CAPITULO XXXVI

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CAPITULO XXXVI

Anastasia andava de um lado para o outro da sala de visitas da King Street, presa de grande agitação.

— Não consigo acreditar! Presos! Como se atreveram a tanto?

— Acalme-se, querida — aconselhou-a Maria. — Pense na bambina. Perderá o leite, se continuar assim.

— Como posso ficar calma quando meu marido e meu ir­mão estão presos? E sob a mais ridícula das acusações: es­pionagem!

— Não é bem assim, querida. Na carta, Christian diz simples­mente "detidos sob suspeita de espionagem".

— Por que, então, não os soltaram após o interrogatório? Por que continuam presos?

— Mera formalidade, querida. Que provas idóneas têm as autoridades de que eles sejam espiões? Nenhuma!

— Fundamentam-se na argumentação de que, se não eram espiões, o que estavam então fazendo perto do lugar onde os inimigos em fuga haviam desembarcado? Era instigação. E se
afinal não era instigação devia ser auxílio material.

— Tudo não passa de um lamentável engano, que Patrick e Christian logo esclarecerão. Pense bem: a posição de seu mari­do, a sociedade, o trabalho, os amigos... O inquérito será com
certeza arquivado, e logo os dois estarão aqui, rindo conosco desse equívoco.

Maria enganava-se. Como Christian explicou em cartas poste­riores, a situação era delicada. A fuga de Bonaparte da ilha de Elba tivera consequências que os aliados consideravam de­sastrosas. Atraíra milhares de adeptos para a causa do dita­dor, permitindo-lhe marchar sobre Paris e forçar Luís XVIII a fugir.

Conseqiientemente, a Inglaterra estava em pânico. Os ho­mens que ocupavam os altos cargos e que em condições nor­mais teriam ouvido Christian com simpatia e bom senso comportavam-se como se tivessem medo da própria sombra. Não confiavam em ninguém.

E depois havia Patrick. Apesar do Tratado de Gante, que pusera oficialmente fim à guerra entre a América e a Grã-Bretanha, sua posição não era de forma alguma confortável. E o fato de que ele fosse um Par do Reino, justificando-se assim o pavilhão inglês que seu navio desfraldava, contava mui­to pouco. Enquanto não chegassem informações satisfatórias de Washington, Sua Graça e sir Patrick iriam permanecer co­mo "convidados" do governo de Sua Majestade Britânica!

Após uma semana, o caso continuava sem solução.

Diante disso, Anastasia resolveu tomar em consideração o conselho de sua sogra, parando de contar os dias amargura-damente, cada vez mais infeliz e mais fraca.

Auxiliada por Maria e Megan, resistiu à tensão e deu um rumo ordenado à vida familiar, reconfortando-se com a ami­zade das duas mulheres e os cuidados com a filha e as crianças.

Uma passagem das três mulheres pelo ateliê de madame Gau-tier teve o efeito de difundir com mais rapidez a notícia do incidente por todo o mundo elegante de Londres. Começaram a receber visitas. A princípio, as senhoras que frequentavam o salão da chá de King Street mostraram-se apenas curiosas. Depois de certo tempo, algumas das mais velhas, que se lem­bravam de Maria e que a haviam sempre considerado injusta­mente tratada pelos Grey, começaram a exprimir satisfação de tê-la de volta a sua roda.

Logo choveram os convites para chás, jantares e bailes. Num primeiro momento, Anastasia sentiu-se tentada a eximir-se. Mas, diante do aviso de Maria de que esses convites eram a mani­festação de confiança de uma sociedade que podia influir po­sitivamente no futuro de Christian, ela começou a cultivar relações mais estreitas com algumas senhoras por quem tinha simpatia.

Equívoco de Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora