Capítulo 4

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  Estava sentado no meu escritório, analisando algumas propostas de projetos, eu já tinha lido uns dez, mas como nenhum havia me interessado fui passando para meus colegas. Uma característica profissional minha, é que eu jamais farei um projeto que não me atraia, que não me desperte interesse, então sempre fui muito seletivo, e por ser um dos melhores arquitetos aqui da empresa, meu trabalho é muito requisitado, chegando muitas propostas diretamente para o meu e-mail, ao invés do da empresa.
  Continuei olhando os e-mails e teve um que me atraiu, era para projetar uma indústria, o e-mail havia sido enviado por uma empresa chamada "Segredos da Fazenda" que tinha matriz em Belo Horizonte. Como me interessei, resolvi enviar um e-mail para a empresa agendando uma reunião. Logo eles responderam que a reunião poderia ser hoje mesmo, as 15:00 da tarde, pois já havia uma pessoa aqui na cidade responsável por organizar tudo para a construção da nova indústria.

  Fiquei estudando a sugestão do projeto até que se aproximou do horário da reunião, eu tinha marcado aqui na empresa mesmo, então estava apenas esperando a pessoa chegar.

  - Senhor Breno, a senhorita já chegou para a reunião- minha secretária disse na porta do meu escritório.

  - Ok, já vou!

  Ela saiu e logo eu peguei minhas coisas e saí também indo em direção a sala de reuniões que se localizava no mesmo andar que meu escritório. Ao entrar lá, pude visualizar uma mulher de cabelos longos e castanhos sentadas em uma das cadeiras de costas para a porta.

  - Desculpa a demora- disse chamando sua atenção.

  Quando ela virou o rosto em minha direção, eu me assustei e não acreditei no que estava vendo. A pessoa que eu iria trabalhar era Paula, a desgrama da sobrinha da Suzana que eu queria fugir a todo custo.

  - Me desculpe pela surpresa, não esperava que fosse você- ela me olhava com uma cara surpresa.

  - Eu também não- respondi e já fui me direcionando a mesa e arrumando meus materiais- Eu estava estudando a sua proposta e tive muitas ideias para o projeto, sei que não fechamos ainda, mas garanto que se a parceria acontecer você vai sair satisfeita.

  Ela me olhou profundamente e levantou levemente a sobrancelha esquerda, me lançando um olhar quase irônico.

  - Eu sei que pode soar pretensioso, mas é que eu gosto muito de me emprenhar nos projetos, dou sempre meu melhor- expliquei.

  - Não tenho dúvidas disso- seu tom de voz parecia mais sexy que o normal- Você poderia me falar sobre suas ideias?

  - Claro!

  Mostrei todas as ideias que tive para ela, e acredito que foi agradável, pois seu rosto transmitia satisfação a cada ideia que eu compartilhava. Ela também falou sobre algumas coisas que gostaria que estivesse incluída no projeto, e parece que aquela mulher se tornou ainda mais sensual falando séria, e cada vez que seus dedos ajeitavam seu óculos de grau eu me perdia um pouco no que estava sendo dito.

  - Me agradou muito suas ideias- ela deu um pequeno sorriso- Vamos fechar o contrato?- ela me estendeu a mão.

  - Lógico, vai ser um prazer!- eu apertei sua mão olhando diretamente em seus olhos e senti meus pelos se arrepiarem.

  O seu celular tocou, cortando nosso contato visual e manual.

  - Desculpa- ela disse.

  - Relaxa, já acabamos, pode atender tranquila- sorri para ela.

  Enquanto ela falava no celular, eu guardava minhas coisas, pois a reunião durou o suficiente para o meu turno chegar ao fim.

  - Tá tudo bem?- perguntei.

  - Tá sim, Suzy me ligou dizendo que vamos jantar na sua casa.

  - Ah. Você tá de carro?

  - Não, to sem carro aqui, ficou lá em BH.

  - Então vem comigo- baixei um pouco o tom de voz ao soltar essa frase com um pouco de receio.

  - Não precisa, eu vou de aplicativo mesmo.

  - Até parece, né? A gente está indo para o mesmo lugar, não custa nada- falei tentando convencê-la.

  - Ok, vou aceitar a carona- ela sorriu para mim e nós fomos para o corredor.

  - Só me espera um pouquinho que vou ali desligar o sistema do meu computador- fui até minha sala e ajeitei tudo, voltando rapidamente- Pronto, vamos?

Ela apenas acenou com a cabeça e me seguiu até o elevador. Enquanto estávamos lá dentro, me preocupei em manter uma distância segura de Paula, o que se tornou inútil quando o elevador foi enchendo cada vez mais, fazendo nossos braços entrarem em contato direto e roçando cada vez que o elevador balançava o mínimo que fosse. Eu já estava começando a ficar nervoso, estava suando e engolindo seco.

  Olhei para Paula discretamente, queria ver como ela estava lidando com a situação, e quando virei meu rosto para olhá-la, me surpreendi com o que vi, Paula parecia estar na mesma situação que eu, tinha as bochechas vermelhas e a veia do pescoço saltada, reparei também no tanto que ela apertava a bolsa que estava em sua mão.

  - Tá tudo bem?- questionei bem descarado.

  - Muita gente- ela falou e respirou fundo.

  Quando finalmente chegou no térreo, todos foram saindo e um alívio tomou conta do meu corpo, até eu lembrar que teria que dividir o carro com essa mulher por pelo menos 15 minutos. Nos direcionamos até o carro, eu entre no banco do motorista e Paula no passageiro. Dei partida no carro e pude notar a tensão quase palpável instalada ali.

  - Quer balinha?- falei brincando, fazendo ela rir e a tensão ser quebrada.

  - Quanto vai sair a corrida?- ela entrou na vibe da brincadeira.

  - Pra você? Acho que um jantar na minha casa- falei como brincadeira, mas ela poderia interpretar como sério, então fiquei um pouco apreensivo.

  - Seu dia de sorte, vai ser pago à vista- fiquei tranquilo ao ver que ela levou na zoeira.

  - Suzana sabe que você vai direto?- perguntei.

  - Sim, falei pra ela que iria a cara do cão mesmo- ela riu após soltar essa frase.

  - Até parece- ri junto com ela.

  Eu achei que seria difícil esse momento a sós com ela, porém pude perceber o quão divertida Paula é. É impressionante que sua vibe combina exatamente com a minha, em pouco tempo pude ver que ela gosta da zoeira e não tem frescura nenhuma.

  Fomos o resto do caminho ouvindo música, Paula cantava baixinho, e de vez em quando eu a olhava e via que tinha os olhos fechados, cabelos balançando devido ao vento e um leve sorriso no rosto.

  Linda, tudo que eu conseguia pensar!

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