Nas duas semanas seguintes vi Peterson apenas na escola, apesar de não ser o ideal, estava satisfeito de ter um namorado que me amava. Nos intervalos passávamos um bom tempo sentados na parte lateral da escola, conversando, trocando carícias e fazendo planos para o futuro. O problema chamado Jorge, que é o nome do pai dele, não nos atingia ali no nosso refúgio.
Naquele dia em particular Peterson parecia estar muito pensativo então decidi perguntar: -Está tudo bem? Peterson que parecia fora de orbita, me olhou parecendo não me ver. Fechou os olhos e suspirou. Quando voltou a abri-los vi uma tensão em seu olhar. – São meus pais Gabi, eles querem ir embora para outra cidade, uns 500 quilômetros daqui.
Eu como sempre fazia de tudo para esconder meus sentimentos, era como uma técnica de defesa e percebi que agia assim desde a morte do meu pai. Eu jurara para mim mesmo que nunca mais, nada iria me abalar. Por dentro eu era um prédio desabando andar em cima de andar. Peterson me olhava esperando alguma reação e não havia nada que pudesse dizer. Após um longo silencio Peterson Falou. – Pensei que você iria se importar mais com isso. E quando terminou se levantou. Sua expressão em plena decepção. Tentei segurar no seu braço, mas ele repeliu.
- Peterson, espere! Falei. Peterson se levantou e se foi.
Por dentro, eu estava destruído e mais ainda por não conseguir colocar para fora o que estava sentindo. Depois daquilo tudo, ele ter que ir embora com os pais não parecia certo, parecia uma grande trapaça do pai dele, como aquelas regras idiotas que criamos nos jogos para deixar ele mais difícil. Dessa vez eu nem conseguia chorar estava decepcionado comigo mesmo e com a vida.
- Oi Gabi. Disse Karen se aproximando. Seus olhos encontraram os meus e ela percebeu que algo não estava nada bem.
-Karen, eu sou uma péssimo! Murmurei, enquanto olhava para o chão.
-Frocione, você não é péssimo. Longe disso, para mim, você é uma pessoa sensacional. E claro você tem seus defeitos, como eu tenho os meus.
- Os pais dele vão embora da cidade ou estão cogitando algo assim. Karen levou a mão até a boca em sinal de surpresa.
-Ah não, isso é péssimo. Karen agora parecia mais triste do que eu.
- Quando Peterson me falou isso, eu travei, não consegui demonstrar nada, ele ficou arrasado. Falei enquanto esfregava o pé no chão.
- Ele não te conhece direito Gabriel, tudo bem, vocês namoram, mas ele ainda não sabe lidar com você e nem você com ele, dê tempo ao tempo. Karen falou com uma certeza espantadora. Naquele momento parecia estar conversando com alguém com o dobro da minha idade. – E outra, nem sabemos se o pai não está fazendo isso para colocar pressão nele. Completou Karen.
Como já era hora de retornar do intervalo, nos levantamos e seguimos para a sala. Quando entrei na sala Peterson me olhou rapidamente e voltou a fingir que estava escrevendo algo no caderno.
Na saída fiz questão de parar na frente do Peterson e pedi para que ele me acompanhasse na saída. Ele obedeceu a contragosto e veio atrás de mim. Fomos até uma praça que havia próximo a escola. Nos sentamos no banco e haviam crianças brincando e pessoas fazendo caminhada.
-Olha, desculpa por aquilo no intervalo. Falei e Peterson fez menção de querer dizer algo e eu o interrompi com a mão. – Eu fiquei destruído quando me falou que seus pais pensam ir embora. Toda vez que eu recebo uma noticia muito ruim eu travo, não consigo expressar os sentimentos. Então, eu quero me desculpar. Uma lagrima caiu do meu rosto e eu esfreguei rapidamente. Queria demonstrar ser forte.
-Eu também tenho que me desculpar, sabe, essa pressão que meus pais estão fazendo é horrível. Eu devia ser mais compreensível. Eu assenti quando ele falou da pressão dos pais, isso era algo que, definitivamente, não havia acontecido comigo. Logo, eu poderia apenas imaginar como seria essa situação e não, de fato, saber o que acontecia no psicológico dele.
- Você acha mesmo que eles iriam embora? Perguntei.
Peterson ficou olhando para as crianças que brincavam felizes, exatamente o oposto de nós que estávamos tão angustiados e chorosos, invejei aquelas gargalhadas. Peterson então respondeu.
- Acredito que ele já tenha movido os pauzinhos e tudo não vá demorar mais que semanas. Falou Peterson ainda mais triste nesse momento.
A palavra 'semanas' veio como uma faca.
- E a escola? Ele seria tão egoísta? Indaguei.
Peterson apenas concordou com a cabeça. Em seguida nos abraçamos, acho que ficamos uns dez minutos abraçados, sentia as lágrimas dele no meu pescoço. Mil coisas passaram pela minha cabeça e uma delas martelava muito na minha cabeça. Fugir.
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Adolescência Moderna
RomanceGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...