estrebaria.

— Descanse um pouco, enquanto dou de mamar à nossa filha. Não vou demorar — disse Anastasia.

— Vou com você.

Ele a seguiu, subindo a escada para o quarto de Marileigh. Uma luz fraca brilhava num canto, lançando uma leve clari­dade azulada atrás do berço. Caminharam em silêncio e olha­ram para a menina. Estava dormindo, mas, quando a pegou, começou a chorar imediatamente.

— Está com fome — disse Anastasia num sussurro, indo sentar-se.

Christian ouviu o farfalhar suave do vestido. De repente, o choro cessou e a criança começou a mamar.

— Quero vê-la — disse ele. — Foi uma coisa com a qual sonhei durante o confinamento: ver você amamentando nos­sa filha.

Anastasia virou-se lentamente na cadeira perto da janela, até que ela e o bebê foram banhados pela suave claridade do luar.

— Meu Deus! — exclamou ele em voz baixa. — Como é linda!

— E gulosa!
Christian riu.

— É uma Grey. Sabe o que quer.

Ela fitou-o em silêncio. Ah! Se pudesse ter a esperança de que um dia viesse a amá-la tanto quanto o amava!

— Está dormindo de novo — disse ele, baixinho.
Anastasia levantou-se e deitou a criança no berço. Ajeitou

cuidadosamente as cobertas em torno dela e voltou-se com o corpete do vestido ainda desabotoado. Christian estendeu-lhe a mão.

— Venha comigo.

— Sim, querido.

Beijaram-se em silêncio, repetidas vezes, enquanto seguiam pelo corredor em penumbra. No quarto iluminado pela luz das velas, Christian encostou-se à porta fechada e tomou o rosto dela entre as mãos.

— Agora, diga-me por que estava chorando no Almack's.
Perturbada, Anastasia tentou desviar os olhos, mas não con­seguiu.

— Eu... eu encontrei Elizabeth no toilette.
O rosto de Christian anuviou-se.

— E então...

— Ela me disse que você... que você estava marcando um Encontro com Palmela. — Aquela cobra venenosa!

— Não se exalte, querido. Dessa vez ela não conseguiu seu intento.

Anastasia prosseguiu, a voz hesitante tornando-se mais fir-fbe à medida que falava:

— Vi você no Grande Salão com Pamela. E meu primeiro Impulso foi fugir de lá e nunca mais voltar. Quando cheguei ao hall, meu bom senso prevaleceu. Decidi ficar e ouvir o que tinha para me dizer a esse respeito.

— Oh, Anastasia! — exclamou Christian, aliviado. — Estou tão orgulhoso de você!

— Orgulhoso?

— Sim, orgulhoso! Você encontrou forças para enfrentar o demónio da dúvida. Confiou em mim, apesar de estar so­frendo muitíssimo!

Ela sentiu as lágrimas inundando seus olhos. Mas eram lá-grimas de felicidade. Ele podia compreendê-la, ler em sua alma! Christian tomou-lhe as mãos e beijou-as.

— Sabe... — disse com voz quase grave — que te amo?
Ela o fitou atordoada por um longo momento.

— Ama?

— Sim, Anastasia. Eu te amo.

Ele não pretendia confessar seu amor desse modo. Mas as palavras haviam lhe escapado dos lábios. E, agora que as dis-sera,. sentia alívio e prazer.

— Sei que seria pretender demais que você retribuísse meus sentimentos...

Anastasia interrompeu-o com uma exclamação de alegria e atirou-se nos braços dele.

— Eu te amo tanto que podia morrer por esse amor!
Christian afastou-a de si com gentileza e examinou atentamente seu rosto. Não tinha mais nenhuma dúvida!

Os lábios dela estavam entreabertos, suas pupilas dilatadas pelo desejo. Acariciou-lhe o rosto com imensa ternura. , — Ah, minha querida... Quero amá-la hoje com toda a for­ça de minha felicidade!

Equívoco de Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora