9 ¶ A volta de Lucas Hawkins

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Após aquela noite, não tornamos a nos falar

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Após aquela noite, não tornamos a nos falar. Vez ou outra nos esbarramos pelos corredores, em alguns jogos ou até mesmo na biblioteca. Você passava ao meu lado como quem passa ao lado de um desconhecido no sinal aberto de uma avenida, olhava fixamente para frente com a cabeça erguida. Eu também não fiz muita questão de chamar tua atenção, não estava no meu melhor momento e não queria causar mais intriga do que já tinha causado. Já não estava ao meu alcance nos tornamos amigos.

Lucas finalmente havia retornado e eu iria buscá-lo no aeroporto. Vale se prontificou em me acompanhar mas recusei, aquele era um momento delicado e sabia que seria difícil reencontra-lo após tantos anos. Por isso não queria ninguém comigo quando o encontrasse porque eu tinha certeza de que estaria vulnerável.

E, Caina... Eu sempre odiei vulnerabilidade.

Ficar a mercê de alguém era algo do qual eu jamais queria estar. Esse foi um dos inúmeros motivos pelo qual nunca me envolvi emocionalmente com alguém. A ideia de me apegar à alguém, me apaixonar, amar e depois me decepcionar, soava absurdamente terrível. Fora de cogitação passar por isso. Nem por experiência ou curiosidade.

Esperei por quase uma hora na sala de desembargue, suei como nunca na vida. Creio que nem se corresse uma maratona suaria tanto, estava tão nervoso e ansioso. Não via a hora de vê-lo novamente. Lucas e eu costumávamos ser unidos quando criança. Éramos bons irmãos, brincávamos, sorriamos e até brigávamos por motivos inúteis. Mas até pessoas felizes decidem acabar com a própria vida. Não dava pra explicar o que aconteceu com ele. Ou se dava, eu ainda não sabia como. Tudo aconteceu muito rápido, em um dia discutíamos pela vez no vídeo-game, e no outro, nos despedíamos no portão de casa.

— Você já é um homem ou é só uma copia do Colin Hawkins?

Ouvi sua voz acoar alto na sala. Demorou um tempo para encontrá-lo entre as pessoas, a figura masculina que surgiu entre elas trouxe consigo certa surpresa. Fora inevitável não analisá-lo dos pés a cabeça para ter certeza de que se tratava dele, de que realmente era ele. Lucas estava tão incrível! Ele já não era o garoto magricelo, baixinho com cabelos colorido. Estava alto, o porte físico quase que igual ao meu, se eu não soubesse nossa diferença de idade, até diria que possuíamos a mesma idade.

— Lucas? — balbuciei, chocado. Ele separou os lábios num largo sorriso, afirmando.

— Não vai abraçar teu irmão preferido?

Ele estava diferente e não era só na aparência. Ele parecia bem, Caina. De verdade. Sem máscara ou fingimento. Lucas aparentava estar saudável, as maçãs do rosto continham um tom rosa, os lábios bem desenhados, os olhos cheios de vida brilhando intensamente, completamente diferente do garoto magro e apático que fora arrastado para um carro e forçado a ir embora.

Correu para me abraçar.

Durante alguns segundos, pego de surpreso, tentei agir de forma controlada para não soar totalmente desconfortável. Por fim retribui o abraço, sentindo-me bem com sua presença.

Como Perdi Essa Garota? - I Onde histórias criam vida. Descubra agora