O ônibus parecia ir mais lento que o normal, a ansiedade, o frio na barriga me consumia. Percebi uma senhora me olhando, desviei o olhar, não estava afim de falar sobre nada. O ônibus parava em todos os pontos, o que me irritava. Ônibus para, portas sem abrem e pessoas entram e saem. Fechei os olhos. Me concentrava apenas nos silvos que o coletivo fazia. A visão do Peterson espancado não saia da minha cabeça. Três paradas depois resolvei descer, estava a cinco quadras de casa. Não sei dizer ao certo o porquê, simplesmente comecei a correr, quanto mais corria, mais prazer sentia. Era a única forma de aliviar aquela tensão. Estava sem folego quando cheguei a rua de casa, parei colocando as mãos nos joelhos, recuperando o folego. Enquanto fitava o chão puder ver quando caiu uma gota de sangue, era meu nariz. – Que merda. Murmurei. Peguei um lenço que estava na minha mochila e me dirigi a porta de casa. Antes que pudesse pensar em pegar a chave minha mãe veio ao meu encontro. Sua expressão estava muito séria.
- Gabriel, como você está? Disse ela quando passei pela porta.
- Estou arrasado. Murmurei.
-Porque não me falou sobre a briga? Fiquei chocada quando o inspetor me disse, inclusive, que foi parar na enfermaria. Eu estou desapontada, mas tudo bem. Falou ela calmamente.
- Desculpe. Falei – Estou preocupada com uma coisa vamos nos sentar. Disse ela sem se importar com meu nariz que sangrava um pouco.
Sentei ao lado dela no sofá.
-Hoje eu conheci o pai dele. Um sujeito horrível. Eu mesma discuti feio com ele. Ele não admite que o filho gay. E pior não aceita o namoro de vocês. Falou ela me olhando fixamente.
- Mãe, eu estive na casa do Peterson, o pai dele não estava. Pelo que percebi os pais deles são loucos e o Peterson... Ele... Larguei o lenço e comecei a chorar, mas precisava continuar. – Ele...Foi agredido pelo pai e estava todo machucado. Minha mãe colocou a mão na boca, e me abraçou forte. Lágrimas caíram do seu rosto e transtornada com aquela situação ela falou quase gritando. – Temos que denunciar ele! - Não podemos, Peterson não quer, por favor, mãe deixe-me conversar com ele antes. Aliás, eu deixei meu telefone com ele porque o pai dele jogou o dele na privada. Me empresta o seu? Percebi que minha mãe ainda assimilava tudo aquilo e meio que saindo do transe ela me falou:
- Claro, pode pegar. Ele tirou o dela da bolsa me entregando. Pensei em dizer a ela que a mãe do Peterson tinha me agarrado pelo braço, porém achei melhor não. Provavelmente ela iria sair para denunciá-los.
-Filho eu queria saber o que fazer. Disse ela, sua expressão infeliz.
-Eu não sei o que podemos fazer. Murmurei. Neste momento fui no banheiro lavar o rosto o nariz já não sangrava mais. Peguei o celular e mandei uma mensagem.
Gabriel: Oi, meu amor.
Peterson: Oi, Gabi.
Gabriel: E ai td bem?
Peterson: Do msm jeito. Meu pai chegou e nem falou comigo.
Gabriel: Sua mãe não contou que estive ai?
Peterson: Não sei, acho que não.
Gabriel: Estou muito preocupado
Peterson: Eu sei, desculpa, eu vou ter que esconder o telefone alguém vem vindo.
Gabriel: não se desculpe, você não tem culpa, depois me mande mensagem.
Fiquei apavorado, será que a mãe contaria ao pai que eu estivera lá mais cedo. Só de imaginar o pai dele batendo nele tinha vontade mata-lo. Fui até a sala avisar minha mãe que tinha conseguido falar com ele. Ela sorriu e me chamou para ficar junto com ela no sofá.
- Filho, se ele apanhar de novo, sabe que teremos que denunciar os pais dele, não sabe?
Eu não quis responder, porque não queria trair a confiança do meu namorado, mas no fundo eu concordava cem por cento com ela. Na janta quase nem consegui comer, meu estomago revirava. Mais tarde quando estava deitando senti o cheiro do chá de camomila e não demorou a ver minha mãe me trazendo uma xicara. – Meu anjo fiz um chá para você tentar se acalmar. Enquanto ela sentava ao meu lado na cama eu senti a vibração no meu celular emprestado e por sorte era Peterson.
Peterson: Oi Gabi. Era meu pai, gritou comigo e disse para eu dizer que arrumei briga na rua.
Gabriel: Que merda.
Peterson: Pelo menos ele não me bateu. Acho que minha mãe não contou.
'Pelo menos não me bateu', pensei e fiquei angustiado. Fiquei aliviado que minha visita não havia lhe causado mais problemas.
- Então amanhã você vai na aula?
Ele demorou muito para responder, imaginei que alguém tinha aparecido lá e ele não teve tempo de avisar. Minha mãe me deu um beijo na testa e foi deitar. Tomei o chá quentinho e logo me senti mais tranquilo, claro não o suficiente. Fiquei esperando até quase uma hora da manhã e entre cochilos, acordei com o telefone vibrando.
Peterson: Ah desculpa a demora, cochilei. Vou sim. Bjos boa noite.
Gabriel: Boa Noite meu amor.
Peterson: Boa noite, meu namorado.
Depois daquilo a escuridão me abraçou e dormi.
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Adolescência Moderna
RomanceGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...