Naquele dia mais tarde, logo após me despedir de Karen que fora me visitar, peguei o celular e corri na lista de contato até Peterson. Chamou cinco vezes até cair na caixa postal. Fui até a cozinha enquanto minha mãe cozinhava, o cheiro estava muito.
- Quanta dedicação! Falei sem ânimo.
- Não é todo dia que meu filho trás o boy para jantar! Disse ela rindo e enquanto provava um pouco do molho. -É boy que vocês falam hoje em dia, não é? Continuou ela.
Eu virei os olhos automaticamente. – Tanto faz. Acho que ele nem vem, estou tentando falar com ele e não me atende.
Minha mãe fez uma expressão que eu não gostava, expressão de pena. Aquilo me irritou e voltei para quarto e tornei a ligar e mais uma vez, ouvi o sinal da caixa postal.
- Se não fosse vir podia ter avisado pelo menos. Falei gravando na caixa postal dele em seguida joguei meu celular na cama que por sorte não caiu no chão. Sentei no pufe que ficava ao lado da escrivaninha, olhei para o notebook pensando em ligar ele, mas desisti. Comecei a observar meu quarto como se fosse um visitante. Olhei a cama desarrumada, os pôsteres de bandas na parede acima da cabeceira, as cortinas com desenhos de sol e lua. Me levantei e fui em frente ao guarda-roupa de portas espelhadas, me olhei e via o quarto atrás de mim. A campainha tocou. Meu coração acelerou e engoli seco. Minha mãe parecia continuar na cozinha. Decidir ir atender a porta. Minha mãe já estava no corredor com uma expressão engraçada quando passei por ela. Fui até a porta da sala, respirei fundo e a abri. Não havia ninguém e quando estava prestes a fechar vi uma pequena caixa de presente no chão. Me agachei para pegar o mimo do chão. Na hora eu pensei ser alguma piada do Rafael, até observar o: DE PETERSON, PARA GABRIEL. Juro que tive vontade de jogar longe a caixinha com um laço meigo, pois com certeza viria uma desculpa ridícula para não ter comparecido. Fui até a cozinha segurando a caixinha me sentindo sem graça. Mas minha mãe não estava lá. Decidi não esperar por ela e abri a caixinha. Dentro havia um bilhete: Aproveita a noite estrelada e venha no quintal. Já tinha sacado, Peterson queria me encontrar no quintal, achei aquilo ridículo.
- Mãe cadê você? Gritei, mas não tive resposta.
Decidi então ir para o quintal que estava escuro, apertei o interruptor, mas a luz permanecia apagada, talvez queimada, abri devagar a porta. Olhei para o céu as estrelas realmente estavam lá.
- Peterson. Sussurrei.
Ouvi um clique e as luzes externas acenderam revelando Peterson e minha mãe que estavam vestidos elegantemente. Peterson de camisa preta, cabelo penteado, calça de sarja e sapato e minha mãe de vestido amarelo. Atrás deles uma bela mesa evidenciava que aquilo fora planejado em mínimo detalhes. Quando Peterson se aproximou lhe dei um empurrãozinho e ele me abraçou.
-Vamos comer, senão vai esfriar. Disse minha mãe toda empolgada.
-De quem foi a ideia perguntei enquanto nos sentávamos.
- Foi dele. Quando ele me ligou, nem acreditei, estava muito empolgada. Deu uma gargalhada gotosa.
Fiquei de frente ao Peterson, na mesa que ficava no quintal e minha mãe entre a gente.
- Vou servi-los. disse ela.
- Mas espere... como sabia o telefone da minha mãe?
-Karen. Disse Peterson sorrindo.
Amei ouvir o nome dela, minha amiga, tão fiel.
-Peterson é um amor, não estrague isso filho. Disse minha mãe enrolando macarronada no garfo.
- Mãe, isso é coisa que se fale? Corei
-Tudo bem, Gabi, eu adoro sua mãe. Peterson deu uma garfada do delicioso macarrão.
- Sabe, o pai do Gabriel, era romântico também, seria bem a cara dele fazer isso, tenho certeza. E onde quer que esteja ele está vendo isso.
Eu sorri para ela percebi o quanto ela estava emocionada com tudo aquilo. Segurei a mão dela. Peterson nos observava com um olhar terno.
-Ah, esqueci uma coisa! Exclamou genuinamente Peterson. E se levantou indo ao canto escuro do quintal. Eu e minha mãe o vimos sumir e reaparecer com um buquê de flores na mão, apesar de clichê, achei lindo.
-Obrigado, falei estendendo a mão.
-Não são para você, Gabi, desculpe. Se virou a minha mãe que ficou boquiaberta e recebeu o presente.
-São lindas, Peterson, obrigada. Minha mãe estava realmente surpresa.
Terminamos de jantar e minha mãe nos ofereceu sobremesa, negamos ao mesmo tempo, Peterson e eu.
- Já entendi, querem ficar sozinhos. Falou ela sorrindo demais.
- Mãe!? – Eu sei filho, já fui adolescente e já vai começar a minha novela mesmo.
- Obrigado pelo jantar Sra. Lid... Digo Lídia. Falou Peterson.
-De nada meu anjo volte mais vezes é um prazer te receber.
No quintal de casa havia um banco, decidimos sentar lá, minha mãe apagou de proposito as luzes, nos deixando obrigatoriamente a luz da Lua e das estrelas. Peterson pegou a minha mão. O céu estava magicamente límpido, era possível ver muitas estrelas naquela noite. Ficamos em silêncio mais ou menos uns dez minutos e então o Peterson colocou algo gelado em minhas mãos. Tateei com os dedos era um anel.
- É você, esse alguém que eu tanto quero? Perguntou Peterson baixinho, quase um sussurro.
-Sim. Sussurrei com medo da infelicidade ouvir.
-Esse é o meu. Coloque no meu dedo. Falou baixinho para mim. Eu obedeci.
- Agora me de sua mão. Falou. Eu sorri, os olhos quase em lágrimas.
Senti o anel encaixando no meu dedo. E virou e me beijou com carinho, com amor.
Eu flutuava naquele momento. O céu, as estrelas o quintal que eram sem graça até então, ficaram majestosos. Peterson deitou no meu colo, olhou para mim e sorriu.
- Nunca pensei que isso fosse acontecer. Falou
- Nem, eu. Foi tudo tão...Inesperado. Sorri.
Meia hora depois estávamos na porta da sala. Minha mãe já havia se deitado.
- Tenho que ir. Está tarde. Lamentou Peterson
- Por Favor não vá! Falei olhando para o chão.
Peterson pegou meu queixo e levantou meu rosto me beijando.
- Até amanhã. Ele disse
- Até... falei. Peterson se foi, dando o mesmo sorriso, que fizera alguns dias antes, ao desaparecer do meu campo de visão.
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Adolescência Moderna
RomanceGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...