Estive tenso durante o caminho até a casa do Kart. Inquieto atrás do volante, batucando os dedos em volta do mesmo, desatento ao trânsito, ignorando as buzinas. Tantos pensamentos borbulhando na minha mente, problemas que ainda nem haviam chegado e já estavam me tirando a paz. Minha vida se tornaria um caos e eu não tinha a mínima noção do que faria. Era você, meu pai, Lucas, a faculdade... Precisava ser calmo e parecer inabalável para que ninguém ousasse me questionar. Mas aos poucos e imperceptivelmente, vinha desmoronando.
— O que está acontecendo? Por que anda tão inquieto?
— Não é nada.
Lucas soltou uma risada abafada, concentrando a atenção no caminho.
— Primeiro deixou óbvio que a Caina não podia vim com a gente, agora fica batendo os dedos nesse volante como se fosse um batuque. — comentou. — Se algo está te incomodando, fale.
— Primeiro, eu não queria que ela viesse porque nem a conheço direito, não temos tanta intimidade assim. Segundo, não estou inquieto, apenas ansioso para te apresentar aos rapazes. — menti descaradamente.
Por uma parte era verdade o fato de eu não andar com você, mas não era só isso, Caina. Ter você ao meu lado numa festa na casa de um dos meus melhores amigos seria o mesmo que colocar um alvo nas minhas costas. As pessoas iriam falar, espalhar... Poderiam até imaginar coisas que não existiam, como por exemplo: nós dois juntos.
Entende?
— Gostei dela... Ela é uma garota legal. — tornou a tagarelar após uns minutos em silêncio. Estávamos entrando na rua em que ficava a casa do Kart.
— Acho que sim... — concordei, sem demonstrar muito interesse.
— Como a conheceu?
Dei de ombros.
— Na verdade a gente não se conhece muito bem. A vi em uma festa, depois na faculdade. Só. — contei. — Hoje foi a primeira vez que tivemos uma conversa de verdade. Não somos amigos e nem temos amigos em comum.
— Você devia chamá-la pra sair. — aconselhou entre um sorriso sacana. — Vi o jeito como a olhou quando ela sentou com a gente. Parecia que estava vendo um daqueles pedaços saborosos de carne.
Revirei os olhos.
— Não seja idiota, ela não faz o meu tipo. — afirmei. E era verdade, Caina. Você não era o tipo de garota que me atraía.
Você me tirava do sério facilmente e esse já era um ótimo motivo para não te chamar pra sair.
Lucas riu, desacreditado.
— Então não há problema em eu chamá-la pra sair?
Eu neguei. Neguei porque acreditei cegamente que você jamais aceitaria sair com alguém mais novo. Só que dois dias depois Lucas te levou pra jantar. Confesso que meu queixo foi ao chão quando soube do encontro de vocês dois. Sua imprevisibilidade era quase que assustadora. Me lembro perfeitamente de como ele chegou sorridente, entrou no meu quarto e jogou-se na minha cama. Eu estava sentado na escrivaninha, terminava de fazer um relatório pra faculdade que deveria ser entregue no dia seguinte.
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Como Perdi Essa Garota? - I
RomanceColin Hawkins estava com sua vida estrategicamente planejada. Centrado nos estudos e na grande paixão pelo futebol, ele se vê numa encruzilhada ao ter que assumir os negócios da família, sendo obrigado a abrir mão da liberdade e sonhos. No meio dess...