e l e v e n

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ANABEL🌙

Na manhã seguinte, eu fazia questão de repassar tudo em minha mente, não para ficar sorrindo como uma boba pensando em Jonathan enquanto lavava e escovava os cabelos das clientes do salão, mas para me lembrar de cada uma das vergonhas que passei e me martirizar por cada uma delas.

Durante a tarde começou uma tortura, na sexta-feira é o único dia que tenho aula teórica e no periodo noturno, sendo que tenho intervalo na quarta e na quinta, mas hoje, teriamos que apresentar um trabalho, escolhendo algum chefe italiano e sua obra. Essa era a parte fácil, eu já tinha estudado sobre, preparado slides, e até mesmo, gastei minha tarde fazendo um prato seguindo uma receita do mesmo, o que era simples, e eu tinha feito um fetuccine com um molho branco italiano. Estava tudo pronto, menos eu. Que não conseguia falar em público.

Eu evito desde sempre falar, eu mal falo com pessoas sem gaguejar, eu só consigo não gaguejar quando tenho confiança pra falar com a pessoa, mas não tenho confiança em ninguém naquele lugar, e por vezes não apresentava, até perdia nota por isso, mas estamos em fase de conclusão no período, e eu precisaria sim apresentar alguma coisa para me darem nota de participação e conceito pelo menos.

Cheguei na faculdade e organizei tudo para apresentar o trabalho. Como eram indivuduais seriam apresentados pela turma todas as sextas. Começando em ordem alfabética, e para o meu azar meu nome é Anabel, e não Zurika. Apesar de achar que apresentar primeiro e acabar com tudo isso é bem melhor.

Mas meu nervosismo era crescente, quando a professora chegou, meu estômago ficou gelado, eu realmente estava sendo consumida pela ansiedade.
Tentei relaxar mas só de imaginar ter que falar sozinha na frente de todos meu estômago tinha uma vertigem.

Logo Aaron o primeiro da chamada, organizou as coisas a frente e começou a explicar sobre o chef, ele falava bem e de forma clara, e sua receita era uma lasanha de alguma coisa que passou despercebido por mim, por que eu estava em combustão.

Foi tudo muito rápido, e depois de Aaron, era, Alana, em seguida, eu.

Eu nem vi Alana apresentar direito, eu estava sentindo minha musculatura queimar e havia um nó em minha garganta.

A professora enfim chamou meu nome.

Organizei as minhas coisas a frente, conectei meu pendrive ao notebook, para a apresentação de slides no projetor com as mãos tremendo, e destampei minha receita que estava com o cheiro bom pelo menos.

Então eu tinha que falar.

Era um trabalho consideravelmente simples, que pra mim, era uma tortura.

E internamente quis que um meteoro caisse em cima da minha cabeça.

Tensão.

Olhei para todos que esperavam que eu falasse e a professora soltou um "pode começar".

Respirei fundo, tentando me lembrar do que precisava falar.

Mas não vinha, minha mente estava totalmente em branco. Olhei pra receita mas minha mente não situava, senti como se não tivesse nada abaixo dos meus pés.

Minha garganta tinha se fechado, e eu segurei minha mão uma na outra, pra demonstrar menos a tremedeira, tentando lembrar do que Dr. Anthony me disse pra tentar em uma situação assim. Não olhar para ninguém, e achar que estivesse no meu quarto.

Não funcionava. Porque eu não estava sozinha e aquele não era meu quarto.

Respirei fundo de novo, sob os olhares debochados dos meus colegas, e tentei.

- E-eu vou é...E-eu trouxe ....A receita desse fet-uccine...E é...- Mente em branco. Respirei fundo de novo. Os slides estavam a minha frente. Eu poderia le-los, mas a ansiedade bloqueou minha garganta, aquela vontade estúpida de chorar.

InérciaOnde histórias criam vida. Descubra agora