Havia duas semanas que eu e Danilo havíamos começado a namorar, eu decidi que não queria aliança e ele pareceu concordar. Decidimos usar pulseiras de prata com nossos nomes gravados nelas.
- Alô. Falei assim que atendi meu telefone.
- Você adora atender ao telefone como se eu fosse um estranho? Perguntou Danilo no outro lado da linha.
- Acho que eu gosto.
- Ok, Ok, vamos no festival de primavera amanhã? É o último fim de semana e tem uma banda que eu curto que vai tocar lá.
- Posso pensar? Segurei o riso.
-Ah para de ser chato. Vai querer passa o fds estudando ou vendo filmes?
- Ok me busque as 18, sem atrasar. Te amo.
- Idem.
Acenei para Rafael que estava na banca de revista do outro lado da rua, ele veio imediatamente sem olhar antes de atravessar.
- Você quer se matar? Não lhe ensinaram a olhar antes de atravessar?
- O que? Você não olhou por mim? Eu podia ter morrido sabia? Falou Rafael fingindo desespero, me irritando.
- Rafael eu juro que vou lhe internar num hospício. Virei os olhos.
Como tínhamos combinado dar um rolê pelo centro, resolvemos ir ao parque de diversões que ficava bem no centro da cidade. Apesar de não ser lindo, era convidativo e barato. Pagamos 20 pilas para rodar em todas as poucas atrações por duas horas. O parque era péssimo e o isso o vazia ficar ótimo. Fomos primeiro na montanha russa, que não parecia nos colocar medo, mas eu gritei quando depois de uma curva, houve uma descida brusca. E o Rafael ficou com medo do trem fantasma, logo ambos tínhamos passado vergonha. A sala dos espelhos, nos surpreendeu, era grande e com cheiros e cores diferentes a cada sala, um verdadeiro labirinto. Uma sala nos chamou atenção, entre os espelhos havia uma frase que chamou nossa atenção, eram duas perguntas: Quando se olha no espelho o que você vê? E o que você vê, você gosta?
A sala dos espelhos eram uma metáfora, você se vê de várias formas ao longo das salas e o no final um espelho mostra realmente quem você é. É um exercício de aceitação imaginei.
- Isso é profundo, não é Gabi?
- Exato, isso é muito mais que uma atração, provavelmente quando está cheio as pessoas nem percebem isso.
Após a experiencia na sala dos espelhos decidimos tomar sorvete, pois estava calor, fomos até um quiosque e pedimos casquinhas e nos sentamos.
- Gabi, você sente falta do Peterson?
Aquela pergunta foi como uma agulhada na minha cabeça e fiquei feliz que não era o Danilo a fazer a pergunta. Rafael percebeu como aquilo me pegou de surpresa e me fez sofrer ao mesmo tempo.
- Olha, desculpa por perguntar. Deixa pra lá.
- Não, tudo bem. Falei assim que me recuperei. E continuei. – Olha, o que vivi com o Peterson foi muito bom, inesperado e intenso. Não sei quanto tempo vai levar até eu superar. O que posso lhe dizer é que o Danilo me ajuda muito, sabe, ele realmente veio na hora certa. Sim, sim eu sinto falta do Peterson, talvez, se ele não tivesse sumido da internet e não conversássemos esporadicamente, eu ainda fosse totalmente apaixonado por ele, mesmo distante.
Rafael parecia analisar tudo o que eu dizia e montava um texto em sua mente.
- Gabi, eu me apaixonei por você logo quando nos conhecemos e tipo, eu só consegui superar isso tudo, quando decidi me amar mais. Quando decidi fazer isso, percebi que quando nos amamos em primeiro lugar, tudo fica mais fácil. A gente entende que as vezes gostamos de pessoas de um jeito que nunca seremos correspondidos. Eu não tenho seu amor, mas tenho sua amizade e isso me basta agora. Não quero me intrometer, porém não tem como não comparar. Sua relação com o Danilo, bem, cuidado para não magoá-lo, ele parece gostar muito de você.
Processei tudo que o Peterson me falou, ele tinha razão, poderia haver a possibilidade, mesmo que mínima, de eu estar com o Danilo por carência. Aquilo me assustou, pensar naquilo me assustou de verdade. Eu dei um longo abraço no Rafael.
- Mãe, você viu minha camiseta do Blink182?
- Camiseta do blinque o que? Gritou ela da sala.
-Aquela que tem três caras punks. Falei do corredor
Minha mãe me encontrou no corredor, com a camiseta na mão e me olhou com ar de preocupação.
- Está tudo bem querido?
- Eu não sei mãe, acho que vai ficar.
Minha mãe me conhecia tão bem que era irritante tentar mentir, então era mais fácil contar o que estava acontecendo antes que ela descobrisse.
- Não sei se gosto mesmo do Danilo, ou se estou com ele por carência.
Minha mãe pensou um pouco antes de responder.
- Sabe, eu me perguntava isso o tempo todo, em relação ao seu pai. Eu acho que todo mundo tem esse pensamento. Será que fiz a escolha certa? São muito serás. O mais importante é olhar para seu coração.
- Eu queria saber o que aconteceu com o Peterson, porque ele parou de falar comigo, porque ele não responde as mensagens. Queria saber se terminamos mesmo, se ele deixou de me amar. Só assim eu vou conseguir tocar em frente.
- Isso é normal, vocês não tiveram um fim de namoro. Vocês foram arrancados, um do outro. Porque não manda uma mensagem para ele e pede uma definição de vocês. Fala para ele o que você sente.
Ignorando o fato de que Danilo chegaria a qualquer momento fui até meu quarto, liguei o computador e fui no meu correio eletrônico.
Para: Peterson Da Silva Souza
De: Gabriel Monteiro Costa
Oi, tudo bem?
Eu não quero parecer chato ou coisa do tipo. Nem quero te sufocar, mas eu preciso saber. O que aconteceu com a gente, digo, fora o fato de termos sido separados? Eu fiz algo que te magoou? Eu sinto sua falta. A gente pode ser pelo menos amigos? Eu espero de verdade que você leia esse e-mail e responda o mais rápido o possível.
Gabriel
Me encostei na cadeira perto da escrivaninha e respirei fundo. Lá fora a buzina soou, Danilo havia chegado. Apertei o botão enviar com o clique do mouse e fechei o laptop.
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Adolescência Moderna
RomanceGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...