No Baile

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Quando desci no carro, senti um estranho nervosismo. Tinha esperando tanto por aquele baile e quando estava ali a poucos metros dele, senti minhas pernas cambalear. Parei e respirei profundamente. Danilo que estava alguns passos a frente se voltou a mim e sorriu.

- Está tudo bem? Perguntou. – Não sei. Acho que sim. Conclui. Danilo caminhou de volta até mim e segurou as minhas mãos. – Você precisa apenas de alguns segundos e logo vai querer entrar. Falou Danilo, parecendo minha mãe, o que me irritou um pouco. De onde vinha aquela confiança? Pensei. Ele é apenas um ano mais velho do que eu. E ali pareceu ser 30 anos mais velho. Seria mesmo uma benção ser um velho em um corpo tão jovem. Depois de refletir um pouco percebi que já era hora de entrarmos.

- Posso lhe fazer um pedido? Perguntei sorrindo levemente. – Claro! – Segura minha mão enquanto entramos? Pedi.

Danilo não esboçou nenhuma expressão e apenas balançou a cabeça afirmativamente. De mãos dadas, subimos as escadas que davam acesso ao salão sem nos importar com as pessoas que também estavam entrando. Algumas perceberam e nada fizeram, outras olharam um pouco desconfiadas, preferi pensar que estavam desconfiadas e outras sequer perceberam. Quando entramos no salão principal parecia que todos olhavam para nós, mais tarde defini que não eram todos e sim, 80% das pessoas.

- Parece que o príncipe e o princeso estão causando. Falou Danilo que apontou para si mesmo quando falou príncipe.

- Aí que lindo vocês dois. Gritou a Karen do meio do salão vindo em nossa direção, puxando o Leonardo como se ele fosse um brinquedo. – Fala aí seus lindos. Falou Leonardo de uma forma casual e sincera. Danilo sorriu e apertou bem firme a mão do Leonardo e em seguida se abraçaram como se fossem velhos amigos. Eu não tinha percebido que Danilo e Leonardo tinha uma bela química como amigos e achei isso muito bacana. Em segui fomos abordados pelo garçom que trazia água e refrigerantes e aproveitou a ocasião para nos mostrar onde estava nossa mesa. Quando me sentei com Danilo, Karen e Leonardo, comecei a observar que o salão estava todo enfeitado, mas era estranho porque parecia mais uma decoração reaproveitada de algum casamento, do que um baile de escola. Karen concordou comigo.

Quando começou a tocar Kid Abelha, Danilo me chamou para dançar e eu aceitei porque não tem como ficar parado ouvindo Pintura Íntima. Karen e Leonardo nos acompanharam. Eu nunca tinha ido em um baile antes, então isso significa que não sei dançar, mas eu sabia improvisar. Então quando chegamos na pista de dança comecei a dançar como um Sim do jogo The Sims. Danilo me olhou perplexo e depois começou a me imitar enquanto de riu de mim ou para mim. Quando a musica terminou todos bateram palmas e eu tive muita sede naquele momento. Enquanto ia na direção do bar sem bebidas alcoólicas do salão, vi Rafael vindo em minha direção. Sorri para ele até perceber seu olhar sério para mim. E enquanto ele se aproximava meu sorriso ia se desfazendo.

- O que foi Rafael? Aconteceu algo?

- Você precisar vir comigo. Disse ele seco.

Eu sorri, imaginando que aquela era alguma brincadeira. – Venha, vamos dançar um pouco e depois conversamos. Por Favor.

-Gabriel estou falando sério. Precisa vir comigo. Disse Rafael apontando para uma das saídas. Automaticamente acompanhei seu gesto e quando olhei vi Peterson que nos observava sério. Fechei os olhos pensando ter visto alguém parecido, mas ao abrir ele continuava ali. Mais pálio e mais magro do que eu me lembrava.

- Rafa me diz que não estou vendo Peterson ali na entrada lateral.

- Gabriel, é ele mesmo. Ele quer conversar com você.

Meu coração batia tão forte que parecia que ia sair pela boca. Eu sentia que ia explodir em mil pedaços. Ignorei Rafael totalmente e segui na direção do Peterson, agora, sentindo muita raiva. Antes mesmo da metade do caminho lágrimas escorriam no meu rosto, mas eram de raiva. Raiva das ligações ignoradas, dos e-mails não respondido, raiva da ausência de alguém que eu tanto amava.

- Gabi, vamos conversar. Disse ele. O tom de voz que eu esperei tanto ouvir, agora me dava raiva.

- Não tem o direito de me pedir nada. O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? Gritei tão alto que me assustei com minha própria voz. Rafael que estava ao me lado me conduziu até a saída lateral. – Calma meu amigo. Disse ele quando estávamos lá fora. Eu tremia inteiro e ver Peterson ali me deixava cada vez mais irritado.

- Eu sei que não mereço. Me perdoe Gabriel. Falou Peterson baixinho.

- Rafael, pode soltar meu braço. Não farei nenhuma bobagem. Pedi e Rafael me olhou nos olhos e me soltou se afastando um pouco para nos dar privacidade.

Eu não conseguia parar de tremer e de chorar.

- Você me igno... as palavras falharam e ele deu um passo a frente. – N...Não. falei. – Você, me ignorou e agora vem aqui atrapalhar meu baile?

-Eu posso explicar... Eu o interrompi quando avancei para bater nele, mas ele me segurou com os braços, tragicamente mesmo estando magro ele ainda era mais forte.

- Eu quero bater em você. Me deixe pelo menos isso. Falei. Então ele me soltou.

-Me bate então, eu sei que mereço, mas depois que me bater, quero que me escute.

- Gente, por favor não briguem. Falou Rafael.

- Fique fora disso. Disse Peterson. Quem era ele para falar assim com Rafael. Fechei o pulso e dei um soco na cara do Peterson, bem perto da boca. Aquilo doeu mais em mim, que nele. Minha mão ardia de dor, enquanto ele parecia não sentir nenhuma dor.

-Se sente melhor? Perguntou Peterson.

- N...Não. Falei.

Então ele me abraçou forte. Eu me odiei por deixar aquele abraço acontecer. Eu queria matar ele, mas eu não conseguia. Eu o amava muito. Toda aquela raiva era amor. Quando olhei para trás Rafael não estava mais ali.

- Posso falar agora?

-Pode...

- Desculpe ignorar seus e-mails. Desculpe ter sido um péssimo namorado. Alias nem sei somos namorados. Meu pai fez da minha vida um inferno. Virou alcoólatra, começou a bater na minha mãe e em mim. Demorei muito para conseguir convencer minha mãe que tínhamos que partir e deixar ele para trás. Eu sei que isso não justifica meu sumiço, mas eu simplesmente estava preocupado com minha mãe, ela parecia aceitar apanhar e isso quase acabou comigo, de verdade.

Peterson tinha agora lágrimas nos olhos e eu me senti péssimo, péssimo por não ter ouvido antes de bater nele. Fiquei ainda mais arrasado quando vi o hematoma no rosto e a boca cortada. Ele estava voltando de um inferno e eu o recebo com quatro pedras na mão. Com certeza uma coisa aprendi, a ouvir antes de bater.

- Agora sou eu quem deve pedir perdão. Falei.

-Não... está tudo bem. Estou grato de poder vê-lo novamente. Grato por ter sobrevivido. Eu cheguei hoje com minha mãe e amanha vamos procurar uma casa para alugar.

- Eu tive um namorado enquanto estivemos separados. Falei chorando.

Ele me olhou nos olhos como se analisasse o que eu tinha dito.

- Tudo bem. Fico feliz que não tenha passado o tempo todo só. Não o culpo de nada. De verdade. Falou ele compreensivo.

Eu terminei. Terminei com ele porque eu amava outra pessoa e não se pode namorar alguém pensando em outra pessoa. Falei

- Essa outra pessoa sou eu? Perguntou ele, com meio sorriso.

Sem dizer nada apenas balancei a cabeça afirmativamente. Nos abraçamos e nos beijamos.

- Meu Deus, Peterson? Perguntou Leonardo atrás de nós e quando me virei, estavam Rafael, Karen, Danilo e Leonardo boquiaberto.

De todos ali Danilo foi o que mais me chamou atenção ele parecia estar muito feliz. Satisfeito com meu reencontro com Peterson.

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