Ophelia(Rodada 3)

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     - Quem vem lá? – disse um guarda elfo a mulher. Ophelia acabara de chegar na cidade montada em seu Pégaso. Pousou-o próximo a entrada do jardim.

- Ele está montando um cavalo com asas das Terras do Céu – comentou outro guarda. Faltava-lhe uma das orelhas. – Ela deve ser uma enviada dos Celestiais. Estamos salvos!

- Isso mesmo – mentiu Ophelia. – Fui enviada para falar com o rei. Aproveitara os dias de viagem para aprender a língua das Terras Sagradas e, mesmo com um sotaque tosco, já se adaptara muito bem.

- Agora talvez consigamos vencer a guerra – disse o Sem Orelha. – Diga-me, por favor.

Ophelia desmontou e deu as rédeas de seu cavalo branco ao primeiro guarda; depois seguiu rapidamente seguindo o segundo.

- Os Exilados estão se aproximando. Pensamos que iríamos lutar sozinhos, mas finalmente a ajuda chegou – continuava o Sem Orelha até alcançarem o portão. Ophelia aproveitara para tirar o máximo de informações que pudesse do guarda. Descobrira que a população ainda não tinha noção dos acontecimentos. Que o rei andava muito ocupado e estressado. Que muitos seres de fora das Terras Sagradas tinham sido vistos por ali. Que havia boatos sobre a coroa estar na Cidade dos Elfos, e até mesmo um louco que andava persuadindo as pessoas da cidade.

Quando finalmente chegaram até o grande salão rodeado por rosas, o rei a recebera.

- Finalmente os Celestiais enviaram uma representante – iniciou o rei Ghilb. – Que os deuses nos abençoem. Quando o exército virá? A situação é crítica para nós.

Ophelia olhou ao redor. Os intendentes, o guarda que a levara, o rei e seus generais. Todos a olhavam com expectativa. Sabia que não havia outra opção senão mentir, na realidade, se a mentira lhe desce o que precisava então foda-se os desejos, esperanças e as vidas.

- Virão quando eu mandar – disse ela. – Por enquanto preciso de algumas informações. Gostaria de saber sobre um tal de Draco, que aparentemente está nesta cidade e se aproxima da coroa.

Ghilb fez um gesto com a mão direita e todos ali presentes saíram do salão. Restando apenas os dois.

- Fui notificado de um humano que atendia por esse nome que tentou comandar o meu exército. O que se passa na cabeça deles? Anos de serventia leal dos elfos, generais que nasceram e viveram aqui, que estudaram e possuem meu total respeito. E esses humanos acham que podem sair de suas Terras e virem para cá e eu simplesmente darei a eles o meu exército? Se eu estivesse presente no momento teria o matado. O que acham que nós somos?

- O senhor está certo, mas acredito que este humano esteja perto da coroa.

- Impossível – continuou o rei. – Somente eu sei onde a coroa está, só eu conheço o caminho e lhe garanto que, mesmo que alguém chegue perto, não sobreviverá para tocá-la.

- Mas senh...

- Não quero ouvir sobre esse assunto – interrompeu o rei. – Você veio para nos ajudar com o exército, não?

- Sim – preciso entender o nível de força de seus homens primeiro.

O rei conduziu Ophelia até o campo de treinamento dos soldados, onde observaram por um longo tempo o treinamento dos guardas enquanto acertavam alguns detalhes.

- Como irá convocá-los? – indagou Ghilb, enquanto observavam uma luta de espadas entre dois elfos.

- Através disso – respondeu, segurando a coleira que tinha no pescoço. – Quantos seres os Exilados possuem?

- Cerca de 5 mil. Nossos batedores disseram que eles já atravessaram a fronteira com as Terras Sagradas. Deverão chegar dentro de dois dias, talvez três.

- As defesas já estão preparadas? – indagou a maga.

- Temos elfos espalhados pela floresta. Foram enviados para matarem o máximo de Exilados que conseguirem durante a noite. Muralhas malfeitas foram erguidas, mas serão o suficiente para nossos arqueiros. Visto que os Luftíres os ajudam, mesmo muralhas de pedra não seriam capazes de contê-los.

- Então não podemos perder tempo – concluiu Ophelia. – Preciso de um aposento. Passarei as informações aos Celestiais. Deverão chegar aqui em 3 dias no máximo.

- Sinto-me aliviado pela ajuda – admitiu Ghilb, enquanto olhava cada um dos representantes de seu povo ao redor. – Todos aqui estão tensos e com medo. Sabemos que as chances são menores para nós, mas ainda temos esperança. Em último caso nós criamos um sistema de defesa. Se a derrotar for inevitável, deveremos nos abandonar a própria sorte com os Espíritos do subsolo. – Fez um gesto com a mão e Cabelos Espetados se aproximou. – Leve Ophelia aos aposentos no palácio. Ela deve ficar no melhor quarto e satisfaça todas as suas necessidades.

Cabelos Arrepiados assentiu com a cabeça e partiu.

Ghilb disse suas palavras de despedida:

- Dependemos de você.

As palavras pareceram pesar no coração de Ophelia. Fora uma responsabilidade grande demais que pegara para si. De repente suas memórias retornaram a Morte e ao submundo em que fora confinada por tantos anos. Já estava entre os vivos fazia um bom tempo e quase se esquecera do que estava em jogo. Não tinha outra escolha. Agora, com o acesso ao palácio, poderia investigá-lo melhor. Se apenas o rei conhecia o segredo, e se tantas rosas estavam agrupadas em um único lugar, com certeza a resposta do enigma estava dentro do palácio, em algum lugar. E agora tinha uma pista a mais: "Espíritos no Subsolo" – foram as palavras de Ghilb. Talvez houvesse alguma passagem embaixo do palácio, algo que possuísse ligação com aquilo.

     Em seus aposentos havia uma cama, uma bandeja com frutas e a tênue luz do final da tarde entrava por uma janela. A vista era bela. Podia-se ver o jardim, as casas e prédios, e os elfos que iam e vinham.

Tudo parecia seguir seu curso normal até que, ao longe, Ophelia ouvira vozes eufóricas e irritadas. Aos poucos a silhueta de uma multidão apareceu no horizonte. A população parecia estar se rebelando, lideradas por um humano.

"Nós sabemos sobre os Exilados!" "Vocês mentiram para nós!" "Selon nos contou tudo!" – gritavam algumas vozes mais exaltadas.

Não tenho tempo para isso – pensou Ophelia. Fechou as cortinas da passagem que dava para a sacada. Pegou uma maçã e deitou na cama, pensando em qual seria seu próximo passo.

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