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         ANABEL 🌙

Era manhã de sábado, após uma noite mal dormida, depois de sair mais cedo da faculdade na noite anterior, por conta da instabilidade emocional que se apossou de mim. Me vesti com meu costumeiro jeans, moletom e all star, e depois de tomar café, fechei o apartamento e desci para o primeiro andar do prédio, onde ficava o salão da minha tia, no ponto comercial, eu ainda tinha que trabalhar.

Assim que adentrei, vi que o lugar estava uma loucura. Eu tinha me esquecido que haveria um batizado e as madrinhas e mãe, vó, e tias do bebê marcaram cedo aqui. Ao me avistar, minha tia deixou o babyliss de lado e sussurrou algo para a mulher que atendia, antes de vir em minha direção.

— Ana, minha querida. Eu preciso muito de você. — Ela disse chegando perto de mim.

— Pode falar tia.— Falei quando ela chegou perto de mim.

— Tenho uma emergência. Uma cliente ligou e pediu para que eu fizesse o cabelo dela a domicílio, urgente. Me ofereceu o triplo do normal pela pressa. Mas o salão está cheio, e...

— A senhora quer que eu vá? — Perguntei a interrompendo.

— É. — Disse contorcendo os lábios. Ela sabia o quanto eu odiava fazer a cabelo a domicílio, ou qualquer coisa que me tirasse da minha zona de conforto chamado, minha casa.
Ela continuou — Eu sei que você não gosta de fazer isso querida, mas eu realmente preciso que você vá. — Ela disse pesarosa. Minha tia fazia muito por mim, então mesmo não querendo, não custava tanto.

— Pode deixar tia, eu vou. O que ela quer?

— Hidratação e uma boa escova. — Ela disse, e fiquei satisfeita por ser algo simples.

— Tá. Mas na casa de quem?

— Diana Himmes. — Ela disse me fazendo arregalar os olhos. Era na casa dos Himmes que eu teria que ir?
Ah não, ele poderia estar lá.

Sim, eu sou uma idiota.

— Na casa deles? Ah tia, eles são...metidos — Falei cabisbaixa. O que não deixava de ser verdade, era a família mais nariz em pé da cidade, a não ser por Jonathan que não me pareceu tanto assim.

Como eu sou idiota.

— Eu sei que são um pouco esnobes Ana, mas eu realmente preciso minha querida. Faz isso por mim? — Perguntou sorrindo de leve causando ruguinhas nos cantos dos olhos e na face. Minha tia era uma mulher de quarenta e cinco anos, de olhar e expressão doce, um pouco cheínha, e de cabelos louros, tingidos. Era bonita. Por dentro e por fora.

— Sim tia, eu faço. — Disse por vencida. — Quantas horas?

— Esteja lá daqui a uma hora.

— Mas tão rápido? — Perguntei insatisfeita.

— Sim. E o dinheiro que pegar, pode usar pra comprar umas roupas pra você.

— Não quero roupas. — Protestei, porque não queria mesmo, eu nem mesmo saía de casa além da faculdade, nem iria usar.

— Compre livros então.

— Agora estamos falando a minha lingua. Mas... — Sorri e continuei — O dinheiro é seu tia. E agora, eu vou separar as coisas para levar, fazer o quê. — Falei vencida, a vendo sorrir me encorajando.

Merda. Na casa dos Himmes!

Eu sabia onde eles moravam, todos sabiam. Numa área privada da cidade cheia de mansões. Tão típico.

Ainda frustada, voltei ao apartamento para pegar minha mochila e meus fones de ouvido.

Voltei ao salão e peguei os materiais que precisaria e coloquei na mochila. Por fim saindo dali.

InérciaOnde histórias criam vida. Descubra agora