Apesar de acreditar que esse dia nunca chegaria, ele chegou. O dia da partida. Tudo aquilo fazia meu estomago embrulhar, o que antes era expectativa, agora se tornava realidade. Uma péssima realidade. Prometi a mim mesmo que seria forte o bastante para não tornar a despedida pior do já seria. Antes de sair de casa e olhar para o céu vi uma irônica e bela manhã. Como era possível o sol brilhar tanto, não parecia certo. Dei um beijo e um abraço em minha mãe, que se ofereceu para ir comigo. Recusei educadamente, prometendo que se necessário a chamaria pelo telefone. Segui a passos lentos até rua de cima onde passava o ônibus. Os olhos queriam se inundar de lagrimas, mas eu não podia quebrar a promessa que me fizera. Inspirei até encher os pulmões e expirei soltando um gemido.
Meia hora depois me encontrava no conhecido ponto de ônibus perto da casa do Peterson. Meu corpo não queria sair do ônibus. O cobrador me olhava, franzindo a testa. O ônibus parado e a porta aberta para mim. Fechei os olhos rapidamente e antes que houvesse qualquer manifestação do cobrador, saltei, pareceu que eu tivera caído, tamanha fora a velocidade que passara pelas escadas. O jeito era seguir, cada passo, como se afundasse em areia movediça. Era uma tortura que nunca imaginei passar na vida. Quando entrei na rua avistei o caminhão de mudança. Não havia sinal do Peterson ou seus pais. Apressei o passo como se aquilo fosse adiantar alguma coisa.
- Oi, tudo bem? Eles já foram? Perguntei ao homem que saia da casa com uma caixa.
- Opa, acho que sim, não estou vendo o carro deles mais. Falou o homem que seguiu para colocar a caixa dentro do caminhão.
Aquilo veio como uma bomba, não entendia o que tinha acontecido, porque Peterson me dissera que iriam partir as 10:30, peguei o celular para conferir a hora, eram 9:54. Me sentei na calçada, arrasado. Olhei para o céu azul e lindo daquela manhã, parecia um humor negro. Se ao menos estivesse nublado e chovendo, pensei. Naquele momento tudo passou pela minha cabeça. A festa, o hospital, o jantar em casa, os beijos e o anel. Olhava fixamente o anel, me sentindo totalmente perdido. Alguém veio por trás e tapou meus olhos com as mãos, uma leve brisa soprou e ao sentir o perfume amadeirado meu coração bateu mais forte. Me levantei me desvencilhado das mãos, era o Peterson parado ali, quase sorrindo.
- Meu deus, Peterson. Pensei que já tinham ido. Minha voz saiu quase como um choro.
- Vem cá, me dá um abraço, desculpe. Disse ele me abraçando.
- O rapaz disse que vocês já tinham ido. Comentei.
- Na verdade o maldi... o meu pai, queria ter ido mesmo, por sorte ele esqueceu algo e saiu com minha mãe, para comprar.
- Eu não sei se aguento isso. Falei segurando a mão do Peterson.
- Nem eu, isso é péssimo, a gente não merece isso. Neste momento a linda manhã a nossa volta perdeu força e nossa volta parecia ter uma nuvem pesada de chuva. O pesar de ambos era nítido a quilômetros. Apesar de sabermos de que teríamos que nos despedir, ficou claro que ambos esperávamos por um milagre. Passamos pela lateral da casa e fomos até o quintal onde ficava a construção de madeira. Ao entrar vi o sol entrando pelas frestas entre uma madeira e outra.
- Foi aqui que tudo começou. Falei. – Não meu amor, tudo começou no primeiro dia que te vi na escola. Ao falar os olhos do Peterson se encheram de lágrimas.
-Não vamos chorar, não ainda por favor. Pedi. – Foi aqui que rachei sua cabeça. Peterson deu uma breve risada.
- Foi a melhor/pior coisa que já me aconteceu. Repliquei enquanto me sentava num banquinho de madeira. Fiz um gesto para Peterson se juntar a mim. Nos esprememos no banco o que de fato era muito bom. Olho no olho, falei o que veio a na cabeça. -Eu te amo, não sei se é para sempre, mas aqui nesse momento sentado nesse minúsculo espaço eu te amo. Peterson me olhava sem palavras e visivelmente surpreso e então pegou a minha mão e colocou perto do seu peito. Era evidente as batidas aceleradas do coração dele. Era uma espécie de idem. Nos beijamos, um beijo totalmente apaixonado. O ultimo beijo.
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Adolescência Moderna
RomanceGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...