Já estava acostumado a receber, raramente, notícias do Peterson, é engraçado como a gente se acostuma com as coisas, antes só de imaginar perder o Peterson era o fim do mundo, agora apenas um detalhe, triste, mas não o fim do mundo. Havia me apegado aquela solidão, até gostava e de repente numa tarde de sábado recebo uma mensagem inesperada. Na tela vejo uma mensagem do Saulo, o garoto do shopping. Oi tudo bem? Pensei cinco muitos antes de responder. Olhei fixamente para tela imaginando se realmente deveria responder. Após um suspiro disse a mim mesmo: Porque não?
Hey, tudo bem e você? Contestei. Me deitei na cama fitando o teto com estrelas que a noite se manifestam florescentes. O telefone vibra. Novamente Saulo: Está afim de ir a uma festa? Provavelmente eu recusaria, e então me lembrei que tudo é possível em uma festa sábado à noite. Então apenas digitei: Porque não!
Cheguei no ponto de encontro bem mais cedo, eu podia ser mesmo paranoico com horários. A vantagem é que tínhamos marcado em um lugar movimentado do centro da cidade. Por sorte, Saulo era adiantando igual a mim, então nem tive que esperar tanto. Assim que ele se aproximou, postou um sorriso no rosto.
- Porque não, foi o sim mais criativo que alguém já me respondeu. Falou ele, se referindo a minha mensagem.
- Ah sério? Me forcei a sorrir, algo que não fazia desde semanas atrás, não genuinamente, pelo menos.
Percebi Saulo desconfortável, só tínhamos nos vistos no shopping uma vez e trocado duas ou três mensagens. Eu não estava desconfortável, na verdade não esperava nada daquela noite, tipo, Saulo é gato, porém nunca tive aquele feeling nele. Já me arrependera de ter aceitado o convite, porque com certeza ele pensava que iriamos ficar.
- E então, é um aniversário? Falei cortando o silencio constrangedor.
- Sim, de um amigo meu. Falou Saulo, enquanto fazia um gesto para que eu o acompanhasse. Seguimos até a avenida para tomarmos um táxi.
Meia hora depois estávamos em frente a casa. Haviam pessoas na entrada segurando copos, conversando coisas aleatórias e uma música pop de fundo. Foi então que o flash da festa da casa do Peterson me tomou por alguns segundos. Fechei os olhos voltando ao presente.
- Venha vamos entrar, vou lhe apresentar meus chegados. Saulo me puxou pelo braço e de forma delicada me desvencilhei e apenas o segui até a entrada, que dava para uma sala com algumas pessoas conversando.
- Ei Rodrigo! Parabéns. Disse Saulo ao jovem que ficou claro ser o aniversariante. Eu o cumprimentei e vi vários rostos me olhando, mas não consegui olhar para todos.
- Vou pegar algo para beber, falei.
- Vai lá, estão ali na cozinha. Disse Rodrigo.
- Quer que eu vá com você? Perguntou Saulo.
- Eu consigo me virar! Tentei não parecer rude, mas já tinha sido, percebi pelo olhar do Saulo. Rapidamente fui até a cozinha onde tinha duas garotas se beijando, que ignoraram completamente minha presença. Peguei um pouco de batida de morango que não parecia estar forte. Tomei dois goles, depois mais dois e quando percebi já estava ficando um pouco alto. As garotas não estavam mais na cozinha e eu nem tinha percebido quando elas haviam saído. A festa, as músicas e a bebida tudo me lembrava o Peterson. Comecei a chorar naquela cozinha desconhecida e me sentia idiota por ter aceitado o convite, todavia não estava preparado para alguma coisa como aquela. Enchi o copo com mais batida e algumas pessoas entraram na cozinha gritando e dando risada. Alguém me dirigiu a palavra, algo como: não fiquei assim. Eu apenas levantei o copo sem olhar para trás. Resolvi me sentar próximo a bancada que dava para janela. Não queria voltar para sala e olhar para o Saulo. Houve uma pausa na música e alguém reclamou e segundos depois começava a tocar uma música romântica. – Isso é ridículo. Disse a mim mesmo.
- Eu sou ridículo? Perguntou um rapaz que estava ao meu lado se servindo batida e eu nem tinha percebido. Achei ele familiar.
- Não, desculpa. Eu estou bêbado. Abaixei a cabeça colocando a mão na testa no intuito de ficar sozinho. E quando achei que estava, lagrimas novamente desceram pelo meu rosto.
- Eu ainda estou aqui. Falou o rapaz. Eu quase me assustei, porque achava que estava só. Eu soltei um gemido que não quis dizer nada, exceto que tinha ouvido.
- Você quer ir lá fora, conversar, dar uma volta? Perguntou
- Claro que não, quero morrer! Gritei, não alto o suficiente para ser ouvido fora daquela cozinha. E ao me levantar me desequilibrei, sendo segurado pelo braço.
- Que bosta, nem consigo ficar em pé sozinho. Comento e soluço.
- Venha comigo, vamos lá fora. O rapaz estava simpático demais para um desconhecido. Saímos por uma porta da cozinha que não havia notado e saímos pela lateral indo para a calçada. Sinto meu estomago revirar e só tenho tempo de chegar até uma lixeira e a batida vai toda embora. Para minha surpresa o rapaz me ajuda a levantar.
- Está tudo bem? Pergunta ele.
-Acho que sim. Falo
-Vem comigo vou te comprar um efervescente.
A duas quadras dali havia uma farmácia e do outro lado da rua uma lanchonete. Compramos o efervescente, ele não me deixou pagar. Na lanchonete ele pediu um refrigerante e comprou água para mim.
- Porque está me ajudando? Que mal lhe pergunte. Questionei.
- Não se lembra mesmo de mim? Disse ele ajeitando o boné.
Eu estreitei os olhos observando-o, até que por fim me lembrei, era o rapaz que me deu carona no dia da mudança do Peterson.
- Ah sim acabo de me lembrar, desculpe eu não lembro seu nome. Comentei
- Desculpe, mas eu acabei nem te falando aquele dia, meu nome é Danilo. E o seu é Gabriel, certo?
- Como sabe meu nome? Perguntei.
- Eu poderia mentir, dizendo que o garoto que chegou com você nos dissera, mas aquele dia eu vi sua despedida com seu namorado.
Aquelas palavras me levaram novamente para aquele dia triste e ao perceber meu olhar triste Danilo mudou de assunto
- Você está melhor? Digo, do estomago?
- Estou, estou sim.
- Posso te levar me casa? Eu estou de carro.
Eu seria idiota se negasse, voltamos a pé até a rua da festa onde seu carro estava. Lá, avistei o Saulo e antes de ir embora fui ao seu encontro.
- Desculpa, hoje não foi um bom dia. Falei
- Está tudo bem, de verdade. Comentou Saulo.
Saulo me abraçou bem forte e falou: Se cuida garoto. Não sei se ele estava mesmo bem, mas decidi acreditar.
Quando voltei Danilo já tinha o carro ligado, e partimos em seguida. Na volta quase não falei, apenas observava as luzes alaranjadas dos postes. Danilo não pareceu incomodado, expliquei o caminho uma vez e ele pareceu gravar pois não errou nada. Quando paramos na porta de casa. Ele desligou o carro.
- Obrigado por me trazer. Agradeci.
- Posso pedir seu telefone?
- Claro que sim, mas...
- Eu sei, sem pressão. Falou ele educadamente. Após trocarmos os telefones, nos despedimos com um tímido abraço e antes de entrar eu acenei com o braço.
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Adolescência Moderna
RomanceGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...