Rafael é único de nós que tem habilitação, então ele conseguiu o carro do pai emprestado para podermos ir o mais descolados o possível. Quando chegou na porta da minha casa deu três buzinadas bem animada. Cheguei na sala e minha mãe estava na sala vendo novela.
- Como estou? Falei
- Parece um 'Princeso'. Disse ela quase rindo.
-Ok Gracias.
- Não, olhe, está mesmo lindo de morrer. Disse me dando um abraço forte.
Rafael fez questão de dar outra buzinada, provavelmente queria que todo mundo visse que ele estava dirigindo. Antes de entrar no carro ouvi minha mãe dizendo atrás de mim que não voltássemos muito tarde e que não bebêssemos. Quando entrei no carro percebi que o velho rafa se transformou no novo rafa, cabelo penteado, roupas da moda.
- Onde, está o Rafael? Perguntei. Ele apenas revirou os olhos.
Karen, como sempre, estava deslumbrante no vestido preto e uma jaqueta jeans, estava a garota mais casual chique que já havia visto. Quando chegamos na frente da casa percebemos a Lucia ao lado dela.
- Se cuidem meninos. Disse Lucia.
Coloquei uma música do Billy Idol para tocar no rádio e seguimos rumo a tão esperada festa. Rafael para meu azar dirigia igual minha mãe, daquele jeito meio incomodo. É a mesma sensação que se tem quando é carregado na bicicleta, a sensação que vai cair.
- Devagar, Rafael. Repreendeu Karen que tentava, sem sucesso, passar lápis no olho.
Depois que saímos do nosso bairro pegamos uma importante avenida que nos levaria no bairro vizinho onde a festa aconteceria. Nesse momento tocava uma música do Joy Division. A noite não estava muito fria, abaixei o vidro e senti o vento em seguida fechando os olhos. Naquele momento senti vontade de dizer aos meus amigos que eu era gay, porém preferi o silêncio e o vento. Tivemos que parar um pouco depois para comprar bebidas, ou melhor refrigerante. Me senti tentado a comprar vodca, mas Karen me olhou com aquela cara de mãe, quando diz não a um filho. Rafael não fez questão de comprar bebida, porque estava dirigindo. Não foi difícil achar a casa do Peterson, difícil foi estacionar em um lugar bom. Por fim Rafael conseguiu parar no fim da rua e voltamos a pé.
Quando chegamos na frente da casa já pude ver o pessoal da escola perto da entrada, e a festa se concentrava na garagem e passava pela lateral até chegar no quintal. Peterson quando no avistou veio todo sorridente
-Até que enfim o trio chegou. Disse ele pegando nossas sacolas e analisando – Pô, só trouxeram refrigerante?
- Sim. Respondi sem graça.
-Não tem problema, a gente tem bastante bebida, vamos misturar esses refrigerantes com a vodca. Disse Peterson
Karen me olhou querendo me matar, dei de ombros, a casa não era minha, a festa não era minha.
-Vamos nos entrosar! Disse Rafael pegando um copo e indo buscar refrigerante.
Eu comecei a dançar no ritmo da música anos 80 que começava a tocar, Rafael nos trouxe refrigerante. Peterson voltou nos dizendo que na mesa da cozinha tinha os comes e deu uma bebida para Karen, olhei para ela e ela tomou quase que instantaneamente. Arregalei os olhos.
- Já que estamos aqui, vamos botar para quebrar! Disse ela.
- Meu Deus, eu também posso? Perguntou Rafael.
Eu e a Karen falamos juntos: NÃO!
Rafael fingiu tristeza, mas estava dançando a próxima música de uma forma bem descontraída. Peterson me trouxe uma bebida, misturei ao resto de refrigerante que tinha no meu copo. Quando olhei para o lado vi a Claudia nos observando desviei o olhar. Karen dançava de uma forma bem leve junto com Rafael. 'Até que não é tão ruim as festas.' pensei. Parece que o Peterson sempre dava festas, porque seus pais viviam viajando.
Escutei uma comoção, quando me virei vi o Leonardo chegando com uma garrafa de vodca na mão. Antes que eu pensasse em algo, Karen foi em sua direção e pediu vodca.
Eu fechei a cara em puro ciúme, queria fazer o mesmo, mas seria ridículo.
- Nossa Karen, está bem alegre hoje. Comentou Leonardo
- Eu sou alegre meu amor. Disse ela
Leonardo deu um sorriso tão maravilhoso que eu ficaria paralisado se não fosse o fato de querer matar Karen. A essa altura todo mundo já tinha perdido a vergonha de dançar tocava Dr. Beat do Miami Sound Machine. E eu estava bem estressado e bebendo, o que não parecia ser a melhor saída. Karen começou a dançar com o Leonardo e quase num passe de mágica, começava a tocar uma música romântica. Leonardo puxou Karen para mais perto e começaram a dançar lentamente. Eu estava prestes a chorar quando uma mão me puxou com força, mal pude ver quem era na hora, só depois percebi que era Peterson que iria me repreender pela Karen estar dançando com Leonardo e não com ele. Entramos numa construção de madeira que tinha no quintal a lá dentro era escuro. Podíamos ver apenas nossos rostos porque estávamos muito próximo.
-Gabriel...
-Eu sei, não era para isso acontecer. Falei
Peterson segurou minha cabeça e me beijou. Seus lábios delicadamente tocaram os meus, retribui porque era mesmo muito bom, mas voltei a si e o empurrei.
- O que é tudo isso?
-Não era a Karen que eu queria aqui hoje, era você!
Ele se aproximou e me beijou, meu primeiro beijo gay com um cara. Mesmo sendo alguém inesperado, o beijo seguiu, as línguas se encontram com aquele gosto de vodca de menta. De repente uma luz, provavelmente um flash, terminou aquele momento.
Estávamos tontos pela escuridão, pelo flash e pela bebida é claro. Peterson me empurrou num reflexo, talvez a vergonha ou medo. Não consegui me equilibrar e cai batendo a cabeça em algo bem duro. Na hora não senti nada, ele me ajudou a levantar.
- Desculpe, não foi minha intenção. Peterson falou com os olhos arregalados, e seus olhos eram basicamente o que eu podia ver naquela baixa iluminação.
Quando voltamos a festa tudo parecia estar no lugar onde deixamos. Karen dançando coladinho com o Leonardo, Rafael quando me viu se juntou a mim e Peterson foi para o outro lado provavelmente comer algo. Peguei um copo de vodca com refrigerante e comecei a dançar de leve, quando virei para olhar o Rafael senti uma pontada forte na cabeça. Sorri para ele, ele deu um tapinha no meu ombro. Me senti tonto, e me segurei no Rafael.
- O que foi...
Foram as ultimas palavras que eu ouvi dele.
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Adolescência Moderna
RomanceGabriel um adolescente comum, que tem amigos comuns, estuda numa escola comum e tem uma mãe comum. É, mas na adolescência tudo pode ser uma tempestade num copo d'água ou um problema real. Nessa história do cotidiano familiar e colegial, podemos nos...