CAPÍTULO XVI

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CAPÍTULO XVI

Depois do almoço, Christian, sempre acompanhado de sua noi­va, pôs-se a circular por entre os convidados, sugerindo-lhes ma­neiras agradáveis de passar o tempo até a hora do jantar, que seria servido às oito e seguido de um baile. Alguns preferiram retirar-se para seus aposentos, outros jogar cartas e outros, en­fim, dar um passeio pelos belos jardins de Ravensford Hall.

Foi essa última alternativa que Nicolas propôs a Anastasia. Era um dia perfeito para uma caminhada ao ar livre, e ela concordou prontamente. Desceram até os caminhos en-saibrados e seguiram depois por uma alameda de acácias, ao longo do imenso gramado.

O conde era uma companhia agradável, e ela estava grata a ele pelo interesse que lhe inspirava. Achava-o encantador, com sua voz quente e olhar doce, mas sua obstinação em que­rer cobri-la de lisonjas e galanteios a intimidava.

Felizmente, logo viu-se livre daquele assédio: naquele pon­to a alameda de acácias se interrompia ao nível da rotunda ocupada por uma fonte. À sua volta, havia alguns bancos de mármore tomados por alguns dos convidados. Num deles, Anastasia reconheceu lady Pamela Marlowe e o marquês de Wright, entretidos numa animada discussão com um jovem casal, Mary Godwin e Percy Shelley.

- Veja bem, Mary — dizia o homem —, podemos consi­derar a História como uma luta entre a liberdade e a tirania, em um processo que oscila entre esses dois extremos, com a
alternância de um ou de outro no poder.

- A História é cíclica, então? Se assim for, podemos dizer que os grandes avanços proporcionados pela liberdade estão sujeitos a um declínio...

— Não, não, querida! Os fatos históricos formam uma linda espiral — explicou seu comapanheiro. — A liberdade e o pro­gresso ocupam agora uma posição tão firme que nenhum opres­sor poderá deter sua ascensão para uma ordem social mais elevada.

Mary sorriu.

— Uma ordem social igualitária, como aquela que meu pai propôs em seu Justiça Política?

Nicolas inclinou-se e segredou ao ouvido de Anastasia:

— Mary é filha de William Godwin, um filósofo de gran­de preocupação social.

— Compredendo.

— Não inteiramente. — Nicolas sorriu. — Por enquan­to, a srta. Godwin é mais conhecida como o caso amoroso do jovem Percy Shelley, pivô de uma intriga escandalosa.

Anastasia lembrou-se de que Christian falara dele como de um poeta. Mas o conde falava em escândalo... Estava para interrogá-lo, quando ouviu Shelley exclamar:

- Christian! Estava pensando onde você se havia metido!
Todas as cabeças voltaram-se. O dono da casa caminhava para eles com um sorriso de boas-vindas.

— Shelley, meu amigo! Você sempre nos surpreende: che­ga e não se faz anunciar!

— Chegamos à hora do almoço, mas, como Mary e eu já tínhamos almoçado, pedimos a seu mordomo que nos trou­xesse até aqui — desculpou-se o rapaz.

Anastasia fitou-o com curiosidade. O homem era obviamente um radical, e ela pensou como era estranha sua amizade com um dos membros mais importantes do pariato inglês.

- Sabendo quanto seu espírito se delicia com a contem­plação da natureza, devia imaginar que o encontraria no jar­dim — tornou Christian. — Mas permita que lhe apresente alguns
amigos. Minha noiva...

Feitas as apresentações, lady Pamela Marlowe voltou-se para Elizabeth e examinou-a dos pés à cabeça, com flagrante des­dém. Era óbvio que ela estava enfurecida.

Equívoco de Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora