Devaneios passavam pela minha cabeça, deveria estar sonhando. Vi Rafael me segurando e gritando meu nome em prantos. Karen chorava muito. Peterson ao lado do Rafael parecia bem assustado e envergonhado. Do outro lado estavam Claudia e Leonardo pareciam decepcionados. Vi um médico com uma lanterna bem no meu olho, quis xingar, não tive forças para isso. O médico parecia real, todo resto não. Estava com meu braço puncionado e provavelmente recebia soro. – Ele está reagindo bem. Percebi uma enfermeira ruiva ao meu lado, pareceu mexer no fluxo do soro. Fechei os olhos e tudo ficou escuro novamente.
Estava com doze anos, meu pai estava comigo na garagem de casa, me falava sobre o carro que estava estacionado, um Opel Corsa, carro que ele amava. Eu nem ligava, era só um carro, pensava. Vi ele polindo o capô com tanto carinho. – Filho, você sabe que é especial, não é? – Sou? Perguntei. – Um dia você vai perceber isso. Não tenha medo de ser quem você é. Eu apenas sorri e ele retribuiu.
Novamente vi movimentos no quarto, supus que estava no hospital, mesmo tudo parecendo um sonho muito doido. A enfermeira passou a mão na minha testa afagando. E saiu em seguida.
Rafael, Karen e Peterson me olhavam, preocupados. No mesmo instante desapareceram. Ficou no lugar Claudia e Leonardo, aqueles dois juntos me irritou muito queria que eles sumissem e como se o desejo fosse uma ordem eles desapareceram. Não sei dizer quanto tempo se passou a minha cabeça começou a doer bastante. Abrir os olhos e ainda tonto apertei a campainha. Alguns segundos depois passou pela porta a enfermeira ruiva sorrindo.
- Gabriel! Que bom que acordou, a propósito me chamo Laura.
- Oi! Murmurei. Minha cabeça doía muito. Falei lentamente quase sussurrando.
-Oh sim, já estava vindo aplicar mais uma dose de dipirona no seu soro.
- O que houve? Comigo? De repente me passou pela cabeça que tínhamos sofrido um acidente de carro e aquela agitação se converteu em mais dor na minha cabeça.
- Como estão meus amigos? Falei alto.
-Calma meu anjo, seus amigos estão bem. Não se agite demais, você bateu a cabeça bem forte e levou cinco pontos.
Em seguida me lembrei do breve encontro com Peterson e obvio lembrei da pancada que levei.
-Pronto já coloquei a dipirona no soro, em alguns minutos você vai parar de sentir dor e pegar no sono. Disse a enfermeira de forma bem carinhosa
- Minha mãe já soube? Perguntei
-Claro, ela saiu a pouco para levar seus amigos em casa. E volta em seguida, garanto.
Novamente apaguei e não sonhei.
Senti alguém segurar as minhas mãos, era a minha mãe que cochilava sentada. Pela janela já era possível ver uma claridade, ou seja, o dia estava amanhecendo. Um chiado evidenciava que lá fora chovia. Me acomodei na cama e com o movimento minha mãe despertou.
-Oi filho! Disse ela apertando minhas mãos.
- Desculpa mãe. Sussurrei. Deixando a lagrima cair. Me sentia culpado por ter causado tudo aquilo.
- Foi um acidente poderia ter acontecido com qualquer um. O Peterson me explicou tudo e deixou aquelas flores.
Quando olhei na direção que ela apontava vi as flores simpáticas ao lado de um ursinho de pelúcia.
-A Karen e o Rafael trouxeram o ursinho. Disse minha mãe.
Fui invadido por uma alegria, Peterson tinha ido conversar com minha mãe e me trago flores, apesar de tudo ele não era uma má pessoa.
- Descanse querido. Eu vou tomar um café e já volto.
A Laura voltou trazendo mais uma dose de dipirona, ela era tão simpática que me fazia estar confortável mesmo numa cama de hospital. Novamente apaguei.
Estava com 14 anos, estava no hospital visitando meu pai internado. Na cama ele dormia profundamente, lembro de pensar que ele já havia falecido. Mas não, ainda respirava. Me aproximei dele e disse: - Te amo papai e vou te amar para sempre. Sua feição demonstrou que apesar de inconsciente ele entendia, pois estava sorrindo mesmo com os olhos fechados.
Acordei com minha mãe me chamado ternamente. Ela e a Laura me olhavam, lá fora ainda chovia, agora mais forte.
- Querido, hora do café da manhã.
- Não quero. Falei. Estava com enjoo, meu estomago se revirava.
-Ah são os medicamentos, mas tente comer um pouquinho, vai melhorar. Disse Laura
-Abra a boquinha. Disse minha mãe fazendo aviãozinho.
Revirei os olhos e abri a boca. O gosto no começo pareceu azedo, mas devia ser eu, logo senti o gosto adocicado. Na terceira colherada me estomago pareceu não concordar com isso. Me virei de lado bruscamente colocando tudo para fora dentro de um recipiente metálico que imaginei estar ali para isso.
- Podia vomitar aqui? Perguntei
- Você podia urinar ai, se fosse caso. Comentou Laura quase rindo. Vamos ministrar um remédio para enjoo.
-Filho, você já está gravido depois da primeira festa? Zombou minha mãe
Eu quase ri na verdade, mas outra golfada, me informou que o estomago estava bem arrasado. Laura deu uma risada alta. Se repreendendo porque estava em um hospital. Em seguida colocou uma combinação de remédios para evitar mais vômito. Depois dos remédios não houve mais enjoou e Laura me trouxe gelatina para comer, enquanto minha mãe foi em casa tomar um banho e trocar de roupas. O médico veio me visitar no final da manhã.
-Olá cabeção? Disse ele sorrindo demais.
Imaginei se estava mesmo acordado, o medico parecia da ala psiquiátrica. Antes que pudesse pensar mais alguma coisa ele continuou
- Você tem mesmo um cabeção e bem duro, por sorte foi apenas o corte, já estou com seus exames e está tudo no lugar! Ele deu um sorriso.
- Que bom. Falei
- Agora se cuida hein garotão, vou te dar alta e daqui uma semana vamos tirar os pontos.
Agora estava ansioso para ir para casa, Laura logo entrou com os utensílios para retirar o soro.
-Que bom que deu tudo certo, ficamos preocupados com a região onde você bateu a cabeça, ufa, agora posso te falar. Disse ela toca contente.
- Desculpa por qualquer coisa.
- Imagine meu anjo. Segura aqui para mim. Disse ela me mostrando algodão, assim que retirou o acesso intravenoso, pousei um algodão levemente umedecido com álcool no lugar onde estava recebendo o soro e Laura então colocou um curativo.
- Prontinho. Ela falou sorrindo.
Minha mãe chegou logo depois, Laura nos acompanhou empurrando minha cadeira de rodas até lá embaixo. Ainda chovia bastante. Laura me ajudou a levantar e antes de entrar no carro ela me deu um abraço. Sentei no carona e Laura me falou: - Não está esquecendo nada?
Na hora me lembrei das flores e o ursinho, para minha sorte Laura carregava os dois numa sacola grande.
- Obrigada! Disse minha mãe abraçando Laura.
Minha mãe entrou no carro e em seguida saímos para casa.
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Adolescência Moderna
RomantizmGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...