Elle(Rodada 2)

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Elle(Rodada 2)

- Como foi sua noite? – perguntou Helizabeth enquanto acariciava a nuca de Elle. Ambas estavam sentadas lado a lado sobre uma pequena carroça com bordas altas. A meia-fada empunhava as rédeas de dois cavalos marrons, que, por sua vez, guiavam a carroça.

- Não precisa se preocupar. Você sabe que não faço questão de carinho – disse Elle. Tinha uma expressão dura e firmava o olhar na estrada há frente. Cruzaram a fronteira com as Terras Sagradas, e agora viajavam por entre campos floridos e árvores gigantes.

Helizabeth sentiu-se desanimar. Baixou os olhos e começou a tocar o antebraço de Elle em uma parte de pura madeira-macia. – Dói? – perguntou ela.

Antes que pudesse responder, um grito de uma águia rasgou os céus. Em investida, o animal desceu rapidamente na direção das duas.

- Porra Elle! – Helizabeth tentou proteger-se com as mãos. O animal estava rápido de mais para que pudesse desviar. Em reflexo fechou os olhos, esperando o impacto. Um, dois, três segundos e nada aconteceu. Aos poucos, a mulher de cabelos negros abriu os olhos e avistou o animal parado sobre o antebraço da meia-fada.

- Finalmente você chegou Malik – conversava ela com o animal em seu antebraço. – Como foi o período de acasalamento? Você demorou muito dessa vez. – Acariciou o animal e entregou as rédeas para Beth. Pôs a mão livre em um bolso e retirou uma sacola cheia de sementes; alimentou a águia. – Agora vá – apontou para o norte –; mostre-me o caminho para a civilização mais próxima.

O animal voou majestosamente, obedecendo o comando da meia-fada.

- Podia ter me avisado antes – disse Helizabeth.

- Assim não teria graça – retrucou Elle com um sorriso de canto.

Logo os dias passaram. Seguiram uma viagem tranquila durante o dia enquanto eram guiadas por Malik, e na noite intensa mergulhavam em histórias e amores ao redor de uma aconchegante fogueira, ou em cima da carroça.

Todos os itens, mantimentos, os cavalos e até a própria carroça pertenciam à Beth. Era filha de um lorde rico e disse ao pai que precisaria de tudo aquilo para ir visitar os parentes distantes. O pai enviou alguns homens para acompanhá-la, mas quando chegaram ela já havia partido com tudo e com Elle.

- Então você suspeita que sua irmã perdida está em Albarro? – indagou Helizabeth. Viajavam faziam 5 dias, e já se aproximavam do centro da Terra.

- Sim. Investiguei seu paradeiro por muitos anos. Descobri que ela foi entregue para uma rica família que vivia por lá, mas as fadas não me permitiram encontrá-la.

- Por que?

- As fadas foram criadas pela própria natureza para protegê-la dos seres do mundo. Mas, como você deve saber, limitam-se a uma grande floresta ao sudeste das Terras dos Homens; não possuem a força necessária para protegerem o mundo inteiro como gostariam.

- Então precisam da coroa para conquistarem todas as Terras – interrompeu Beth. – Assim conseguirão poder para proteger sua criadora.

- Exatamente – confirmou Elle.

- Se isso acontecer, estaremos todos mortos?

A meia-fada ficou em silêncio.

- Você concorda com isso? – indagou Beth.

- Se eu encontrar a coroa para elas me deixarão livre para buscar minha irmã. – Elle apertou as rédeas nas suas mãos e rangeu os dentes. Já tenho uma pista. Disseram que meus cabelos eram ruivos quando me encontraram e que esverdeou com o tempo; talvez minha irmã também seja assim – disse, torcendo para que Helizabeth aceitasse mudar o rumo da conversa. Não posso me preocupar com o mundo inteiro. Tenho meus próprios objetivos – pensou.

- Então você não é tão fria quanto parece? – perguntou, ironicamente.

De repente um paredão de galhos espinhosos bloqueou a estrada, obrigando-as a parar a carroça.

Ouviu-se o piar da águia novamente, e logo ela descera para junto de sua mestra. Pousou no antebraço, como de costume, e logo começou a bicar de leve Elle em alguns padrões e intensidades diferentes.

- Parece que tem problema à frente – comentou a meia-fada. – Seis pessoas mortas, uma viva, um animal perigoso, e parece que tem duas fugindo.

Á esquerda, a mata fechada abriu-se em uma tortuosa trilha.

- Vamos dar a volta Helizabeth.

A natureza sempre ajudava seus filhos. Quando sentiram fome alimentos pareciam cair dos galhos das árvores de bom grado, maçãs, folhas de hortelã e até um javali morto apareceu no caminho. No frio, a mata parecia tornar-se mais apertada e as folhas seguravam as correntes de ar gelado, e, se perdessem a visão de Malik, as copas das árvores se abriam.

Em noites de tempestade as gotas de chuva eram seguradas por folhas e largas, e até os animais perigosos se afastavam. Em uma noite, um escorpião aproximou-se de Helizabeth e, quando estava prestes a picá-la, um pequeno macaco saltou da copa de uma árvore e engoliu o animal peçonhento em segundos.

Todas as manhãs, ao acordar, Elle ajoelhava-se diante de uma árvore e começava a falar na antiga língua das fadas; como se orasse à própria natureza.

Ó mãe agradeço-te.

Que nunca me falte força para protegê-la.

Que os seres lhe temam pela eternidade.

Que continue a cuidar-me.

Que seja eterna.

Que viva para além dos tempos.

Agradeço-te.

No oitavo dia de viagem chegaram ao topo de uma colina com uma única árvore solitária. Há frente o sol brilhante misturava-se com o belo azul do céu. Algumas nuvens brancas manchavam a paisagem, mas não tiravam sua beleza. Abaixo delas ficava um frenético poço de vida, construções magníficas e seres tão belos quanto.

- Finalmente chegamos Helizabeth: a Cidade dos Elfos.

Livro-jogo: A busca pela coroaOnde histórias criam vida. Descubra agora