Draco(Rodada 2)

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     Eis que numa tarde ensolarada, após dormir confortavelmente na grama macia ao redor da cidade, Caçador finalmente decide por em prática o seu plano. Levantou-se rodeado por árvores e arbustos verdes, cantos de pássaros e uma agradável sensação de calor. Diferente do que já estava acostumado, acordou bem-disposto, sem dores nas costas e sentindo que aquela grama era melhor do que qualquer colchão de penas.

Espreguiçou-se, fechou os olhos e absorveu os raios de sol da manhã enquanto punha-se a caminhar até a macieira que ele já conhecera.

Tinha o enigma, sabia onde deveria ir, e sabia que algo no subsolo do palácio lhe aguardava; então era o momento de começar a jogar.

Durante vários dias fez um mapa mental de toda a cidade. Encontrou várias passagens pequenas demais para que ele pudesse passar, que mais pareciam passagens de ar, espalhadas por todo canto. Um sistema de esgoto existia ali com certeza, visto que tampas redondas e pesadas de ferro eram encontradas vez por outra no próprio chão.

O curioso, era que as passagens de ar encontradas por Draco não exalavam o mau cheiro esperado. Na realidade, sentia-se um ar refrescante e sem odor.

Após passar dias se planejando e estudando,Caçador finalmente encontrara um jeito de ter acesso livre ao palácio... Havia encontrado um beco largo e sem saída na zona leste que era habitado por ratos. Ao que parece, poucos elfos entravam ali de muito em muito tempo e, de uma das janelas ao redor, a comida que sobrava era jogada. Assim o beco tinha as condições mais favoráveis para qualquer roedor.

Nessa manhã ensolarada, enquanto seguia pelas ruas movimentadas até o beco, ouviu alguns boatos estranhos: Um elfo que havia sido enganado por um humano e assim perdera suas roupas, um Animarum que estava causando muitas mortes no coração da floresta, o rei preocupando-se com a organização do exército, um Íncubo que havia sido avistado nas redondezas do palácio e simplesmente desaparecera diante dos olhos de todos, e boatos de visitantes sendo avistados cada vez mais pelas ruas.

Chegando no beco, vários ratos começaram a correr para seus esconderijos, exceto um, que havia fitado Draco bem nos olhos. Anos vivendo na selva não deu ao caçador apenas o entendimento sobre os animais, deu-lhe também a habilidade de persuadi-los a sua vontade, e assim o fez.

- Meu amigo, suspeito de uma câmara secreta embaixo do palácio e preciso que você me encontre um caminho até lá – disse ele ao rato. Este, ficou imóvel, como se entendesse cada palavra. E partiu após alguns segundos.

Horas depois o animal retornara e beliscava as botas de Draco, como se pedisse para ser seguido. Neste mesmo beco, escondido embaixo de alguns barris de frutas velhas, havia uma passagem para o sistema de esgoto. Caçador arrastou a tampa pesada com alguma dificuldade e entrou. Já suspeita que tivesse que entrar por ali, então deixara escondido no beco um pedaço de pau, pano seco, óleo de archote e duas pedras ideais para fazer fogo.

Ascendeu o archote e caminhou, seguindo sempre os olhos brilhantes do roedor. O sistema de esgoto era grande e largo o suficiente para que três elfos passassem por ali lado a lado. O cheiro, diferente das passagens de ar, era podre e incômodo.

Uma água corrente seguia seu fluxo continuamente através dos vários seguimentos que brotavam na escuridão. Andando por alguns minutos, Caçador finalmente avistou uma tampa de bueiro sobre sua cabeça. Quatro furos pequenos lhe davam uma limitada visão do mundo acima e os sons de passos aqui e acolá podiam ser ouvidos.

- Tenho que passar por aqui? – indagou ao roedor. Este, subiu pelas suas roupas até o topo e indicou a tampa com o nariz.

Esperando por alguns minutos, Draco pressionou a tampa com as palmas das mãos e empurrou-a o máximo que pôde. Fazia tempo que não escutava nenhuma movimentação, e já achava seguro sair. O roedor fedido, que antes estava em seu ombro, saltou para o cômodo.

Ao subir Draco deparou-se com uma cozinha que, ao que parece, ficava no subsolo do palácio. Provavelmente despejavam a água suja e os restos de comida ali, naquele esgoto imundo.

Archotes iluminavam as paredes de pedra cinzenta e várias portas rodeavam o lugar. – Onde fica a passagem? – Indagou Draco.

O roedor continuou seu percurso através de portas, fendas nas paredes, corredores e cômodos vazios; sempre usando seus sentidos para evitar o perigo. Caçador seguiu-o por um corredor até chegar no grande salão de entrada, onde o trono do rei ficava. O rato parou ali, escondido atrás de um jarro de flores. Uma movimentação foi ouvida.

O portão se abriu e o rei entrou apressado enquanto berrava com seus intendentes. – Como o nosso exército pode estar tão despreparado? Se a época de paz e grandes riquezas fazem seres tão fracos, prefiro viver em guerra.

Cabelo Arrepiado surgiu de um corredor apressado. Segurava nas mãos um pedaço de pergaminho e parecia assustado:

- Senhor, recebemos a informação de que um exército com cerca de 5 mil exilados marcha em nossa direção. Outro, com o mesmo tamanho, segue rumo aos Anúbis nas Terras Mortas.

- Exilados filhos da puta! – gritou Ghilb, o rei. – Envie a notícia para os Celestiais nas Terras do Céu e para Durm nas Terras dos Homens. Precisaremos da ajuda deles.

- Senhor – continuou Cabelos Espetados –; desde nossas suspeitas iniciais sobre os Exilados nós tentamos contato com eles e nunca recebemos resposta. Talvez devamos aceitar que estamos sozinhos. Átiro, o rei dos Anúbis, foi o único que nos respondeu e que, em caso de necessidade, aceitou nos ajudar; mas agora ele tem seus próprios problemas.

- Aumentem os guardas em todas as entradas e avisem a população! – ordenou Ghilb. – Todos que queiram entrar ou sair da cidade devem ser revistados. Convoquem os elfos para estado de alerta e construam as trincheiras de defesa ao redor da cidade. Fortaleçam as torres e enviem batedores para nos mantermos informados. Dalgar deve ir preparar os homens; os demais capitães e eu vamos começar a pensar nas estratégias de defesa. 5 mil é um número equilibrado para nós, podemos vencer – virou-se para Cabelos Espetados. – Talvez consigamos a ajuda dos Luftíres das Terras Selvagens? – indagou.

- Sinto muito senhor, mas parece que os Exilados já os recrutaram – respondeu o intendente.

Ghilb sentiu seu corpo todo tremer. Os Luftíres lhes davam uma enorme vantagem. – Certo – disse ele após alguns segundos de silêncio. – Então estamos sozinhos – disse enquanto retirava-se do salão acompanhado pelos intendentes.

Caçador continuou seguindo o rato até o trono do rei. Analisando-o, Draco reparou em uma pequena alavanca misturada aos ornamentos de ouro puro. Puxou-a e uma passagem se abriu no chão do salão revelando uma escada em espiral.

Pegando um archote qualquer da parede, Draco desceu as escadas enquanto a passagem se fechava atrás de si.

Livro-jogo: A busca pela coroaOnde histórias criam vida. Descubra agora