t w e n t y f o u r

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ANABEL 🌙

(...)

- Posso? - Jonathan pediu apontando para o rádio do carro, e eu assenti, e o mesmo começou a vasculhar minha playlist.

- Vamos ver... - Disse, e em seguida Dani California do Red Hot Chilli Peppers rompeu pelo som.
Ele pulou a música, e eu vi Next to me do Imagine Dragons no visor. - Ei, deixa. - Pedi.

- Você gosta mesmo dessa música. - Observou, e sim, eu gostava. Foi uma das primeiras músicas que ouvimos juntos.

A letra da música não dizia nada especial que pudesse condizer com minha realidade, pelo menos até então, até eu ouvir Jonathan a cantar aos sussurros. E eu fiquei surpresa, ele era afinado, tinha um tom de voz grave, uma rouquidão suave, era bastante apreciável. Do tipo que você quer ouvir baixinho antes de dormir. Eu olhava para a estrada, mas maior parte da minha atenção estava voltada a ele. E quando ele notou isso, ele aumentou o tom de voz em um único trecho.

- There's something about the way, that you always see the pretty view, overlook the blooded mess, always lookin' effortless, and still you, still you want me, i got no innocence, faith ain't no privilege, I am a deck of cards, vice or a game of hearts, and still you, still you want me...

Os olhos dele estavam em mim, e eu sorri, olhando a rua iluminada pelos postes pelo vidro do carro, conectada a letra e a voz. Eu nem sabia o porque da delimitação do trecho, mas apreciava.

- Sua voz.... É boa, você não me falou que cantava. - Comentei.

- Obrigado, mas não canto.

- Canta sim.. E... Eu quero que continue, estava legal, por favor.

- Eu sou abaixo da média. Eu até costumava cantar na época da universidade, em um pub outro mas era só quando estava meio bêbado e era convencido a isso.

E esse relato me remeteu ao que ele me disse sobre Hailey, sua ex, que tinha uma banda e amava a música... E como tudo acabou entre eles. Fazia sentido ele não querer mais cantar...

- Mas veja pelo lado positivo, eu nem sei cantar. - Minha voz já é feia falando, imagina de outra forma.

- Então somos dois. - Ele respondeu me fazendo balançar a cabeça negativamente, trocando Suck for pain que começou a tocar por Sweater Weather do The Neighbourhood. Combinamos.

- Essa música é um clichê, mas eu adoro. - Comentei.

- O clichê não é ruim, na verdade, é o que a maioria das pessoas sonham em viver. - Disse, e eu concordei, porque se tinha uma coisa com o que eu sonhava quando colocava minha cabeça no travesseiro, era com meus variáveis felizes para sempre.

Levei o carro até a vaga, em frente ao prédio, e em seguida, nos guiamos pela pracinha, rumo ao carrinho de cachorro quente.

Assim que chegamos, fomos fazer os pedidos e eu estranhei o senhor simpático não estar ali, já que fomos atendidos por um rapaz que parecia ser um pouco mais novo do que eu.

Nos sentamos para esperar e uma espécie de sensação de déjà vu, se apossou de mim. E bem, eu já estive aqui antes. Ele usava smoking e eu o vestido da minha mãe.

Já Jonathan, sentado ao meu lado, estava mais preocupado com o próprio celular, com um vinco na testa. Tenso.

- Jonathan? - Chamei, e ele olhou pra mim, e bloqueou a tela do celular.- Aconteceu alguma coisa? - Perguntei, algo estava errado.

- Não, nada. - Disse arredio olhando para os lados, menos pra mim, e deu um sorriso que pareceu um esgar.
Ele pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos, ainda com o olhar baixo. Eu queria saber o que estava acontecendo, mas sabia que precisava respeitar o silêncio dele.

InérciaOnde histórias criam vida. Descubra agora