Ophelia(Rodada 6)
Elle jazia morta. A batalha desleal lhe tendia à derrota e, por necessidade, a resposta imposta pelo cérebro ao corpo foi fugir.
Donde estava, no topo da torre de gelo, viu a claridade incomum em meio a destroços e corpos. Espíritos rodeavam a luz feito mães protegendo os filhotes.
A distância era curta, mas a vitalidade ainda lhe deixava criar uma longa ponte de gelo da torre até a luz.
Ficar e enfrentar Zétiro, Raki e Selon... onde estava Selon? Já havia desaparecido. Ou fugir e enfrentar o dragão de lava? Qualquer que fosse a decisão estava condenada a batalha. Assim sendo, então que viesse o dragão.
Abriu as palmas das mãos e da névoa azulada que saía surgiu literalmente a ponte, grande, branca, fria, e bela. Um, dois, três segundos e já corria, dando de costas para o mundo. O momento parecia mais desesperador do que reflexo da sanidade. Lembrou-se...
"Você só terá uma chance" - foram as palavras da Morte. "Se perder a coroa sua alma será minha"
Aquele caminho até a coroa pareceu mais longo do que realmente era. Correu até se esquecer dos próprios pés em movimento; do coração acelerado e do cansaço. Estava há tanto tempo perseguindo aquele objeto que esqueceu-se de si mesma. Ao redor o mundo era triste. Vidas iam embora para o Além, e ela conhecia bem o além, conhecia a tortura, a tristeza eterna.
Quem olhasse Ophelia naquele momento, veria a forte e fria maga que matava sem remorso e se agradava com a dor. Mas, como dizem: "os olhos são a janela da alma"; e a alma de Ophelia não estava fria, estava medrosa, pela primeira vez em muitos anos. Finalmente, em meio ao caos, a ficha de que estava novamente viva lhe caiu. Ela sorriu e os olhos lacrimejaram. Até então não havia parado de correr e por que pararia? Sentia-se livre, correria até o fim do mundo se a deixassem; mas não dixaram.
O dragão foi alertado pela grandiosa construção gelada. A fera, por segundo, pareceu o próprio reflexo dos tormentos doutro mundo. Viu Ophelia, abriu a boca e mostrou os dentes de lava vulcânica, e cuspiu.
Não havia gelo frio suficiente que resistisse aquilo. A maga conseguiu envolver-se numa grossa camada de gelo que lhe absorveu parte do impacto e das queimaduras. Quando deu conta de si, já estava no solo; cercada por 4 Luftíres.
Por algum motivo as criaturas vinham, e vinham, e vinham... Armados até os dentes e ferozes como são os bons Luftíres.
Ophelia levantou-se e tentou fugir, mas o primeiro passo lhe fez doer o corpo que, mesmo não inteiramente queimado, ainda estava queimado.
Um dos Luftíres saltou segurando o reluzente machado afiado de dois gumes.
A cena fora repugnante. Pele derretida, sangue, sugeira, Ophelia se arrastava deploravelmente. Sentiu a vida segundos atrás e agora... Agora era alvo fácil.
Qualquer um com o espírito mais fraco teria desistido, mas o orgulho recusou-se a aceitar o fim. Ophelia, ferida, fez ao redor de si uma fina armadura de gelo e correu. Infelizmente, já não tinha mais o vigor físico de outrora.
Não houve grito ou lágrima, não houve pedido de clemência ou desespero; houve apenas o olhar frio da mulher e um curto gemido quando outro Luftíre a acertou com uma lança. A arma atravessou-a no peito, e o ar esvaiu qual água num vaso quebrado.
*
Estava caída, fitando o céu quase inteiramente coberto pela fumaça negra de tudo que queimava ao redor. Viu pássaros, belos pássaros, que corriam para longe daquela confusão; ignorando qualquer pedido de ajuda lá de baixo.
- Devo admitir: é pena que você não é mais um de meus rivais - começou uma voz desconhecida. - Te achei forte, com um poder fascinante HAHAHAHAHAHAHAHA Eu a foderia se pudesse, sim, com certeza. Mas agora tenho uma coroa para pegar. Talvez eu volte para abusar de seu corpo mais tarde.
Aos poucos, um rosto escondido pela luz do sol se aproximou. O sorriso era galanteador, os cabelos negros estavam bem-cortados e seria um semblante belo se não fosse o olhar. Aquele olhar louco, sem limites, intimidador. Se existisse algo no mundo dos vivos que amedrontasse tanto quanto a tortura do outro lado, eram aqueles olhos.
O homem segurava uma lança afiada, apontando-a para a testa de Ophelia.
- Diga para quem você encontrar do outro lado que Selon a matou HAHAHAHAHAHA.
A arma lhe abriu um rombo no crânio, e assim o destino levou mais uma vida.
- Venham meus Luftíres, ainda há mais ratos para caçarmos - disse ele.
*
Os olhos se fecharam. A escuridão tomou conta de Ophelia e de repente ela se viu num corredor negro com paredes úmidas. Caminhou as cegas, tateando as paredes até encontrar uma pequena luz no fim do túnel.
Ao redor tudo era fogo, tudo doía, tudo queimava.
- Seja bem-vinda de volta minha querida - disse uma voz grossa e sinistra. Era Morte, sentado no seu trono de ossos. Se sua boca estivesse à mostra, daria para ver o largo sorriso de satisfação.
- Vamos, não se assuste. Não queremos perder tempo não é?
Ele levantou-se e tocou-a no ombro. - Seu castigo começa agora - proferiu, com prazer na voz. - Não chore criança.
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Livro-jogo: A busca pela coroa
AdventureO Livro-jogo foi criado para ser um RPG online pelo Wattpad. Todos os personagens descritos no "Introdução aos personagens" são controlados por jogadores de todo o Brasil que se candidataram as vagas e estão participando do projeto. Todas as ro...