f o r t y t h r e e

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ANABEL 🌙

Ah não.

- Liana! - Chamei. - Me espera, vou te ajudar! - Soltei e ela parou e se virou, enquanto me levantava com dificuldade pela torção no tornozelo.

- Vai? - Perguntou desconfiada, eu só conseguia ver sua sombra, naquele breu.

- Vou. Mas vem aqui. Me machuquei. - Falei baixinho, meu pé estava mesmo doendo, mas sim, era uma mini chantagem emocional. Porque bem, aquele era um péssimo momento. Tinha que achar ajuda, mais por ela do que por mim e se ela sumisse ali eu definitivamente não saberia o que fazer. Mal sabia agora, meu corpo era puro pânico e se essa garota se perdesse de mim? Ela é pequena, está escuro, e se ela se machucasse? O que eu ia falar para o pai dela? "Olha Ben, eu perdi sua filha na floresta, não se preocupe, os ursos da montanha não vão a devorar, mas se ocorrer, você faz uma nova". Pois é, não ia rolar.

Já quando se trata de mim, nesse momento, estava internamente, tentando acreditar que Jonathan e Carl escapariam da vista desses bandidos, pois sabia, que se me desesperasse mais em preocupação, não conseguiria sequer fazer o que me foi pedido, e choraria abraçada a uma árvore ao invés de tomar qualquer atitude.

- Eu sei que você quer seu coelhinho, mas tem gente mal atrás de nós. Depois nós achamos. - Tentei a convencer no mesmo tom que Jonathan usava com ela. Ele era bom em convencer pessoas.

- Mas Bel! Coelinho vovó deu. Vovó ta no céu. - Disse manhosa. Golpe baixo. Se fosse algo dos meus avós ou dos meus pais, que se foram, eu odiaria perder.

- Tá bom. Vamos procurar. Nós duas. - Me dei por vencida, e com o pé dolorido, manquei até ela.

- Me dá a mãozinha. - Pedi estendendo minha mão, ela me estendeu a sua, eu a peguei, segurando firme, e então, mancando pelo encomodo da torção, comecei a voltar com ela, devagar, de onde vim, ouvindo vozes imaginarias do Jonathan repreendendo por fazer isso. Liguei a lanterna do meu celular para procurar. E mais atrás, avistei o coelho jogado no chão. E Liana, intempestiva foi correndo em suas perninhas curtas cobertas por uma meia calça de gatinho e sapatilhas de laço na escuridão, em uma coragem grande para alguém tão pequena e pegou o bichinho de pelúcia, bateu nele pra tirar as folhas e voltou até mim e pegou minha mão de novo.

- Bigada Bel. - Agradeceu e eu sorri apesar das frustrações, e soltei "de nada".

- Os homens maus vão pega a gente? - Perguntou em sua voz doce, enquanto voltavamos, tínhamos que chegar ao lago, logo. Mas meu pé, com aquela dorzinha chata, não facilitava.

- Não Liana. Eles estão longe agora. - A tranquilizei. Estávamos seguras, na medida que se é possível, sem colocar em vista nossa localização e os perigos dela.

- Cadê o tio Cal e o padinho? - Questionou, me deixando mais tensa do que já estava, era isso que eu queria saber, que eu precisava saber. Eles tinham que ter escapado. Merda, eu não queria ter me separado dele, era muita aflição pra que eu pudesse aguentar.

- Eles... Eles foram ali, logo eles vem nos buscar - Respondi tensa, incerta, iluminando o trecho onde passávamos. Eu não queria pensar no que aconteceria se... Nada vai acontecer. Foco Anabel.

- To com medo. - Ela disse, apertando minha mão. Eu queria poder evitar esse sentimento nela, mas como? Se eu também estava?

- Não precisa ter medo. - Soltei tentando soar confiante - Olha o lago! - Apontei a frente, tendo então uma vasta extensão de água, andamos por ali, com ela cheia de perguntas que eu tentava responder, até que avistei luzes ao longe e era sim um grãozinho de alivio.

InérciaOnde histórias criam vida. Descubra agora