Capítulo 2:Castelo das Cinzas

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                        Lucian PoV.

  
Andar pelos corredores do castelo era estranho depois dele ter... Depois que Hades se foi... Não escutar mais os seus passos leves enquanto reclamava de algo era dolorosamente solitário e também silencioso. Eu sentia sua falta todos os dias... Quando Hades se foi, levou com ele quase tudo e por mais que os anos tivessem passado, a dor da sua ausência me machucava como uma adaga perfurando eternamente o meu peito... Toca do Lobo estava um caos também. Eram raras as ocasiões em que eu podia ficar sozinho, encarando aqueles quadros horríveis e mórbidos que o meu pai costumava colecionar nas paredes do castelo. Reuniões de guerra todos os dias, treinamento constante com os novos recrutas e depois mais reuniões insuportavelmente chatas... Sentia falta das tardes monótonas lendo na biblioteca junto de Hades, enquanto ele reclamava de praticamente tudo que Apolo fazia. Eu sentia falta de tudo. Das partidas de xadrez bastante acirradas que jogávamos e que quase sempre acabavam com a vitória dele. Sentia falta até mesmo do meu irmão, que de certa forma morreu com ele naquele dia. O Apolo não existia mais. Eu sabia que para um alfa, perder o ômega era o mesmo que morrer... Eu sabia que dor dele era tão grande e insuportavel que ficava difícil até de respirar, mas Apolo...

Ele mudou.

Não havia mais nada do meu irmão naquele homem sentado do meu lado nas reuniões. Ficou cruel... Amargo e egoísta. Um tirano cheio de ódio que passava os dias lutando e fudendo com qualquer prostituta barata que encontrava. Mesmo quando a nossa mãe ficou doente... Ele não abrandou seu coração endurecido. A cada dia, ele ficava pior até que deixou de falar de Hades.... Sendo sincero, ele fingia que o mesmo nunca existiu e para mim tudo bem, eu entendia. Era uma forma de viver o luto. Ele não visitava mais o túmulo dele e nem participava dos seus memoriais, ao invés disso, se embebedava, fazia coisas tão nojentas na cama que um dia compartilhou com Hades que me dava ânsia só de imaginar. E por isso, eu fugia sempre que tinha tempo.

Me sentia sozinho.

Passear pelo jardim de Maeve era tão bom que o tempo parecia passar rápido sem nem perceber. Ver o brilho mágico das flores lindas e mortíferas me trazia memórias antigas, memórias que eu não queria e não podia esquecer. As vezes, eu sentia vontade de tocar nas flores, mas eu não conseguia. E mesmo se isso não acontecesse, fazer algo como isso seria errado. Por que esse jardim não era mais de Maeve, a fada da água amante de Finnick... Ele era de Hades, o garoto da vila de gelo que viveu conosco e sempre seria, enquanto eu estivesse vivo. E quando eu via as várias flores Alluar que Hades plantou, era impossível não começar a chorar baixinho, diante do brilho prateado que lembrava tanto ele.

---Esse lugar era bem especial para ele não era?!_ouvi uma voz familiar perguntar e me virei, observando Titus acenar de um jeito tímido para mim.---Desculpe... Eu não queria incomodar você... Mas é que nos últimos meses,tenho tentado entende-lo... Sabe... O tão adorado Hades.

Enxuguei meu rosto o mais rápido que pude.. Eu não queria que alguém como ele me visse desse jeito. Ainda mais aqui, no único lugar que ainda não mudou nesses dois anos atrás. O único lugar que Apolo não conseguiu apagar.

---Não existe nada para entender_ respondi.---Ele morreu... É só isso. Ele não era um enigma e muito menos, alguém cheio de segredos... Ele era autêntico e agora, não está mais aqui.

Titus sorriu amarelo, seu rosto retorcido de vergonha diante do que falei. Talvez porque soubesse o que eu estava pensando nessa hora. Era bem engraçado como tudo podia virar do avesso sem aviso. Estar nessa situação com Titus me lembrava do quanto o destino podia ser engraçado e as vezes, cruel. Há dois anos atrás, não hesitaria em arrancar sua cabeça se me encontrasse com ele assim, mas agora, Titus Ka-Thorn era o único com quem eu conseguia conversar de verdade. Ele tinha mudado. Para falar a verdade, tudo tinha mudado. As pessoas não eram mais as mesmas, o mundo se tornou mais cinza, mais sombrio. A guerra continuava para os que ficaram aqui, os demônios ainda nos atacavam sempre que podiam e as pedras já estavam quase todas sob o domínio deles. As fadas se tornaram leais a causa e os humanos ajudavam como podiam. Mas dava para ver que estávamos perdendo.

Desolação do Ômega(Romance Gay)[LIVRO 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora