E uma noite qualquer tornou-se turbulenta, pois assim que Jay me acertou, Kart partiu pra cima dele. Eu não sei de onde ele surgiu ou como se envolveu nos meus assuntos, tudo aconteceu muito rápido. Jay e Kart brigaram feio, Caina. Uma daquelas brigas que deixa sequelas. Kart sempre gostou de brigar, até fazia aulas de boxer. Era quase que um hobby para ele. Fazia isso com bastante entusiasmo e sem muitos esforços.
Os dois se embolaram no chão, Kart por cima, o socando freneticamente. Ele não temeu ser notícia, ser expulso e manchar o futuro. Esse era o Kart Kroos. Não importava quais as consequências, contanto que defendesse um amigo, valeria a pena.
— Já chega! — o treinador interviu, ordenando para que os jogadores os afastassem. — Vocês vão se arrepender por isso! Colin, leve ele daqui, agora!
O rosto do Kart estava lavado de sangue, mas o do Jay estava bem pior. Quase que irreconhecível. Ofegantes, os dois foram arrastados para lados opostos, contra suas vontades. Insanamente Kart ria, divertindo-se das condições precárias em que Jay se encontrava.
— Vamos, irmão. — Vale surgiu ao lado dele, o segurando pelos ombros. Me posicionei do outro lado, apoiando seu braço em torno do meus ombros.
— O que deu em você? — indaguei num pensamento alto, sabendo a resposta. Kart forçou um sorriso, tossindo em seguida. Sangue gosmento escorria de suas narinas.
— Ninguém mexe com vocês. — informou, sério. — E também, aquele jogo estava um tédio. Me senti no dever de livrá-los do otário do Sherman. É questão de compaixão, cara. Não pago imposto pra ficar vendo gente ruim em campo.
Valentin riu.
— Primeiro que você não paga imposto, quem paga são seus pais. Segundo, o futebol não tem nada haver com isso. É apenas futebol! — replicou. Estávamos indo à direção do estacionamento, a noite começava a esfriar. Vale e Kart iniciaram uma discussão sobre as possíveis consequências que ele enfrentaria, mas Kart deixou claro que não dava a mínima. Ele nunca dava.
Tenho pra mim que ele estudava as leis apenas para aprender como se livrar delas. Como infringi-las.
— Colin!
Meu corpo travou e meus pés grudaram no chão. Tua voz soou distante, mas perto o suficiente para causar um frio intenso na boca do estômago. Me virei pra te olhar, parecia ofegante, os cabelos emaranhados, alguns fios voavam em frente a sua testa. O sobretudo bege te protegia da noite fria. Por que fez isso? Por que veio atrás? Devia ter me deixado ir. Deveria apenas ter desistido da gente desde o início, porque se iria fazer isso de qualquer maneira, então que fizesse isso antes de me fazer amar você.
Mas você era calculista demais para apenas me deixar ir, não é?
— Colin, vamos. — Vale chamou com o olhar fixo em você. Ele não te odiava, Caina. Ele só me amava o suficiente para saber que nós dois nos machucaríamos. Que você me machucaria.
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Como Perdi Essa Garota? - I
RomanceColin Hawkins estava com sua vida estrategicamente planejada. Centrado nos estudos e na grande paixão pelo futebol, ele se vê numa encruzilhada ao ter que assumir os negócios da família, sendo obrigado a abrir mão da liberdade e sonhos. No meio dess...