f i f t y

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ANABEL 🌙

Três meses depois.

Quando Rodolph foi julgado, por homicídio graças a gravação no pen drive que Daniel nos entregou, e foi preso, eu achei que enfim estaríamos livres. Principalmente quando os exames do Daniel foram mais satisfatórios que os do Jonathan e Diana poderia ser operada. Foi um alivio quando ela foi levada a Boston, e felizmente tudo correu muito bem, melhor do que o esperado, e ela iniciou um tratamento intensivo por lá, e ela vinha em processo lento mas satisfatório de recuperação.

Mas as coisas nunca ocorrem de forma satisfatória para todos os lados.

Eu sentia dores horríveis as vezes, e quando sai do hospital fiquei quase um mês mal saindo da cama e mesmo progredindo, ainda sentia dores ao sentar, ao levantar, ao caminhar, e principalmente nas fisioterapias, que eram uma tortura e extremamente exaustivas. E com isso vieram inúmeras faltas na faculdade que estavam me prejudicando mesmo que sobre atestado.

Já Jonathan costumava ir a Massachussets com constância, cuidar da mãe, e havia voltado a poucos dias, de quase duas semanas por lá, o que era ruim para nosso relacionamento que já andava um tanto limitado pela minha tia que não deixando a gente sozinho pra nada e nem olhando na cara dele direito estava, e claro, sem deixar de apontar, que eu também sinto dor ao ter relações sexuais, e nós nos tocamos, como alternativa, mas sempre, quase somos pegos pela minha tia. Era inspirador.

Mas haviam outros fatores, ele andava estrassado e a base de cafeína, acho que só agora, a pressão que ele veio sofrendo, estava surtindo efeitos, segundo que, ao descobrir o que eu omiti sobre Richard, ele não tenha ficado muito feliz, esse, que vinha tentando manter contato com ele, e antes que Diana viajasse, apareceu no hospital e tentou falar com Jonathan, que não quis nem olhar na cara dele. Richard tinha deixado claro que queria ter uma conversa e esclarecer as coisas, implorou por isso, mas depois de um tempo se cansou e voltou para o Canadá, deixando um convite, para que se um dia, Jonathan quisesse saber o lado dele, estaria aberto a isso. Mas que ele o procurasse. E eu vinha tentando o convencer de ir a Vancouver desde então, incansável.

O maior milagre de toda essa história, talvez seja, eu ter o convencido. Claro, com uma condição mais do que imposta, que eu viesse com ele, o que foi difícil por minha tia ter tentado barrar, mas desse vez eu tive que me impor. E minha primeira viagem internacional, seria um bate volta pro Canadá. Eu sabia que ele não queria ir, mas não só eu o convenci, mas também Diana, a dar um voto de confiança e ouvir Richard, porque a única versão dos fatos que eles conheciam era do Rodolph, e ele nunca foi alguém confiável, diga-se de passagem.

Agora estávamos aqui, ele, ao meu lado, tenso, enquanto eu, ansiosa, apoiada em minha inseparável bengala de ferro, sentindo minha coluna reclamar pela breve caminhada, de pé, em um bairro humilde em Vancouver, de frente a uma casa pequena e acolhedora. Mas nenhum dos dois dava o próximo passo.

- Nervoso? - Questionei.

- Não sei se essa é a palavra certa. - Murmurou.

- Tente ser mais bem receptivo. - Aconselhei.

- Anabel, eu vou ouvi-lo, não ache que vou sair de lá marcando de assistir um jogo e tomar cerveja em uma tarde de pai e filho. - Resmungou, me olhando de esguelha, revirei os olhos, e assenti a contragosto. Que culpa eu tinha de ir com a cara do Richard?

- Vamos? - Chamei, e ele assentiu. Eu, por um instante, quis saber o que se passava na cabeça dele. Com minha mão livre, segurei a sua e entrelacei nossos dedos, ele olhou em minha direção, olhos nos olhos, e eu sorri, era só mais um obstáculo, nós já passamos por tantos.

Fomos até a porta, ele tocou a campainha, e bufou impaciente.

- Calma... - Sussurrei sorrindo, encostando minha cabeça em seu braço.

InérciaOnde histórias criam vida. Descubra agora