Mil e uma coisas.

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A exatamente uma semana ficamos sabendo os verdadeiros planos dos pais do Peterson, eles iriam mesmo embora, apesar disso, tentava não me afogar no meu desespero. Minha mãe, parada na entrada do meu quarto me observava. Eu tentei esboçar, pessimamente, um sorriso. Ainda segurava o telefone na mão, pois a pouco falara com o Peterson que parecia tão desolado quanto eu. – Filho... Minha mãe hesitou antes de continuar a falar, parecia analisar o que ia dizer. – Eu, queria poder fazer algo por vocês, de verdade. Falou, se sentando ao meu lado na cama. Quando olhei para seus olhos não pude evitar o choro. – Eu acho que vai ficar tudo bem. Murmurei. O abraço dela foi o melhor presente que poderia querer.

Peterson me dissera na ligação que iriam embora logo após as provas bimestrais que seriam daqui um mês. Imaginei como seriam aquelas quatros semanas, cada dia, seria uma contagem regressiva para nossa separação. O que podíamos fazer? Fugir? Seria covardia com minha mãe.

A campainha tocou, minha que já estava na sala, foi atender. Escutei a voz do Rafael, quando pensei em levantar o escutei vindo até meu quarto. – Gabriel, está um dia lindo lá fora e é domingo. Venha vamos dar uma volta. Eu pensei em recusar, até que percebi que Rafael, pela sua feição, não aceitaria nada menos que um sim.

Trinta minutos depois estávamos no parque, bem no centro da cidade. O sol estava fraco o que eu gostava. Rafael estava comendo pipoca salgada, eu não sentia vontade alguma, mesmo adorando comer pipoca. Caminhamos em silêncio, por mais ou menos vinte minutos, o que não era muito típico dele, sempre falando, fazendo piadas ou cantando. Aquilo estava bem terapêutico, quando estamos em silencio e um lugar aberto, observamos as pessoas, os sons e os cheiros. A parte do cheiro naquele momento ficava pelo queijo da pipoca do Rafael. Vi uma senhora, sozinha, lendo um livro que demonstrava ser antigo, devido suas páginas amareladas. Um rapaz bem musculoso passou pela gente, pois estava fazendo corrida. Duas crianças brincavam na gangorra totalmente felizes. Percebi que estava sorrindo para aquela cena, umas das crianças olhou para nós e acenou. – Estou feliz em ver um sorriso nesse rostinho. Comentou Rafael colocando uma pipoca na boca. – Eu ainda tenho os músculos da face. Murmurei. – Oh Deus, isso foi uma piada?! Indagou surpreso e em seguida soltou uma breve gargalhada. Eu fitei seu rosto, grato por ter um amigo como ele, que sempre faz o possível para nos alegrar.

-Gabi, lembra aquele dia que estávamos na sua casa? Indagou Rafael. – Qual dia, foram tantos? – Nossa é mesmo. Rafael tornou a rir, dessa vez mais alto. A senhora que lia seu livrou nos olhou por uns instantes e voltou a repousar o olhar no livro. – Vou ser mais específico. Estou falando do dia em que disse que gostava de uma garota. Rafael ficara sério naquela ultima frase. – Ah sim, claro que lembro. Está pronto para me dizer que é?

Rafael não falou nada, continuamos andando mais ou menos uns vinte passos até chegar próximo ao lago e uma brisa nos recebeu perto da beirada. Nos sentamos na grama.

- Acho que sim. Falou ele de um jeito incomum, sério.

Fiquei observando ele, por uns instantes imaginando que ele iria dizer. Tinha certeza que ele gostava da Karen então estava pronto para não me surpreender. Olhei para o horizonte e um senhor estava pescando do outro lado do lago. Decidi quebrar o silêncio.

- Pode falar rafa. Eu sou todo, ouvidos.

Ele me fitou por uns instantes como se estivesse analisando minha expressão e semicerrou os olhos.

- A pessoa que estou apaixonado está bem na minha frente. Falou rapidamente.

Olhei para trás imaginando que tinha alguém ao meu lado, mas não havia ninguém. Olhei para Rafael, sua expressão estava séria como nunca havia presenciado.

- Rafael, qual é a brincadeira? Falei rindo.

Para minha surpresa ele se levantou e foi embora dizendo que tinha tarefa de casa para fazer. Neste momento caiu a ficha, o jeito como ele havia mudado nos últimos tempos, as roupas. Ele queria chamar minha atenção. Fiquei ali sentado por dez minutos, tentando digerir tudo aquilo. Quanto mais pensava mais confuso as coisas pareciam e foi então que decidi ir para casa a pé.

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