Era uma manhã como qualquer outra na escola, exceto pelo fato da Karen estar batendo papo com o Leonardo, do outro lado do pátio. Vi ele passar a mão direita nos cabelos e parecia bem concentrado no que a Karen lhe contava. Esperava o Peterson e não havia sinal do Rafael.
Alguns alunos esporadicamente me apontavam, bem provável que falassem do ocorrido no dia anterior, eu para dizer a verdade, nem me importava. Minha manhã estava bem tranquila até ver a Claudia, vindo em minha direção.
- A mocinha, além de tudo é um dedo duro? Falou em total deboche.
Estava decidido a não ceder a provocação e isso a deixava irritada, então para completar falei – Eu não sei do que está falando, querida, Claudia. E dei uma piscadinha. As sardas do rosto ficaram ainda mais marcadas, agora que seu rosto se envermelhara de puro ódio.
- Que bom que não sabe, porque todos os pais serão chamados para uma reunião hoje a tarde! E é bem provável que eu fique de castigo! Por sua culpa! Gritou a garota.
- Que lástima Claudia, agora me deixe ir chorar em algum lugar. Sai deixando ela para trás. Para minha sorte vi Rafael e fui me juntar a ele.
- Nossa, essa menina tem problema! Concluiu Rafael após eu lhe falar sobre o que tinha acontecido a uns instantes atrás.
Depois Rafael se sentou num banco e me sentei ao seu lado. Agora dava para perceber que algo o chateava, cheguei a abrir a boca para perguntar, mas desisti. – Que vida chata. Disse ele para ninguém. Sua expressão não demonstrava estar falando comigo, mesmo assim, lhe dirigi a palavra. - O que é chato? - Eu falei alto? Era só um pensamento. Murmurou ele.
-Rafa se quiser conversar, por mim tudo bem. E se tem algo a ver com esse novo Rafael, por favor, me fale. Disse analisando o novo estilo dele. As roupas pretas foram trocadas por jeans azuis, e camisetas básicas. Era fato, que ele mudara e como eu tinha vivido muitas coisas nesta ultimas semanas, não houve um tempo para conversamos. O sinal tocou nos avisando que era hora de ir para sala, só assim percebi que o Peterson não havia chego.
Na sala de aula eu não parava de olhar o celular, havia lhe mandando uma mensagem, mas ele não respondera. Passou a primeira aula, a segunda e já estávamos na terceira aula.
- Gabi, calma não deve ter acontecido nada. Falou a Karen.
- Estou preocupado, meu namorado sumiu. Falei lhe mostrando o anel.
-Ga...Karen quase gritou – Gabriel! Que lindo. Falou baixinho. O professor de Biologia nos olhou e continuou com a matéria sobre as plantas aquáticas. Para meu azar Claudia viu, odiava o jeito como ela me olhava, se eu pudesse expulsava ela da minha vida.
Na hora do intervalo, Karen conversava alguma coisa aleatória com Rafael, para ser sincero eu não prestava atenção, eu estava mesmo preocupado com o Peterson. Olhando as mensagens vi a última mensagem que ele me enviou: oi meu amor, cheguei bem, adorei o jantar, bjos. Não pude deixar de sorrir ao reler e em seguida franzi a testa. Disquei mais uma vez e nada.
Mal consegui me concentrar, quanto mais o professor falava mais eu me irritava, levantei rapidamente e sem pedir permissão, simplesmente sai da sala. Decidira ir na secretária saber se havia alguma informação sobre a ausência do Peterson. Perola a simpática atendente, me deu um sorriso assim que viu e isso quebrou um pouco do meu nervosismo.
-Sei que não tenho nada ver com isso. Falei
-Mas. Disse ela arqueando a sobrancelha.
- Preciso saber porque o Peterson não veio. Quase gritei. Perola me olhou por alguns segundos, talvez pensando no que deveria dizer e então ela se ajeitou na cadeira e sorriu.
- Entendo a preocupação, ele parece estar doente, a mãe dele nos avisou.
Doente, pensei. Agradeci e sai dali. Sentei no pátio, sabia que não poderia voltar a sala de aula. Porque ele não atende o telefone, porque não me manda mensagens, tudo aquilo martelava minha cabeça. Faltava pouco tempo para a saída e tinha um novo objetivo, ir na casa do Peterson. Por sorte o inspetor não me viu enquanto esperava ansiosamente o sinal bater, para dar o fora dali.
Meia hora depois estava no ônibus que me levaria até a casa do Peterson. No meio do trajeto enviei mensagens para Karen e Rafael para não os deixar preocupados. Meu telefone tocou era minha mãe.
- Filho, aconteceu algo na escola? Falou ela.
-Sim, aconteceu, eu não queria te preocupar.
- Okay estou indo para lá, me chamaram para uma reunião, mais tarde conversamos em casa. Aquele final de frase me deixou apreensivo, ainda mais que hoje tinha fugido da sala.
O cobrador me avisou onde deveria descer. Após deixar o coletivo, peguei o celular para ver o aplicativo de mapas. Para minha sorte a casa dele era a três quarteirões dali.
Fui caminhando tentando lembrar do que vira na noite da festa, mas tudo parecia diferente, até porque havia ido de carro. Após uns dez minutos de caminhada lenta, cheguei a sua rua, ela era um pouco extensa, mas para minha sorte sua casa era a quarta, a reconheci logo que dobrei a esquina. Meu coração já começava a bater forte.
Observei a casa antes de ir até a porta, e lembrei da festa a passagem lateral que saia da garagem até o quintal, o beijo e tudo mais, sorria para o nada.
Ouvi um estalo de porta sendo destrancada, e vi uma mulher muito elegante e aparentemente triste, me olhando. – Posso ajudar? Sua voz era firme.
-Oi, desculpa estar parado aqui, eu vim ver o Peterson, fiquei sabendo que ele está doente. Falei.
- Ele não pode receber ninguém! Falou ela de uma forma grosseira.
- Você pode ao menos dizer a ele que Gabriel está aqui. Mantive a voz firme.
- Então você é o maldito Gabriel. A mulher veio em minha direção e apertou meu braço com força.
-Me solte, a senhora está me machucando. Falei, mas queria gritar por ajuda, foi então que a voz do Peterson apareceu atrás dela a porta da casa.
-Mãe! Solte o Gabriel. Gritou ele. A mãe dele soltou meu braço e se ajoelhou na grama parecendo arrasada e chorando.
Ignorei ela e fui abraça-lo. Ele me abraçou e nos beijamos.
Foi então que percebi que seu olho estava roxo e a boca machucada e inchada bem no canto. Parecia ter levado uma surra. – O que houve? Perguntei.
A mãe dele passou pela gente e entrou na casa batendo a porta com força. Peterson olhou para a porta e me olhou nos olhos com um ar de pura tristeza, meus olhos se encheram de lágrimas. – Meu pai, ele descobriu sobre a gente. Ele veio conversar comigo ontem, e eu confirmei tudo e inclusive disse que estava na sua casa e que estamos namorando. E então ele começou... Peterson começou a chorar e respirou fundo enquanto eu segurava sua mão. – Ele começou a me bater e me xingar, foi horrível. Eu estava de coração partido, mas tinha que ser forte naquele momento.
- Você não pensa e denuncia-lo? Perguntei.
-Não posso, apesar de tudo ele é meu pai. Os olhos do Peterson estavam vermelhos.
-Porque não atendeu o telefone ou deixou mensagem, estava tão preocupado.
- Meu amor, me desculpe, mas ele jogou meu telefone na privada, ele está mesmo muito furioso. Acho melhor você ir embora inclusive. Ele foi na maldita reunião da escola. Falou ele.
Aquele pedido me deixou apavorado, deixar meu namorado ali com os pais intolerantes. Não sabia o que dizer, mas deveria obedecer, não queria ver ele apanhando ainda mais por isso. No impulso lhe dei meu telefone, imaginando que a mãe dele não estivesse olhando, evitava fazer contato com a casa. – Por Favor, esconda e assim poderei saber de você. Falei colocando o telefone no silencioso. – Obrigado! Disse ele escondendo o telefone no bolso. Se aproximou e me deu um longo abraço e me beijou. O vi entrar dentro de casa e pude ouvir sua mãe gritar com ele. Não tive alternativa a não ser ir embora. Quando cheguei na esquina percebi que não precisava ser mais tão forte. Caminhei as três quadras chorando e me sentei no ponto de ônibus. Evitei ao máximo não imaginar o pai dele o agredir, mas era impossível a imagem do Peterson todo machucado me assombrava e eu não podia fazer nada naquele momento.
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Adolescência Moderna
RomanceGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...