Zétiro(Rodada 1)

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Zétiro(Rodada 1)

Malditos sejam – pensava Zétiro. – Terão que ajoelhar sob meus pés. – Sua mente vagava em tristes lembranças de seu passado.

Acordou ao sul de Sarren, em meio a florestas vivas e colinas com grama curta verdejante. A mulher que um dia chamara de mãe havia dado a vida em seu lugar fazia três noites, e, desde então, caminhava a esmo pela Terra; de luto, tentava retornar ao seu estado normal.

No terceiro dia, em uma noite fria e silenciosa, decidira partir em busca da coroa. Atraente como era, foi fácil seduzir uma dama em uma vila qualquer e ter acesso ao enigma que, há dias, rodeava as mentes dos seres de todas as Terras.

"... Eu, Kaiko, deixo aqui gravado o meu desejo. Que alguém encontre minha antiga coroa, e lidere as Terras como achar melhor. Como todos que me conheceram sabem, nunca acreditei em "bem" e "mal", mas acredito que fazemos o que temos que fazer, influenciados por nossas histórias, motivações e desejos; então boa sorte!..."

"...É impressionante como riquezas fartas e vida fácil criam seres fracos, não? É de se supor que uma mente desenvolvida seja capaz de vencer uma batalha entre exércitos? Melhor dizendo, o que será que se esconde embaixo de nossos pés? Em grandes salões cobertos de ouro reina o poder, mas, assim sendo, o Poderoso cercado de ouro se esquece daquilo que tem mais valor, mesmo que esteja embaixo de seu próprio nariz. O cheiro da rosa é forte, e o seu desabrochar traz grandes maravilhas..."

Zétiro passava o dia em viagem, mas quase nunca a fazia a pé. Sempre que chegava a alguma vila ou cidade, encantava as moças com o seu flerte e boa aparência; conseguindo assim passagem de graça em caravanas, quartos nas tabernas em troca de uma noite de amor, presentes em troca de beijos e, a cada civilização que passava, parecia mais rico.

Em seu sétimo dia de viagem havia chegado em Albarro. De início, a modesta vila lhe pareceu um lugar calmo e tranquilo, mas adentrando-a notou que uma praça rodeada por tabernas e hospedarias queimava de tanta vida. Homens e mulheres cantavam, caíam de bêbados, brigavam e até mesmo uniam-se atrás de uma árvore ou em algum beco escuro. Luzes fortes saíam das janelas das construções, acompanhadas por músicas, e assim iluminavam toda a praça.

Zétiro deu um sorriso de canto, pensando que toda aquela situação lhe proporcionaria uma presa fácil. De repente, avistou uma linda mulher ruiva que passava acompanhada por outra mulher. Era bela, jovem, tinha olhos verdes e usava um vestido azul e branco que lhe realçava a pele macia e o rosto fino.

Na parte oeste da praça o Íncubo encostou-se sob a copa de uma árvore e esperou. A linda mulher tinha um olhar sério e fitava com nojo cada homem bêbado demais para ficar de pé, cada mulher que gemia de dentro dos becos, e cada bafo cortante que saía das bocas que tentavam cortejá-la.

- Sente tanto ódio pela felicidade dos outros? – perguntou o Íncubo, enquanto a mulher ruiva passava por ele com sua acompanhante. Sequer o havia notado ali, e, apesar de ter sido pega de surpresa, manteve a seriedade.

- Se a felicidade deles não cheirasse tal mau, talvez eu não me incomodasse – respondeu ela à voz. Até então, vira apenas a silhueta do que parecia ser um homem perto da árvore.

- Tem um espírito forte não é? Seria uma honra para qualquer um domá-lo – disse o Íncubo, ainda sem sair da escuridão.

- Vamos Cat. Vamos embora – disse a acompanhante. Tinha a pele morena, olhos castanho-claros e um cabelo encaracolado que amarrava-se em forma de coque com duas mexas caindo à frente de seu rosto. Seu pescoço era fino, a boca era carnuda e seu corpo exalava sensualidade.

Livro-jogo: A busca pela coroaOnde histórias criam vida. Descubra agora