Faltava uma semana para o baile e eu estava correndo ao redor da quadra de futebol a mando do professor Sérgio. Eu odiava educação física, mas preferia correr a fazer trabalho de história. O sol nesse momento parecia cozinhar meu cérebro, o que me fez diminuir o ritmo. O professor Sérgio sabia, exatamente, como me irritar.
- É melhor voltar a correr se não quiser ir fazer trabalhinho de história. Gritou ele quando percebeu meu corpo mole.
Eu apenas sorri sem saber se daquela distância ele podia ver meu rosto, apertei o passo para terminar as últimas cinco voltas. Um dia eu iria descobrir como ele conseguia me vigiar e arbitrar o jogo de futebol ao mesmo tempo. Quando terminei, abaixei apoiando meus braços nas coxas, enquanto recuperava meu fôlego.
- Já pensou em correr Gabriel?
Eu olhei para cima e voltei a posição normal, totalmente irritado.
- Digo profissionalmente. Você tem melhorado seu tempo ao longo do ano.
Naquele momento percebi que ele não estava, me zoando. Ele falava sério.
- Bom, eu nunca pensei a respeito. E nunca fui um garoto esportivo.
- Então pense. Eu acho que vale a pena.
- Bom, mas sei lá. Você sabe eu sendo gay será que conseguiria?
-Ah, por favor não me venha com essa. Isso é um detalhe pessoal. Meu professor sorria e aquilo me passou certa confiança.
- Tudo bem. Não prometo nada, mas vou pensar.
Em seguida, dei um tapa no ombro dele e sai em direção ao vestiário quando as palavras de Sergio me fizeram parar.
- Sem querer ser muito íntimo, mas eu também sou gay e isso não me impediu de estar onde estou. Quando me virei para encara-lo, ele seguia sem olhar para trás e assoviava. Ele estava certo, o fato de ser gay não era razão para me sentir inferior. Afinal posso ser o que eu quiser ser.
A noite em casa minha mãe me chamou para ver televisão com ela. Não era nada demais, apenas a novela chata das nove. Eu sinceramente nunca fui muito fã de novelas, acho elas muito cansativa. Aceitei apenas por que imaginei que ela quisesse falar sobre algo. E eu estava certo porque no primeiro intervalo ela falou hesitante.
- Gabi, e o baile você vai?
- Pra ser sincero, eu não sei. De repente me vi triste ao responder, era algo que eu esperara tanto e naquele momento nem era mais importante.
- Entendo, e o Peterson, não respondeu seu e-mail?
Não devia ter contado a ela sobre o e-mail, agora ela me perguntava, dia sim e dia não, sobre ele.
- Não, mas isso nem importa mais. Aquilo foi a grande mentira que disse naquela sala. Quer dizer, realmente ele não tinha respondido, no entanto, o que mais me importava era com aquele e-mail, que a propósito nunca chegava. No fim foi uma meia mentira conclui.
- Bom. Me avise se quiser ir. Digo, para eu providenciar as roupas e tal.
Minha mãe estava querendo ser a melhor mãe do mundo o que era impossível, porque ela já era a melhor. Então eu sorri usando máximo de atuação possível e usei a desculpa de estudar álgebra, para não ficar ali mais nem um minuto. Quando me virei as lágrimas já desciam pelo meu rosto. Fechei a porta do quarto e me encostei nela descendo até o chão igual um prédio sendo implodido. Alias ruinas de um prédio implodido era como eu me sentia naquele momento.
Me levantei alguns minutos depois e liguei o laptop. Esperei demorados cinco minutos até está tudo carregado, abri o navegador e fiz uma busca. Digitei: como superar um coração partido, e cliquei em buscar. Fiquei pasmo com o número de contos, poemas e músicas que falam sobre esse tema. Mais alguns cliques achei algumas simpatias. Li alguns depoimentos de pessoas que já passaram por isso. Me surpreendi quando percebi que de triste agora eu estava curioso. Cada aba revelava algo. Cada linha eu ficava mais curioso. Duas horas depois já tinha me decidido, iria ao Baile, afinal eu esperei tanto por isso. Percebi que ir no baile iria me fazer muito bem. Eu precisava querer me sentir melhor, mesmo sabendo que amanhã provavelmente, fosse me sentir péssimo de novo. Mandei mensagem para Rafa e Karen.
Olá Frocione e Zoccola, Gabriel vai estar no baile. Enviei em seguida.
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Adolescência Moderna
RomantikGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...