CAPÍTULO VIII

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Christian olhou para Madame e sorriu. Mas era um sorriso for­mal, que não exprimia satisfação.

— Parece então que a senhora pretende ficar com a bela quantia em dinheiro que o advogado de meu avô lhe adian­tou, pelos serviços de uma jovem totalmente inexperiente. Uma

amadora, como a senhora mesma admitiu, que foi enviada à linha casa por engano. Ele fez uma pausa e concluiu, aborrecido:

— E ainda está pedindo outra, muito maior, para que eu a tenha de volta.

Os olhos verde-acinzentados de Madame sustentaram os dele por um instante, antes que ela semicerrasse as pálpebras.

— Queira perdoar minha impertinência. Mas o erro a que Sua Graça se refere reverteu-se inteiramente a seu favor. Anastasia Sinclair era virgem, quando deixou esta casa, dias atrás,
agora ela afirma, entre lágrimas, que não é mais.

Madame inclinou o corpo para a frente e, graciosa e insiliosamente, continuou:

— Tem alguma noção do que vale uma virgem atualmente? E tão encantadora quanto nossa Anastasia? — Ela voltou a reclinar-se na cadeira, mais à vontade. — Sua Graça fez um negócio vantajoso!

Christian notou-lhe as mãos, belas com unhas longas e curvas. Mãos em forma de garras.

— Foi uma vantagem que não pedi — observou, um tanto irritado.

— Ah! — Os olhos de Madame reluziram. — Por que veio então aqui, atrás dessa "jovem totalmente inexperiente"?

A senhora se esquece de que o erro pelo qual é respon­sável poderá ter consequências...

A risada de Madame veio no momento oportuno.

— O que Sua Graça está realmente querendo dizer é que sua reputação sofrerá um grande abalo, caso se espalhem ru­mores sobre o modo como usou a pobre criança!

Madame fez uma pausa significativa.

— Disseram-me que ela tem marcas roxas por todo o cor­po, uma das quais em seu adorável e pequeno traseiro.

— Basta! — cortou Christian, enervado. — Vejo que é inútil assegurar-lhe que não sou responsável por essas... marcas! Por­tanto, sugiro que voltemos à questão principal. O que acontece­
ria a essa mocinha, se eu fosse embora sem aceitar seus termos?

Os olhos frios e calculistas de Madame exprimiram uma es­tudada surpresa.

- Pensei que fosse óbvio, Sua Graça! Ela irá trabalhar aqui, é claro. Sou muito sensível, mas esta não é uma casa de caridade!

- Suponho que a senhora queira dizer com isso que ela re­tomará suas antigas funções de criada.

Madame respondeu com grande vivacidade:

-Aslileigh é jovem, bonita e órfã. Quando ela era inocente, fui persuadida a arranjar-lhe um emprego honesto. Mas agora... – Ela deu de ombros. — Nossa órfã tornou-se um bom Investimento.

- Para a senhora, talvez.

- Para mim, para o senhor, para quem puder dar-se ao luxo de tê-la!

Christian suspirou, consciente de sua derrota. Queria a jovem, e Madame sabia disso, embora não soubesse que não era o alto preço exigido o que o fazia hesitar. Nem a ameaça de um escândalo, como ela habilmente insinuara.

Estava inteiramente perplexo. Viera ali com o único propó­sito de reaver um brinquedo encantador e de pôr talvez à pro­va seu carisma masculino. Mas, depois da espantosa história que ouvira de Madame acerca do passado de Anastasia Sinclair, encontrava-se num dilema. A jovem era verdadeiramente pu­ra e inocente, e ele a violara, apesar de seus protestos.

Equívoco de Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora