Enquanto caminhava para casa naquele domingo de sol, que agora se despedia, pude refletir sobre tudo que acontecera até aquele momento. Minha paixão platônica pelo Leonardo, em seguida o namoro com Peterson e por último a revelação do Rafael. Seis meses atrás eu era apenas um adolescente comum e agora tanta coisa se passava na minha cabeça. Respirei fundo antes de atravessar a avenida central, o vento cortou meus cabelos. Queria tanto conversar com Rafael, mas sinceramente, não sabia o que dizer. Me coloquei em seu lugar e imaginei o quanto Rafael devia ter sofrido em silêncio. Pensei em falar com a Karen e logo pensei não ser uma boa ideia, afinal, Rafael devia ter se revelado apenas para mim. Segui caminhando e observando paisagens que antes não havia percebido, assim como o Rafael gostar de mim. Prédios com fachadas inteiras grafitadas, árvores das mais variadas. Enquanto caminhava eu aprendia a ver um mundo de outro ponto de vista, que até aquele momento, ignorava. Percebi as pessoas, as brancas, as negras, as pardas. Os estrangeiros que dividiam espaço com os conterrâneos na entrada do mercado central. Os cheiros das mais variadas comidas. Me vi ali no mercado municipal, local que provavelmente passaria longe. Vi o quiosque de pastel onde lanchei com Peterson, no outro dia, mas não tinha fome naquele momento. Sai pela terceira saída do mercado. Segui pela avenida onde Rafael, Karen e eu havíamos passado na noite da festa, festa em que tudo começou. Parecia que estava fazendo uma retrospectiva. Quinze minutos depois me encontrava na rua de casa. Fiquei observando ela por uns instantes antes de entrar, vi as arvores que balançavam com o vento como se estivesse dançando. Alguns carros estacionados e o céu agora azul escuro.
- Oi filho. Disse minha mãe assim que fechei a porta da entrada. – Oi. Respondi. - Está tudo bem? Indagou ela. – Vai ficar. Respondi. Ela sorriu surpresa com minha resposta.
Estava decidido a não sofrer por antecipação, queria respirar e absolver uma coisa de cada vez. Decidi ligar para o Rafael. Chamou sete vezes até cair na caixa postal. Pensei que ele estava me ignorando e então o telefone tocou novamente, era ele retornando.
- Rafael, oi. Falei – E ai? Retrucou ele.
-Você pode vir aqui em casa? Perguntei – Claro já estou na rua da sua casa. Eu juro que ele falou em tom de brincadeira. O que me obrigou a ir até a frente da casa. E lá estava ele na calçada da minha casa. Eu sorri ao ver ele e fiz um sinal para que ele entrasse. Quando passamos pela minha mãe, ela nos perguntou se queríamos jantar, Rafael respondeu por nós, que sim. Entramos no meu quarto e fechei a porta, apesar da minha mãe ser tranquila, eu não queria que ela ouvisse nossa conversa. Sentei na cama e Rafael sentou no carpete se encostando na cama. Aquilo tudo era constrangedor, então decidi começar. – Rafa, antes de tudo, preciso saber se falou sério comigo lá no parque. – Eu te amo Gabriel, e te ver com o Peterson foi a coisa mais difícil que eu vivi, mas eu aceitei porque você está feliz e percebi que quando a gente ama alguém, queremos ver essa pessoa feliz. Quando Rafael terminou de falar ele deu um suspiro, para evitar um choro. Aquilo foi a coisa mais linda que ouvi dele desde que nos conhecíamos. E antes que eu pudesse dizer algo, ele continuou. – Sabe, eu não quero atrapalhar nada, eu só queria te contar, porque apesar de tudo que tem lhe acontecido, quero que saiba que eu torço muito por vocês. E não estranho Peterson gostar de você, você é apaixonante. Rafael agora estava ao meu lado na cama. Bem perto de mim para dizer a verdade. E eu não o evitei, apesar de imaginar o que ele estava prestes a fazer. – Eu... Eu agrade... Rafael me beijou, desajeitadamente, eu não correspondi de imediato, até que ele segurou meu rosto. Fechei os olhos. Eu queria repelir ele e ao mesmo tempo achava que devia isso a ele. Quando pensei em afasta-lo lentamente para não parecer indelicado uma voz nos fez pular.
- O que está acontecendo aqui!? Era Peterson enfurecido na porta. Enquanto me perguntava mentalmente como ele abrira a porta tão silenciosamente. Peterson partiu para cima do Rafael. Aquilo parecia bem uma novela mexicana, porém infelizmente eu era o protagonista. Fiquei entre os dois e por sorte, eles não partiram para a briga.
-Peterson por favor, eu posso explicar. Falei. Peterson me lançou um olhar furioso e depois olhou para o Rafael e saiu rapidamente. Aquele domingo realmente não era meu dia. Sai correndo atrás do Peterson e o alcancei no final da rua de casa, implorei para ele voltar e como ele não se moveu, aproveitei para conversar com ele ali mesmo no meio da rua.
- Peterson, Rafael hoje se declarou para mim. Falei. Peterson fez menção de voltar lá dentro, vi ele cerrar os punhos, provavelmente para bater no Rafael. – Que lindo, então agora vocês serão namoradinhos? Indagou quase gritando Peterson. Eu ignorei aquela pergunta, pois eu não estava na vantagem. – Olha Peterson, Rafael é meu amigo e seguiremos assim, ele veio aqui para conversar e saiu aquele beijo. Ele me disse que está apaixonado e eu não queria ser indelicado com ele. Se fosse qualquer outra pessoa eu teria empurrado, sei lá. Peterson me olhava fixamente e então respirou fundo. – Olha se eu ver ele te beijando mais uma vez eu não respondo por mim. Eu gostei de ouvir aquele comentário. Abracei Peterson bem forte ele correspondeu e um sentimento de alivio me invadiu. E em seguida me deu um beijo e se despediu. Quando voltei, Rafael estava jantando com minha mãe e me juntei a eles. – Está tudo bem! Falei antes que eles perguntassem. Depois do jantar, Rafael e eu limpamos a cozinha e sentamos para conversar. – Rafael eu te entendo, de verdade, mas isso, o beijo, não podemos repetir. Do fundo do meu coração eu não quero perder sua amizade. – Eu te entendo Gabi, mas eu precisava tentar, certo? – Certo! Respondi. Já estávamos na entrada da casa, Rafael estava de saída. Nos demos um longo abraço. Rafael por mais estranho que pareça, saiu feliz. Outra segunda onda de alivio me contemplou naquele dia. Não havia perdido a amizade com o Rafael.
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Adolescência Moderna
RomanceGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...