CAPITULO X

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CAPITULO X

Christian contemplou seu companheiro de mesa e seus olhos bri­lharam de leve.

— Disse acaso algo de divertido a Sua Graça? — perguntou-lhe com bom humor o homem que era objeto de seu exame.

- Ou será minha gravata? Confesso que não passei a manhã inteira diante do espelho, como teria feito o belo Brummell! O sorriso de Christian ampliou-se.

— Graças a Deus, Patrick! Já temos dândis demais em Lon­dres. Além do mais, meu amigo, sua gravata está perfeita!

Patrick St. Clare sorriu, os dentes muito brancos brilhando no rosto bronzeado, forte e bonito, e seus profundos olhos azuis cintilaram sob as grossas sobrancelhas negras, da mes­ma cor dos cabelos anelados, irradiando inteligência e humor.

— Mas você ainda não me disse o que o divertia há pouco — insistiu ele. — Vamos, fale. Estou ansioso por ouvi-lo.

— É algo que se relaciona com uma observação que lady Castlereagh fez esta tarde.

— Castlereagh, uma das guardiãs do Olimpo!

- Exatamente: uma das guardiãs do Olimpo. Parece que ela não aprovou a decisão de lady Jersey em abrir-lhe as por­tas do templo!

Patrick empertigou-se.

— Por quê? Deixe-me ver... Ah! Já sei. Meus cabelos são escuros demais... ou talvez seja minha altura!

Christian riu baixinho.

— Nada disso. É por causa de seu sobrenome americani­zado. Para lady Castlereagh devia ser Sinclair. Todas as ou­tras formas são meras adulterações de linguagem.

— Estupidez!

— Estupidez, concordo. Mas algumas dessas damas são ter­rivelmente conservadoras.

Christian ficou um momento em silêncio. Depois perguntou, os olhos cheios de bondade:

— Agora diga-me se suas buscas tiveram algum resultado.
A expressão de Patrick mudou, tornando-se sombria.

— Nenhum. Parece que houve um incêndio nos escritórios dos advogados da família, anos atrás, que consumiu todos os documentos relativos ao caso. Além disso, o sócio mais velho
da firma, com quem eu estava em contato, morreu. Isso me deixou bastante confuso.

— Sinto muito, meu amigo. — Christian inclinou-se sobre a me­sa e deu-lhe uma palmadinha de encorajamento na mão. — Que vai fazer agora?

— Vou voltar para o Kent e tornar a falar com algumas pessoas que presenciaram a tragédia. Quem sabe eu não te­nha mais sorte desta vez?

Christian olhou pensativamente para o rosto do jovem que o fitava ansioso e disse devagar:

— Não acredita que possa ter havido um extravio de cor­respondência ou que, por outro motivo qualquer, alguma carta não chegou a suas mãos?

— Você se esquece de que passei a maior parte daqueles anos no exterior, desmemoriado? Por quase doze anos, eu havia sido Patrick Saint, sem nenhuma lembrança do que me ocor­rera antes de o navio em que estava ir a pique. Só conservei o nome graças à camisa que usava no momento da tragédia com a inscrição "Patrick S." bordada no bolso.

— Não me esqueci, meu amigo. Mas eu estava me referindo a uma época mais recente, cerca de um ano atrás, quando você readquiriu a memória.

— Oh, sim — concordou Patrick, com um profundo sus­piro. — Mas foi um ano muito confuso.

Equívoco de Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora