Naquela noite depois de terminar o trabalho com o Rafael, estava tentando, pela décima vez, falar com a Karen e mais uma vez ela ignorou minha chamada. Sem dizer as trintas mensagens que havia lhe mandado e os dois e-mails me desculpando. Rafael me aconselhara falar com ela amanhã na escola e de fato, parecia ser a melhor coisa a se fazer, esperar. Me conhecendo eu não estava afim de esperar, estava a ponto de ir lá na porta da casa dela e só sair quando ela me atendesse. Olhei no relógio eram nove horas. Calcei os tênis e avisei minha mãe que iria na casa da Karen buscar um livro. Ela pareceu querer dizer algo mais sai igual um ninja fugindo de uma bala.
Parei em frente a porta da casa dela e disquei seu número de celular. Escutei ele tocar uma vez e ser silenciado. Peguei umas pedrinhas que vi no chão próximo a uma arvore e comecei a jogar na janela, tomando cuidado para não causar algum dano. ' Tic' fez a primeira pedra, 'Tic' fez a segunda. Quando ia jogar a terceira ela apareceu na janela igual um fantasma. Fiquei observando esperando ela abrir. Passou trinta segundos e ela ainda estava me olhando. Então eu fiz sinal para que ela saísse. Pude ver ela revirar os olhos. Ela desapareceu. Esperei algo entorno de cinco minutos. Já estava preste a sair quando ouvi um baque agudo vindo da porta sendo destrancada.
- O que você quer? Disse Karen parecendo realmente brava.
-Precisamos conversar!
-Agora você quer conversar? Desde quando vamos a festas da escola?
Tive vontade de dizer que seria a partir do momento que nos apaixonamos por um certo garoto. Obriguei meu cérebro inventar algo.
-Achei que seria bom irmos uma vez. Falei baixo. Antes que ela falasse algo, continuei. – É o ultimo ano na escola, acho que gostaria de saber como são as festas da escola.
Karen ficou um tempo pensando no que dizer.
- Olha , de verdade não vejo nada demais em ir numa festa, mas você poderia, pelo menos , ter conversado comigo primeiro.
- Eu sei... Karen me interrompeu – Agora é minha vez de falar. E continuou – Poxa, Gabriel, somos amigos e fazendo tudo juntos. Eu realmente não gosto de saber pelo Peterson que vamos na casa dele. Na festa dele.
- Desculpa Karen, não fiz por mal.
- Eu desculpo se prometer sempre me contar tudo.
Me senti um idiota, um completo idiota, dizer tudo, significaria dizer que estou apaixonado pelo Leonardo e dizer que o motivo de querer ir na festa era o Leonardo, sem dizer que estava omitindo o interesse do Peterson em tudo isso. Que tipo de pessoa eu tinha me tornado? O amigo que passa por cima dos amigos apenas por interesses próprios? Me limitei a dizer: - eu prometo.
Karen me deu um longo abraço e chorei. Chorei porque estava mentindo para ocultar mais mentiras. Assim que a Karen entrou, meu sorriso falso se tornou uma careta de angustia. Tinha perdido todo o controle da situação. Cheguei em casa aos prantos, parecia que tinha apanhado da pessoa que mais amava. Bati a porta da sala e vi minha mãe que vinha da cozinha.
-Filho, o que houve meu anjo? Disse minha mãe em passos acelerados.
- Me abraça mãe!
Minha mãe deu o abraço mais quente de toda minha vida, pelo menos até aquele momento. Ela não insistiu, só quis saber se alguém tinha me machucado, balancei a cabeça negativamente. Ela sorriu e enxugou minhas lágrimas. De repente lembrei do meu papai, ainda podia ver ele sentado em sua poltrona na sala lendo o jornal e falando mal da política. Eu odiava quando ele falava de política, mas daria qualquer coisa para vê-lo novamente ali sentado. Sentei com minha mãe no sofá, lagrimas ainda caíam sem parar e minha visão ficava toda embassada.
- Mãe, você já mentiu para esconder um segredo?
- Meu bem, acho que sim, mas não vale a pena, uma hora tudo vem à tona, a coisa toda.
- Tem algo que você queira me contar?
-Talvez...
Esperei ela dizer algo, queria ser mais corajoso para dividir esse momento com ela, esperei, mas a coragem não veio. O que veio foi o sangue saindo do meu nariz. Ela me olhou e se levantou. Em seguida voltou com um lenço humedecido. Coloquei no nariz me obrigando a respirar pela boca.
- Olha seja lá o que queria me dizer, vou te ouvir, não vou pressionar.
Minha mãe sabia realmente ser imparcial, queria que ela me forçasse a falar e minha coragem só diminuiu. Não sabia se ela iria levar numa boa ou não. A coisa toda é muito complicada. A gente tem que ser gay para se apaixonar por um homem. Imaginei se não seria mais fácil apenas se apaixonar, sem importar o sexo da pessoa. Naquele momento eu já não estava chorando, estava bem tranquilo, estava pleno. E depois tudo escureceu porque o sono me tomou.
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Adolescência Moderna
RomanceGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...