CAPÍTULO 15

1.6K 262 7
                                    

Júlia

Domingo desgramento, nada pra fazer tédio total, as meninas tudo ocupada e eu aqui, pensando na morte da bezerra.

Mentira, pensando em como vou enfrentar, meu lindo, charmoso, tesudo, gostoso e maravilhoso chefe. Ele só não é perfeito, devido ao seu apelido de puto.

Se bem que agora ele não tem mais motivo para conversar comigo já que agora sabe da verdade.

Mas também né? Pra que essa fixação de pegar secretária?

Mas uma coisa eu gostei e vou levar, pro resto da minha vida: bonita ou feia, eu sou quem sou, não preciso pôr uma máscara, ou encenar um papel para que alguém se aproxime de mim.

Eu só queria não ter entrado para a construtora para preservar meu coração. Ele está quebrado em mil pedacinhos enquanto Heitor com certeza está rindo da minha cara, mas a parte boa é que ele perdeu uma amiga e isso sim é difícil de achar, já que xaninhas você encontra mais de cinquenta a cada esquina.

Cada passo que eu dava ao lado do meu chefe, eu via o número de perereca se jogando pra cima dele e isso me irritava internamente, só que nunca pude fazer nada.

∞∞∞∞

Segunda-feira e tenho que estar no escritório porque eu prometi, caso contrário existe dor de barriga, de dente, enxaqueca, cólica menstrual misturada com a de rins, enfim, mas foi nessa de mentir e omitir que cheguei nesse desespero que estou.

Às seis da manhã já estou de pé, tendo dormido quase nada.

Vestido azul marinho cinquenta por cento comportado? Ok.

Maquiagem espanta olheiras? Ok.

Salto médio estilo Júlia foda? Ok.

Auto estima? Esqueci em São Paulo.

Do jeito que dava fui pra casa da tortura, vulgo Construtora Prado.

Sentei em minha mesa, liguei o computador e comecei a trabalhar, anexando o contrato milionário e e-mails da empresa no arquivo.

Pela visão periférica vi quando Fred chegou.

Ele passou reto, voltou cinco passos de ré e voltou a caminhar de novo, dando meia volta e parando a minha frente.

Helena?

Pelo tom de voz, eu sei que ele já sabe que não existe Helena, mas sabe-se em que estado de sanidade Heitor contou essa versão da história né?

Me levantei deixando Fred ainda mais perplexo, já que todas às vezes que nos esbarramos por causa de Heitor, o mesmo monopolizava minha atenção, tirando de perto dos demais.

— Acho que você já sabe Fred, que não existe prima, não existe Helena e nem mesmo uma Júlia desengonçada. Só existe eu, na minha versão original, com meus óculos de uso pré-vida de solteira e sem aparelhos diurnos. Eu sei que pra vocês sempre vai parecer só mais uma mentira ou uma maneira de se dar bem. Nós mulheres, ou pelo menos eu, não gosto de me sentir um pedaço de carne desejável que se come e joga fora depois porque não foi o suficiente. Diga isso a seu amigo que não foi ele ter feito sexo comigo que me magoou, foi algumas palavras ditas por você Fred e que ele disse a amiga Jú que atendia os telefonemas às três da manhã.

Fred não precisa me dizer nada e Júlia eu ouvi bem.

Sua voz grave mesmo num momento de angústia, conseguiu arrepiar até a raiz dos meus cabelos e eu não tinha condições de encara-lo, porque não tinha mais nenhuma capa para me proteger e falar na terceira pessoa, agora era eu, eu e eu.

(COMPLETO) APÓS A CURVAOnde histórias criam vida. Descubra agora