A Cantada

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Na manhã seguinte minha mãe me acordou, como não tinha colocado o telefone para carregar ele estava morto do meu lado. Ao acordar a primeira coisa que vi foi a poltrona do meu pai. Havia dormido confortavelmente no sofá. Logo minha mãe retornava da cozinha com uma bandeja com café, torradas e queijo. Me senti um marajá. Ela sentou ao meu lado saboreando uma torrada. – Está melhor! Falou com a boca cheia. Em seguida começou a rir. – Estou sim, Que horas são? – São oito horas. Falou tranquilamente. Antes que eu pudesse levantar correndo, ela me adiantou que não iria trabalhar naquele dia e que tinha ligado na escola avisando a minha ausência.

-Mãe porque não foi trabalhar? Perguntei. – Não estava afim. Falou.

Ficou um silêncio e minha mãe deu uma risada muito engraçada

- Meu bambino, achei melhor passarmos um dia juntos, que não seja sábado ou domingo. Então pedi uma folga que estava merecendo.

Eu pensei em repreende-la por causa disso, me contive. Quem era eu para fazer isso, o mentiroso do bairro, da escola, do mundo. – Obrigado mãe. Foi tudo o que pude dizer.

Ela sorriu e combinou de ficarmos ali, esparramados no sofá, até a hora do almoço, porque íamos almoçar no shopping. Ficamos ali pulando de canal em canal, foi engraçado descobrir canais de tv que nunca tínhamos visto, um em especial me chamou atenção por que no programa em exibição, um homem de quarenta e poucos se aventurava pelo país viajando de carro. Senti um pouco de inveja dele em sair por aí viajando, conhecendo pessoas. Imaginei que nem tudo era um mar de rosas, porém a recompensa, em forma de liberdade era tentadora.

Olhei no relógio, eram onze e meia. Levantei, fui tomar banho. Enquanto a água da ducha massageava meu rosto, fui colocando os pensamentos em ordem. Imaginei chegando na festa, como me comportaria. Me dei conta que a Karen estava certa, não somos o tipo de pessoas que vão em festas. Somos o tipo, cinema, pipoca, banco imobiliário. Rafael se juntou a nós e mesmo com aquele jeito punk, também era como a gente. Fechei o chuveiro e fui para frente do espelho embaçado. Com as costas dá mão eu limpei para poder me ver. Olhei para meu corpo magro, me analisei passando as mãos no peitoral, baguncei meus cabelos e fiz uma careta.

-Gabriel, anda logo vamos chegar tarde na praça de alimentação. Gritou minha mãe na garagem.

Coloquei a calça e percebi que ela estava um pouco folgada. Da janela gritei, perguntando para minha mãe onde estavam o meu cinto.

- Na segunda gaveta. Gritou.

Pequei uma camisa sem manga, estampava com desenho de nuvens com raios. Passei um creme no cabelo e saímos para o shopping.

Decidimos que iriamos comer um lanche com chá gelado sentamos numa mesa próximo a uma janela. -Gabriel você tem que tomar mais sol, está muito pálido ultimamente. Comentou minha mãe. – Você acha? Perguntei. -Com certeza. Ela sorriu dando uma mordida no lanche. Próximo a gente haviam dois rapazes almoçando. Um deles não parava de me olhar. Eu estava ficando envergonhado. Enquanto conversava distraidamente com minha mãe. Percebo alguém parado ao meu lado. Era um dos rapazes da mesa.

- Com licença?! Desculpa incomodar, meu amigo ali pediu para lhe dar isso.

Era um pedaço de papel com uma frase, um nome e um número. Minha mãe parecia querer rir e eu devia estar vermelho como um pimentão. Pensei em jogar o papel no chão, porém seria muito indelicado.

- Obrigado. Disse. E o rapaz voltou a mesa.

Te achei muito gatinho

Saulo 12 9XXXX-XXXX.

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