CAPÍTULO 14

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Júlia

Eu estou com os quatro pneus arriados pelo Heitor, mas me dói toda vez que ele transa com alguém ou comigo e ele sempre diz que pensou numa outra pessoa e isso me deixa muito p* da vida, porque ele nunca me diz quem é, nunca me diz quem é sua ex e isso me deixa certa que ele estava me enganando em relação a isso e só por isso que eu continuei fingindo ser Helena, só que toda vez que ele fica comigo como Helena e me liga depois como Júlia, eu fico com muita raiva porque eu queria ser suficiente para ele, além disso eu tenho que fugir todas as vezes antes do banho que ele me pede para que não mostre minha verdadeira identidade.

Eu amo meu trabalho, principalmente por ter me apaixonado pelo meu chefe, e isso é muito errado e ferrado. Ele gosta de gostosa, miss Brasil e tal, já eu de forma desembelezada ele só quer o ouvido.

Eu sabia que essa viagem ia dar ruim, mas aí ele foi bem persuasivo em relação a ter a minha presença. E eu vim, ele queria que eu experimentasse uma roupa mais moderna e eu não queria.

Estava decidida a pedir demissão e mudar o número do telefone que assim, quando ele me encontrasse, seria casualmente a Helena e acabaria a Júlia do coração partido.

Só que o destino resolveu sambar na minha cara, fazendo ele vir até o meu quarto, fazer massagem e consequentemente me fazendo fraca aceitando seu beijo. Eu conheço algumas faces de Heitor e realmente ele não é mentiroso, seu beijo não era de piedade, era carinhoso, gentil e depois por último o safado e então ele descobriu o que tanto tentei esconder, a Helena que habita em mim.

E em seguida saiu correndo como se o bicho tivesse mordido ele.

Nosso hotel era próximo à rodoviária do Tietê, então decidi ligar para lá e ver se tinha uma passagem para o próximo horário, me informaram que tinham passagens para as onze e que ia sair um pouco atrasado por ter acontecido um contratempo, e que se corresse dava tempo de pega-lo.

Quando sai com a minha mochila, Heitor estava saindo no mesmo momento do quarto e me catou na fuga.

Heitor arqueou uma sobrancelha e eu não consegui encará-lo.

Você vai fugir de novo?

— Só vou te deixar pensar. Não é apenas uma mentira é uma história que com certeza você não quer ouvir agora.

Você vai sair do emprego?

Balancei a cabeça negativamente

— A não ser que me mande embora.

Cadê os óculos Júlia?

— Eu só preciso para descanso, aparelho para dormir. Faz assim Heitor, descansa, sei lá vai pra night ou algo assim e quando realmente tiver disposto a me ouvir, estarei te aguardando para falar. Na segunda estarei no escritório pontualmente às oito horas como sempre.

Minhas forças estavam se esgotando e faltava muito pouco para as Cataratas do Nicarágua aparecer provocando uma pequena enchente em São Paulo.

Dei um abraço rápido no meu porto seguro e sai desesperada limpando as lágrimas. Por mais que eu tenha sofrido pelo cafajeste sênior do Guto, nada se compara com o que estou sentindo agora, porque Heitor nunca foi só uma foda, foi amizade, ligações na madrugada, convivência e sorrisos muito, muito sinceros.

Entrei no ônibus, no último segundo antes da porta se fechar, e sentei no último banco de número quarenta e seis. E então chorei, chorei até o sono me dominar e ser acordada na rodoviária de Varginha, onde milagrosamente consegui um táxi e fui para casa.

Chegando em casa, me lembrei das ligações enquanto eu pegava uma garrafa de vinho e deitava no sofá ouvindo suas histórias.

Ele nunca esteve aqui, mas minha casa tem muito dele.

Eu sei que agora tudo vai mudar, por isso, mesmo às quatro e meia da manhã, eu peguei todas as roupas desembelezadoras e ateei fogo, sabe por quê?

Meu nome agora é bagunça e não mais Júlia.

∞∞∞∞

(COMPLETO) APÓS A CURVAOnde histórias criam vida. Descubra agora