Knut(Rodada 4)

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Bum – Veio o abafado som, como se uma grande pedra estivesse chocando-se contra a parede.

Knut abriu os olhos. Dormia num colchão duro em um prédio da guarda. Girou o corpo e pegou a espada de uma mão embaixo da cama. Ele a conseguira do guarda Exilado morto, dias antes.

- Ouviu isso, Kyrot? – O velho estava na parte de cima do beliche. Ao redor, um quarto de hóspede pouco mobiliado e feito as pressas.

- Ouvi sim. – Você vai checar?

- Preciso guardar minhas energias para a batalha que se aproxima. – Knut guardou a espada dentada novamente. – Você não precisa fazer esforço porque já é velho, vá você.

- Estou ocupado.

O Gusla notou que havia uma mão que pendia para fora da cama. As unhas estavam pintadas de vermelho e uma pulseira com pedras violetas rodeava o pulso que, por sinal, parecia mais jovem que o do velho. Intrigado, Knut levantou-se e avistou duas lindas elfas. Estavam nuas e dormiam abraçadas à Kyrot.

- Seu velho tarado. O que você está fazendo?

- Após anos preso naquela porra de buraco eu finalmente consegui algo parecido com uma cama, encontro dois retratos da deusa da beleza como estes e você quer que eu levante Knut? Vou dizer uma coisa: mesmo que um exército de Exilados esteja batendo na nossa porta eu não levantarei.

Eis que um tremor correu por dentro das paredes e do piso. De repente uma densa e negra fumaça cobriu a luz do sol que entrava por uma janela. Knut caminhou até a abertura, mas antes de alcançá-la o prédio inteiro tremeu novamente.

Logo as paredes se inclinaram e estalos contínuos entregaram a frágil situação que estavam. O prédio ia cair. O Gusla correu até a janela e avistou exércitos lutando até a morte, um mar vermelho de lava e fogo brotando.

- Acho que você vai mudar de ideia Kyrot – disse ele enquanto explosões ocorriam em pontos diferentes da cidade e todas as construções cediam. Escombros e poeira se misturavam a gritos e aço chocando-se.

Kyrot saltou da cama e acordou as duas elfas no processo, que ainda estavam sonolentas. Usava apenas sua roupa de baixo.

- Porra! – Fora tudo que conseguira dizer enquanto o prédio que estava caía.

Foi uma confusão quase indistinguível. Blocos de pedra inteiros giravam aos montes e continuaram assim por um longo tempo.

Knut, por sorte, não havia ficado preso nos escombros e, minutos depois, levantou em meio àquele mar de destruição com a consciência atrapalhada. Avistou Kyrot ao longe com as pernas presas pelos destroços e muito ferido. As duas elfas haviam desaparecido, assim como sua espada.

Kyrot debatia-se enquanto a poeira se assentava. De repente o barulho de passos ecoou por seus ouvidos e ficaram cada vez mais nítidos. Dois Exilados se aproximaram do velho. Um deles tinha a armadura quebrada e ao outro faltavam alguns dentes.

O Armadura Quebrada segurava uma longa espada de duas mãos e encarou o velho nos olhos. – Mais um rebelde – cuspiu –; você vai morrer aqui.

A longa e afiada espada zuniu enquanto descia. O som da carne rasgando foi divertido aos Exilados, porém não fora o velho o atingido. Knut havia parado a arma com uma das mãos, o que lhe rendeu um profundo corte e quase lhe custara a mão esquerda. Socou o Armadura Quebrada e pegou sua espada. Sem Dentes saltou para trás enquanto o Gusla perfurava a garganta de seu companheiro.

- Consegue sair daí Kyrot?

- Vou tentar.

Mais Exilados começaram a se juntar. 8 no total.

- Vá embora Knut. Eles não vão conseguir pegar você com essas roupas pesadas.

- Você é o único que realmente sabe controlar aquela coroa. Sofreu por anos para cumprir o objetivo que o destino lhe impôs. Sua vida vale mais que a minha.

Enquanto eles conversavam, os Exilados chegavam cada vez mais perto. Todos com as armas desembainhadas e raivosos. Sem dentes esperava apenas por uma oportunidade.

- Vou puxar esse bloco de pedra e você corre! – Disse Knut. Estava de frente para seus inimigos.

- Não seja idiota – continuou Kyrot. – Você ainda é jovem. Vai quebrar a maldição da coroa.

Knut fechou os olhos por um segundo e lembrou-se dos rostos de seus pais e da miséria de seu povo. Pela primeira vez em vida um Gusla chorou. Tirou o colar que recebera de sua família ao sair da pequena vila nas Terras do Fim.

- Dê isso aos meus pais se tiver a chance – pediu ele, entregando o objeto para o velho.

Kyrot tentou protestar, mas o jovem guerreiro já estava levantando o bloco de pedra sobre seus pés. O velho ergueu-se e viu quando o Sem Dentes atravessou as costas do Gusla com uma espada.

- Corre! – Ordenou uma última vez Knut.

Kyrot fugiu com os olhos em lágrimas. Jamais imaginou que esse seria o seu destino. Enquanto fugia, olhou de relance para trás e viu 3 dos guardas caídos no chão; ensangüentados.

Porém naquela batalha os números falaram mais alto do que qualquer habilidade. Knut teve sua cabeça decepada e, mesmo assim, seu corpo ainda resistiu de pé por mais tempo do que o esperado. O orgulhoso guerreiro, mesmo após morte, se recusava a ajoelhar-se.

Livro-jogo: A busca pela coroaOnde histórias criam vida. Descubra agora