Zétiro(Rodada 2)

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     Todas as ações duraram poucos segundos. A movimentação espalhafatosa de Coriane fora o suficiente para fazer o Animarum mudar sua atenção por alguns segundos. Segundos esses, que, para Zétiro, foram cruciais para que conseguisse salvar sua vida.

O Íncubo recobrou o controle de seus movimentos e pôs-se a correr. O Animarum tentou segui-lo, mas Zétiro simplesmente desaparecera diante de seus olhos. . É uma habilidade de defesa natural dos Íncubos: podem sumir da visão dos seres ao seu redor para que tenham tempo de fugir; já que são fracos naturalmente.

Três dias após a fuga, Zétiro finalmente chegara até uma estrada larga de terra batida. Seguiu-a em direção a leste até que seus olhos vislumbraram formatos pontiagudos no horizonte, atrás de algumas colinas.

Caminhava sem pressa enquanto mastigava um pedaço de abóbora que havia encontrado à beira da estrada. Pensava que talvez tivesse conseguido matar o Animarum, mas, ao julgar pelos corpos mortos e pela estranha hipnose que lhe tomara o corpo, talvez não.

Atravessando as colinas deparou-se com a Cidade dos Elfos, bela como o esperado. Enquanto seguia cidade adentro, tentava pensar em qualquer plano que lhe ajudasse a se aproximar da coroa. Sabia que a pista tinha alguma relação com os elfos, mas isso era tudo. Provavelmente poucos ali saberiam a língua das Terras dos Homens, então não adiantaria perguntar.

Enquanto caminhava por uma larga e movimentada rua, notara que olhos desconfiados lhe encaravam. Um Íncubo não era aceito por nenhuma espécie, em nenhum lugar das Terras. Já estava acostumado com aquilo.

À direita, vislumbrou uma construção chamativa, grande, bem ornamentada e com um portão largo em forma de arco. Ao redor da construção havia um jardim bem cuidado e com uma grande variedade de flores, árvores e arbustos.

Deve ser o palácio do rei – pensou. Talvez eu encontre alguma ajuda por lá. Aproximou-se da entrada onde dois guardas bloqueavam a passagem. Era dia, e os elfos seguiam suas rotinas de trabalho, diversão e estudos.

Zétiro caminhou pela multidão em direção aos guardas e sequer fez questão de esconder-se antes de se tornar invisível.

Assim sendo, ao chegar próximo ao portão, o Íncubo notou que uma grande movimentação de elfos vinha pela trilha no jardim. Abra o porta! O rei Ghilb está chegando – disse um dos guardas do portão.

O rei entrou acompanhado por seus capitães e intendentes, e Zétiro aproveitou sua chance. Lá dentro, escondeu-se atrás de uma fina parede do lado esquerdo do salão florido que servia como divisória, e observou as coisas acontecerem.

– Como o nosso exército pode estar tão despreparado? Se a época de paz e grandes riquezas fazem seres tão fracos, prefiro viver em guerra – disse o rei dos elfos.

Um elfo de cabelos arrepiados surgiu de um corredor, apressado. Segurava nas mãos um pedaço de pergaminho e parecia assustado:

- Senhor, recebemos a informação de que um exército com cerca de 5 mil exilados marcha em nossa direção. Outro, com o mesmo tamanho, segue rumo aos Anúbis nas Terras Mortas.

- Exilados filhos da puta! – praguejou Ghilb, o rei. – Envie a notícia para os Celestiais nas Terras do Céu e para Durm nas Terras dos Homens. Precisaremos da ajuda deles.

- Senhor – continuou Cabelos Espetados –; desde nossas suspeitas iniciais sobre os Exilados nós tentamos contato com eles e nunca recebemos resposta. Talvez devamos aceitar que estamos sozinhos. Átiro, o rei dos Anúbis, foi o único que nos respondeu e que, em caso de necessidade, aceitou nos ajudar; mas agora ele tem seus próprios problemas.

- Aumentem os guardas em todas as entradas e avisem a população! – ordenou Ghilb. – Todos que queiram entrar ou sair da cidade devem ser revistados. Convoquem os elfos para estado de alerta e construam as trincheiras de defesa ao redor da cidade. Fortaleçam as torres e enviem batedores para nos mantermos informados. Dalgar deve ir preparar os homens; os demais capitães e eu vamos começar a pensar nas estratégias de defesa. 5 mil é um número equilibrado para nós, podemos vencer – virou-se para Cabelos Espetados. – Talvez consigamos a ajuda dos Luftíres das Terras Selvagens? – indagou.

- Sinto muito senhor, mas parece que os Exilados já os recrutaram – respondeu o intendente.

Ghilb sentiu seu corpo todo tremer. Os Luftíres lhes davam uma enorme vantagem. – Certo – disse ele após alguns segundos de silêncio. – Então estamos sozinhos – disse enquanto retirava-se do salão acompanhado pelos intendentes.

O tempo de invisibilidade de Zétiro já havia terminado quando todos saíram do salão e o silêncio começou a ecoar pelas paredes.

Poucos segundos depois sons de passos foram ouvidos novamente. O Íncubo espiou com um dos olhos e observou um humano armado com um arco caminhar pelo salão. Parecia estar seguindo um rato. Com certeza aquele humano não deveria estar ali, parecia um caçador.

O caçador analisou o desenho da rosa que ficava parcialmente escondido por um longo tapete vermelho, depois foi até o trono do rei e começou a tateá-lo. Clic – ouviu-se o som de uma alavanca e logo depois veio o barulho de pedra pesada se movendo.

O humano buscou um archote na parede e entrou pela passagem que se abrira no salão, bem abaixo do tapete. Zétiro fez o mesmo e por pouco não teve parte de seu corpo partida ao meio enquanto a passagem se fechava.

Estava em um corredor estreito e escuro, com escadas de pedra que desciam até o negro total.

A atmosfera era empoeirada, como se a muitos anos ninguém passasse por ali.

Descendo cautelosamente as escadas Zétiro começou a observar uma luz no fim daquele túnel e, por algum motivo, começou a sentir medo. Não sabia para onde estava indo, mas sentia que seria o maior desafio que já encontrara em toda a sua jornada.

Livro-jogo: A busca pela coroaOnde histórias criam vida. Descubra agora