CAPÍTULO IX

3.7K 321 9
                                    



Às primeiras horas da tarde do dia seguinte, Anastasia encontrava-se sentada entre Christian Grey e Megan na car­ruagem que os conduzia ao longo de Hyde Park, um veículo amplo e confortável, que trazia na porta o belo emblema dou­rado e carmesim dos Ravensford.

Instalada em seu luxuoso interior, sentia seu temor crescer. O que, afinal, estava fazendo ali, na carruagem de um duque? Ela que, uma semana antes, servia de criada numa casa mal-af amada? Nesse momento, com o sol de primavera a filtrar pelas janelas, essa diferença tornava-se ainda mais evidente, obrigando-a a reconhecer que sua vida modesta e apagada ia tomar um rumo que decidiria para sempre sua sorte.

Medrosamente, atreveu-se a lançar um olhar ao homem res­ponsável por essa transformação. Ele parecia inteiramente in­diferente às duas mulheres que o acompanhavam. Impecável como sempre em seu traje de passeio, apresentava um perfil que parecia esculpido em pedra. A ampla testa, o nariz reto, a boca arrogante, o queixo forte, tudo parecia feito do mais duro granito!

Anastasia suspirou levemente. Não havia realmente necessi­dade de olhá-lo. Como poderia esquecer, um só detalhe que fosse, as feições do homem que durante vinte e quatro horas a fizera experimentar tudo o que podia reunir de infortúnios e humilhações?

Quase a contragosto viu-se atirando um novo olhar .na di-reção dele. Christian continuava imóvel, mais frio e distante do que nunca. Não havia nem a sombra de um sorriso naquela boca sensual, o que poderia transformar inteiramente sua fi­sionomia, concedendo-lhe um encanto especial. A seu lado, estava um homem diferente do rude captor que a desonrara.

Diferente até do brusco e eficiente homem de negócios da noite anterior.

Isso lembrou-a da série de perguntas que ele fizera, enquanto as conduzia à sua casa londrina. Quem fora seu pai? Tinha algum parente vivo? Em que condado localizava-se a casa de sua família?

Mas fora Megan quem respondera a cada uma delas. Ou melhor, esquivara-se de todas. Fazendo um imperceptível si­nal a Anastasia para que ficasse calada, a irlandesa dissera eva­sivamente: "Faz tanto tempo, Sua Graça... A pobrezinha era tão pequena à época da tragédia... O senhor não vai querer fazê-la sofrer novamente, recordando fatos passados!" E fi­nalmente: "Essa pobre órfã é a imagem de todas as virtudes. Qualquer um pode ver isso!", palavras obviamente ditas com segundas intenções e que haviam deixado o duque de mau humor.

Isso a forçara a lançar-lhe um olhar de reprovação. Uma coisa era obrigar o duque a pagar pelo mal que fizera. Outra, muito diferente, era provocar a ira, que, ela pressentia, esta­va a custo reprimida sob aquele exterior frio é distante.

Mais tarde, sozinhas no aposento que o duque lhes havia destinado, não resistira à vontade de pedir-lhe explicações.

— Não tem receio de ter ido longe demais, Megan? E por
que você me impediu de responder às perguntas de Sua Graça?

Megan sorrira e lhe tomara as mãos.

Confie em meu julgamento, querida. Conheço bem os homens e sei o que estou fazendo. Não fui longe demais, embora, admito, ele pareça um pouco mais complicado do que os outros. Às vezes, fico pensando o que é que o aborrece tanto...

Ela a fitara por longo tempo, pensativa.

— Não vale a pena revelar-se inteiramente. Acredite em mim, querida. Uma mulher se tornará mais interessante aos olhos de seu homem se alimentar um pouco de mistério a respeito de si mesma.

- Mas, Megan... Sua Graça não é meu homem! Ele é ape­nas meu patrão.

- Calma, minha querida. Foi mera força de expressão.

Equívoco de Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora