Domingo de manhã, acordei com uma preguiça imensa, principalmente, devido a ressaca. Tudo que acontecera naquela noite parecera um sonho, exceto pelo fato de ter um novo número de telefone em minha lista de contatos, Danilo. O sol que entrava pela janela me incomodava um pouco, então levantei e fechei a janela um pouco, deixando pouca claridade adentrar. Voltei para cama e deitei ficando em completo silêncio. Estava quase voltando ao sono quando minha mãe entrou no quarto após duas leves batidas na porta.
- Oi meu amor.
- Oi mãe. Murmurei.
- Quem lhe trouxe ontem? Perguntou ela se sentando na ponta da cama.
- Um amigo... Minha voz saiu bem grave o que me assustou a princípio. – Um amigo que conheci na festa, eu sei, que não devemos andar com um estranho. Ele é uma pessoa legal.
- Todos são meu filho, mas vou confiar no seu julgamento. Você chegou meio cedo ontem, aconteceu algo?
- Na verdade sim, eu fiquei chateado na festa, me lembrei do Peterson. Falei me encostando na cabeceira da cama.
- Por falar nele, não deu mais sinal de vida? Perguntou ela desanimada.
- Talvez me ligue hoje, vai saber. Peterson as vezes me ligava, eu parei de ligar quando ele parou de atender as minhas ligações. As vezes tenho a impressão que ele esconde algo ou me evita.
Depois daquela conversa eu e minha mãe tomamos café e ficamos deitados no sofá vendo a divertida (só que não) programação de domingo.
À tarde, depois do almoço, encontrei com a Karen numa pracinha do nosso bairro. Ao contrário da manhã, agora nuvens carregadas pairavam pelo céu, eu até levei uma blusa de frio caso o tempo mudasse drasticamente. Quando cheguei, ela já me aguardava e me deu um sorriso assim que fez contato visual. Ela estava sentada em um banco que era praticamente nosso, por várias vezes ficamos ali imaginando o futuro.
- Oi Frocione. Disse ela sorrindo.
- Ciao Zoccola. Sorri
- Não quero ser chata, mas está tudo bem? Seu sorriso agora resplandecia preocupação.
- Está sim, conheci um cara ontem? Falei de forma casual.
- Ah sua assanhada e não me contou ontem porquê? Karen colocou a mão na cintura enquanto perguntava surpresa.
- Na verdade, ele me deixou em casa, eu bebi demais e ainda por cima ele cuidou de mim. Comentei.
-Gabriel, você está dizendo que arrumou um boy na festa, que ele cuidou de você e te deixou em casa? Karen se levantou de imediato me olhando de cima para baixo, esperando a resposta.
- É. Acho que sim. Falei. Sem ainda entender, o porquê, de tanta empolgação.
Karen ficou me olhando parecendo querer escolher as melhores palavras para começar um discurso. O vento soprou fazendo seus cabelos dançarem de lado e ela me olhou nos olhos.
-Gabriel, eu te amo, você é meu melhor amigo, mas já chega de sofrer pelo Peterson, ele não morreu, ele está longe. Você tem que seguir em frente se apaixonar e pelo que você me contou tem alguém interessado em você, então meu frocione, pare já com esse drama.
Fiquei alguns segundos olhando para minha melhor amiga, enquanto assimilava tudo que me dissera. Se fosse dito com outra entonação eu não daria a mínima. Ela estava certa, eu estava de luto por alguém que não tinha morrido, ele fora obrigado a ir embora e não a me deixar de lado ou não atender minhas ligações.
- Você está certa! Me levantei e nos olhamos, olho no olho.
-Espero que você tenha o numero dele! Karen me olhou imaginando que eu não tinha.
- Na verdade eu tenho sim. Falei.
Karen puxou o telefone do meu bolso e perguntou: - Como é o nome dele?
-É Danilo, o que vai fazer? Perguntei.
Alguns segundos depois ela falou com alguém.
- Oi Danilo, sou a Karen amiga do Gabriel, estamos aqui na praça do nosso bairro, aquela com uma estátua de um soldado. Sabe onde fica? Poderia vir aqui?
Meus olhos se arregalaram e Karen fez um gesto com a mão para que eu não me aproximasse.
- Então a gente, ou melhor, Gabriel lhe aguarda. Karen desligou em seguida, pulando de euforia.
-Karen, o que eu vou fazer? Perguntei aflito.
-Primeiro você vai se acalmar e depois você vai passar esse resto de domingo com o Danilo. Ah e eu já shippo vocês a propósito.
Tive apenas vinte minutos até que o Palio dobrasse a esquina, lembrei rapidamente da cor branca do carro. Eu estava paralisado. Karen estava sorridente demais. Danilo desceu do carro e veio a passos que demonstravam timidez.
- Oi gente, oi Gabi. Disse Danilo quando chegou próximo o suficiente.
- Oi Danilo, sou Karen a melhor amiga do mudo ali. Quando Karen apontou para mim, senti meu rosto queimar.
- Prazer. Danilo lhe deu um beijo no rosto.
Karen pegou Danilo pela mão e o fez se sentar ao meu lado no banco da praça e a estátua do soldado parecia nos observar.
- Bom, meninos! Minha hora de cupido já deu, tenho um namorado também. Se cuidem.
O também, fez eu ferver por dentro de tanta vergonha, com certeza o namoro fizera Karen ficar mais leve e mais feliz.
Ambos observamos ela ir embora. E então Danilo me olhou e eu fiz o mesmo.
- Sua amiga é demais. Disse ele quebrando o silencio.
- Ela é mesmo, não é? Me perdi na resposta.
- Olha, eu não quero pressionar, vim apenas porque ela me chamou. Se quiser, eu posso ir embora. Danilo se apoiou nos braços, para se levantar e eu o impedi.
- Não, espere. Falei. E depois de uns segundos continuei. – Eu quero que você fique. Eu gostei de você também, era o que queria ter dito ontem.
Era incrível ter a atenção dele toda para mim, aquilo quase me envergonhava, mas era bom.
- OK. Falou ele lentamente. Que tal irmos ao cinema? Muito cedo? Digo, no sentido de nós sairmos juntos? Ele sorriu.
- Eu acho que está ótimo. Falei.
Enquanto caminhávamos para o carro, pingos de chuva começavam a cair. Lavando junto a minha alma.
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Adolescência Moderna
RomanceGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...