Ophelia(Rodada 1)
Em meio a um abismo rodeado por pedras vermelhas, no outro mundo, uma figura encapuzada erguia-se soberana, sinistra e misteriosa. Este ser sentava-se num trono de pedra-vidro polida, com as costas pontiagudas.
Olhando para cima, não via-se nada. Nem a beleza de um céu azul, nem o medo das tempestades acompanhadas por nuvens cinzentas, e nem a esperança de bandos de pássaros voando livres em busca das maravilhas atrás do horizonte. Via-se apenas neblina vermelho-sangue e triste, que, vez ou outra, chorava gotas de sangue nos seres lá embaixo.
Há 3000 anos, durante a grande guerra, um necromante tentou mexer com a força da natureza buscando a vida eterna. Diz a lenda que após conseguir a imortalidade ele pretendia lutar ao lado das divindades.
Seu esforço rendeu-lhe frutos e a própria natureza, vendo sua busca incessante, oferecer-lhe um acordo: a vida eterna em troca de um trabalho, carregar as almas dos seres mortos para o outro lado. De bom grado o necromante aceitou e ao longo dos anos seu nome foi perdido; ficando conhecido apenas como Morte. Dizem que tornou-se uma criatura horrível, que seu corpo apodrecera e agora só lhe restavam ossos, e que por isso cobriu-se com a capa negra.
3000 anos depois, Morte sentia falta das sensações, dos sentimentos, e do corpo feminino aquecendo-o. O que pensou ser um presente da natureza, tornou-se seu sofrimento; estando nem vivo e nem morto, apenas condenado a observar e vagar pela existência durante um mar de anos agonizantes e sem fim. Mas a esperança existe. Se Morte encontrar alguém que de bom grado lhe aceite tomar o lugar, a alma dele poderá descansar em paz; entre campos verdejantes e rodeada por rostos amigos e alegres.
- Senhor – disse Ophelia. Aproximava-se do trono espelhado com cautela. Fez uma reverência. – Venho aqui pedir-lhe um favor pelo trabalho que lhe prestei em anos, administrando suas almas.
- Diga – começou a voz ofegante de Morte. Era tão grave que fez o corpo de Ophelia estremecer, rapidamente, lembrou-se com quem estava falando. Seu coração acelerou sentindo algo que a muito não sentia. Sentindo medo.
- Desculpe-me senhor – disse a mulher, menos confiante que antes. Por viver ali há muito tempo, sua voz tornou-se fria e rouca, tornou-se tão feia e amaldiçoada quanto o lugar que a abrigava todos os dias. – Mas preciso retornar para o outro mundo. Uma alma chegou há pouco tempo e contou-me que uma carta foi encontrada. A carta de Kaiko, o único rei que conseguiu comandar todas as Terras juntas. Em sua carta, existem enigmas que revelam a localização de sua coroa, e, aquele que encontrá-la, terá o comando de todas as Terras em seu lugar.
Segundos de silêncio. Morte pareceu respirar fundo.
- Façamos um acordo – disse Ele. – Lhe darei o primeiro enigma de bom grado para que busque-a, e lhe farei voltar ao outro mundo, mas, se outro ser encontrá-la antes, você deverá tomar meu lugar e sofrer pela eternidade.
- Que assim seja – disse Ophelia. Aproximou-se e deu um aperto de antebraços na mão esquelética que saíra do roupão preto. Um leve brilho envolveu as duas mãos e o mundo ao redor pareceu deformar-se.
De repente as cores avermelhadas se transformaram em pura violeta. O mundo pareceu maleável e dançante, como se um furacão de chamas roxas o envolvesse. Em menos de 5 segundos, Ophelia estava de volta ao mundo dos vivos. Descobriu-se à beira de uma montanha que descia bruscamente à sua frente. De lá, o mundo era menos difícil de se olhar, mas não belo como o esperado. Uma floresta de árvores secas e de galhos nus estendia-se até onde a vista alcançava. À direita, no final da paisagem, existia uma cadeia de montanhas. À frente, algumas trilhas tortuosas no terreno rochoso perpassavam as árvores. Às costas, ficava um gigantesco mar azul, e à esquerda mais floresta.
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Livro-jogo: A busca pela coroa
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