CAPÍTULO 26

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Júlia

Assim que voltei de viagem fui ao médico. Ou melhor, médica porque sou vergonhosa.

Em que posso te ajudar?

— De um tempo pra cá tenho me sentido muito mal, do tipo mal mesmo.

A médica sorriu solícita e voltou a perguntar.

Tipo mau o que? Quais foram os sintomas?

— Enjoos, com muitos os dando continuidade, tonturaaaaaa, fraqueza e sono.

Hum sim. Tem casos de anemia na família?

— Que eu saiba não.

E a menstruação está em dia?

— Acho que desregulada como a vida toda.

Vamos fazer uns exames? Que assim é mais fácil de identificar o que você tem?

— Claro doutora. Pode ser fraqueza por excesso de uso?

Como assim?

— Uai uso da perseguida?

A Drª caiu na risada com meu modo de falar.

Dificilmente Júlia.

Fomos então para a danada da agulha pra tirar sangue.

Gente pra que agulha se existe o xixi que é indolor?

Depois de uma hora esperando, veio à primeira bomba.

Pra que maiúsculas gritantes pra enfiar a faca no coração da gente?

REAGENTE

Sempre pode estar errado né?

Fomos para a máquina de ultrassom, mas conhecida como a máquina do terror.

E eu pensando no que?

Vou matar Heitor

Heitor vai me matar.

Ai pelo ultrassom transvaginal não tava dando certo, porque segundo a Drª estava grandinho já.

Gelzinho gelado na barriga e a mão suando.

Bem Júlia, como não temos uma DUM (data da última menstruação) vamos confiar no ultrassom tá? Você está de 16 semanas e 03 dias e se quiser tentamos ver o sexo.

— 16 semanas tipo 4 meses?

Sim.

Balancei a cabeça e a Drª achou que eu estava afirmando que queria saber o sexo.

Ela foi falando sobre tudo que não entendi uma vírgula.

Para falar a verdade, eu não sei se escutei alguma palavra que foi dita.

Paralisei ao escutar o coração e minhas companheiras lágrimas passou a descer em cascatas.

Você parece surpresa Júlia.

— Estou em choque.

Bem, é uma menininha.

Sai de lá ainda mais perdida do que entrei.

Grávida....

04 meses....

De um desconhecido Xuxu.

Heitor não pode nem sonhar em saber disso, ele vai achar que menti.

Uma menina.

Se eu sozinha já sou uma bomba relógio, imagina criando uma outra menina?

Peguei uma mochila e liguei para o meu irmão.

Carrapatinhooooo.

— Oi Theo, preciso de você.

O que está acontecendo moça?

— Posso ir praí?

Você? sempre Carrapatinho.

Peguei um ônibus e fui pra casa do meu irmão em Cambuquira. Ele é o que mais posso de chamar de parente. Theo não é meu irmão de sangue, mas sempre esteve comigo, desde o berçário quase.

Coloquei meu foninho e me acabei em lágrimas. Por incrível que pareça, dentro do ônibus, cercado de desconhecidos, eu consegui desabar, mas estou pegando traumas, as duas últimas vezes que andei de ônibus foi chorando, escutando:

"Se ainda perguntar pra mim.

Do que eu já sinto falta.

Fica fácil, lembra de nós dois.

É o mesmo que escolher entre feijão e arroz.

Se me beijar agora é melhor que depois.

Eu tô me acostumando aqui.

Com medo da rotina.

Já comprei outro cachorro.

E conheci outra menina.

O foda é que, ela já sabe que eu sou seu.

E eu não devia ter te procurado assim.

E te ligar antes de dormir.

E aí? como é que tá aí em casa?

Eu sinto tanta a sua falta.

Eu só quero conversar.

E ouvir, qualquer palavra apaixonada.

E que essa saudade não passa.

Eu preciso desligar.

É só você que sabe me acalmar."

(Como é que tá aí em casa - Bruninho e Davi)

∞∞∞∞

Assim que cheguei em Cambuquira, Theo estava me aguardando na rodoviária. Ao ver meus olhos e nariz vermelhos, Theo não falou nada em um primeiro momento, apenas me abraçou.

Theo achou que fiz errado e que deveria ter contado para Heitor, mas ele quase não me perdoou pela omissão de identidade, não iria aceitar uma gravidez.

É tão difícil não ouvir sua voz.

As mensagens e o ser que crescia em mim, eram as únicas coisas que mantinham minha sanidade.

É difícil continuar firme e vivendo quando o motivo do meu sorriso, meu travesseiro predileto e a pessoa que mais me entendia no mundo eu perdi. Eu comia porque dentro de mim tinha uma guriazinha precisando de alimento, mas sei que ela está sentindo toda essa dor que arregaça meu peito.

Eu deveria não ter dado chance para Heitor, assim não teria que sair como uma foragida da casa e da vida dele. Gaby sempre me ligava passando força e disse que Thor tava igual louco atrás de mim, mas que o melhor era não falar com ele e nem voltar, porque hoje ele pode dizer que aceita um bebê estranho, mas depois jogar na minha cara essa irresponsabilidade e me acusar de que dou pra todo mundo.

Como achar forças e jogar uma bomba dessas?

Gaby tem razão.

Conforme os dias foram passando, tudo ficava mais difícil, até que Heitor me contou que foi com ele que eu acabei transando pensando ser um desconhecido provavelmente muito foda, pra me fazer transar sem preservativo. Ele disse do sonho e sobre esposa e isso ferrou ainda mais com meu psicológico.

E então, imaginei uma mini Heitor, correndo pela casa, chamando atenção por onde passa, o que acabou me fazendo chorar até dormir.

∞∞∞∞

(COMPLETO) APÓS A CURVAOnde histórias criam vida. Descubra agora