Capítulo 12

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  Se passou uma semana desde os últimos acontecimentos, e desde então eu não havia visto Paula. Nós tínhamos dado uma pausa no projeto, que só voltaria na semana que vem, então nem pretexto de trabalho para falar com ela tinha.

  Eu estava na minha festa, aquela que minha mãe fez questão de fazer eu não sei nem pra que, mas eu estava aqui, recepcionando todos, interagindo, porém a ausência de Paula estava mexendo de um jeito comigo que eu não conseguia entender, eu ficava irritado por não vê-la, era como se eu tivesse emprestado algo para alguém e essa pessoa não ter me devolvido.

  - Será que ela não vem mesmo?- Bruna me perguntou quando estávamos só nós dois.

  - Lógico que não, Bruna, ela não tá nem olhando na minha cara, acha mesmo que ela vai vir comemorar meu aniversário?- revirei os olhos.

  - Não é só com você, ela não tá falando comigo também. Convidei ela para ir em uma boate quinta-feira e ela só responde "to ocupada"- Bruna falou- Ela deve achar que eu concordo com o que você fez com Suzana.

  - Infantil, né?- eu estava irritado.

  - Infantil nada, imagina se você descobre que um garoto tá me traindo e a família dele sabe, você não iria ficar bravo?

  Refleti sobre aquilo e percebi que Paula tinha total razão, sobre mim eu já sabia, mas sobre sua distância de minha família, notável nessa última semana, estava me deixando irritado com ela.

  - Eu só queria ver ela- falei em um tom mais baixo.

  Já fazia um tempinho que estávamos aqui, e eu, desde o início, estava bebendo tudo que aparecia pela frente, então eu já não estava mais são.

  - Por quê?- Bruna me olhou desconfiada.

  - Porque eu quero, ué, não pode?

  Antes de ela me responder eu pude ver a mulher que me seguia até em sonhos entrando pelo salão. Ela estava linda! Seu cabelo castanho estava com leves cachos nas pontas, ela tinha uma maquiagem leve e uma roupa que marcava suas curvas e a deixava mais linda do que nunca, ou talvez fosse apenas a abstinência de vê-la em minha frente.

  Seus olhos correram por todo o salão, provavelmente procurando Suzana, porém não encontrando e então virando para a direção onde eu e Bruna estávamos. Eu me senti um pouco sem graça quando seu olhar se encontrou com o meu. Então algo que eu não esperava aconteceu, ela veio em nossa direção, parou em nossa frente e me estendeu uma sacolinha, que eu nem havia reparado.

  - Parabéns novamente, muitas felicidades- ela falou com seu tom frio.

  - Obrigada- eu sorri para ela e peguei o presente, e surpreendentemente ela sorriu para mim de volta, um pequeno sorriso, porém uma grande evolução.

  - Olá!- ela deu dois beijos no rosto de Bruna- Me desculpe pela resposta ríspida aquele dia, eu estava em um dia péssimo- ela olhava arrependida para Bruna.

  - Relaxa, tá tudo bem- minha irmã sorriu a confortando.

  - Cadê a Suzana?- notei que havia algo de errado entre elas, pois Paula só a chamava de Suzy.

  - A última vez que a vi ela tinha ido ajudar minha mãe na cozinha-  Bruna respondeu- Mas vamos para a mesa, vem Breno.

  Nós fomos para a mesa e eu me sentei ao lado de Paula, agora que reparei que o gelo tinha derretido um pouco, queria tentar derreter o resto.

  - Muito trabalho?- tentei puxar assunto.

  - Normal- ela deu de ombros.

  - Você se importa de falar do seu relacionamento com o Rafa?- Bruna cara de pau disse.

  - Não, por quê?- Paula respondeu bebendo um pouco do drink que o garçom havia trazido.

  - Ele nos contou meio por cima a história do término de vocês, porém eu não entendi muito bem, você havia dito que tinha sido traumático e não pareceu nada disso quando ele falou.

  - Não foi traumático porque eu me traiu nem nada, o que aconteceu, mas eu perdoei, então não foi o motivo da separação. Foi traumático porque nós estávamos juntos há muito tempo, três anos não é pouca coisa, então nós tínhamos planos para o futuro, até em casamento a gente falava, foi a única pessoa que eu já pensei em casar. Ele foi uma pessoa muito importante pra mim porque ele tava sempre lá pra me apoiar, principalmente na época que eu estava abrindo minha empresa e era uma dor de cabeça atrás da outra, mas teve um momento que ele começou a ficar distante, dava pra reparar que o futuro que a gente visava não era mais o mesmo, então a relação esfriou e eu resolvi terminar com ele porque era muito desgastante ficar em uma relação assim- ela explicou.

  Confesso que não era nada legal para mim ficar ouvindo as histórias de Paula com o ex, principalmente por ser meu primo. Eu tinha um sentimento de posse sobre ela muito fora do comum, afinal, ela nunca foi nada minha para eu sentir isso. Já tentei justificar pensando que podia ser um sentimento de tio por sobrinha, mas o que eu sinto por ela está longe de ser familiar.

  - Rolou traição de sua parte?- acho que Bruna já não tava sã também.

  - Não, eu nunca faria isso.

  - Eu vou buscar bebida- Bruna disse e saiu da mesa.

  Paula e eu continuamos ali em silêncio, mas fomos surpreendidos quando, sem querer, eu deixei cair meu drink em sua roupa.

  - Mil desculpas- eu peguei um guardanapo e comecei a passar em sua blusa.

  - Calma, Breno, vai estragar mais ainda- ela segurou minha mão e olhou o estrago- É branca, eu não posso ficar assim.

  - Vem, vamos lá em casa aí eu te empresto uma minha- falei puxando sua mão.

  Ela me olhou incrédula pela proposta, porém não deu dois minutos já tava me seguindo. Nós fomos em direção ao elevador.

  - Porque não de escada?- ela me perguntou.

  - Eu to bêbado, fia, se eu for pela escada é capaz de cair.

  Ela riu e entrou no elevador comigo. Nós ficamos um de cada lado esperando até chegar no andar. Quando chegamos lá fomos para o meu apartamento.

  - Tira aí- falei olhando para ela.

  - Enlouqueceu, menino?- ela me olhou com as sobrancelhas franzidas.

  - Não seria nada mau, mas pode ir lá no meu quarto e escolher qualquer blusa que quiser.

  Ela me mostrou o dedo do meio e foi em direção ao meu quarto. Eu fiquei na sala rindo de sua reação, porém minha vontade era entrar em meu quarto e beijar ela.

  Ela voltou de lá vestindo uma camiseta minha amarrada na região da barriga e com a sua em mãos.

  - Posso deixar ela de molho aqui?- perguntou.

  - Claro, pretexto pra vir me ver- eu sorri zoando ela.

  - Me mostra onde fica a lavanderia.

  Eu levei ela até o local, ela pôs sua blusa em um balde, botou alguns produtos e então nós fomos em direção ao elevador. Quando estávamos lá dentro, o elevador deu uma parada brusca, acredito que havia travado.

  - Não me diga que travou- Paula pôs a mão no rosto.

  - Não travou.

- Sério?

  - Você pediu.

  - Não da pra conviver com você bêbado mesmo.

  Ela virou de costas para mim e tudo que eu conseguia pensar enquanto encarava seu corpo de cima a baixo era: "eu to ferrado".

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